Um Serviço Vazio de Sabedoria

Dois amigos caminhavam no meio de um milharal. Eles conversavam sobre várias coisas. Enquanto conversavam, olharam sobre os milhos e, de repente, viram passar duas jandaias próximas a eles e uma delas, não conseguindo desviar de um coqueiro, bate-no e  cai no chão. Os rapazes foram ver o que houve; no entanto, chegando ao pé de coco, viram a pobre que já "estava nas últimas." Averiguando que a ave viera a óbito, um daqueles dois amigos, lembrando-se de que sua mãe tinha um aparelho pra fazer exames nos animais, viu a possibilidade de saber o motivo da morte do pássaro.

Como ficou difícil levar a jandaia inteira para fazer o exame, tiraram apenas uma das pernas dela. Na estrada tinha uma blitz do "Órgão de Defesa dos Animais e do Meio Ambiente" fazendo barreira com muitos agentes. Quiseram saber, com detalhes, porque estavam com aquele resto mortal proibido. Eles tiveram que contar toda a história:

"Enquanto conversavam, olharam sobre os milhos e, de repente, viram passar duas jandaias próximas a eles e uma delas não conseguindo desviar de um pé de coqueiro,  bate-no e  cai no chão. Eles foram ver o que houve.  No entanto, chegando ao pé de coco, viram a pobre que já "estava nas últimas." Averiguando que a ave viera a óbito, um daqueles dois amigos, lembrando-se  de que sua mãe tinha um aparelho pra fazer exames nos animais, viu a possibilidade de saber o motivo da morte do pássaro".

Todo o interrogatório, sendo explicado com os mínimos detalhes, demorou mais de uma hora até que fossem liberados pelo  "Órgão de Defesa dos Animais e do Meio Ambiente".

No caminho, um dos amigos lembrou de ligar para sua mãe, pra falar da jandaia. Todavia, descobriu que sua matriarca havia viajado e não podia atendê-lo.

Com o desencontro da mãe, buscaram auxílio em um posto mais próximo pra fazer o exame na tentativa de descobrir a causa da morte da ave. Com isso, eles chegaram no local que não era posto, mas sim, o escritório da Defesa dos Animais.

Para surpresa dos jovens, chegando lá às oito horas da manhã, encontraram uma sala com vários livros espalhados pelo chão e tendo em vista não haver salas pra colocar todos os livros, tiveram portanto, que andar sobre eles.

Os jovens vendo tudo aquilo, já ficaram  apreensivos porque tinham que caminhar sobre toda aquela sabedoria. Como o departamento em que eles tinham que levar a perna da jandaia pra fazer o exame ficava em uma das últimas salas, necessariamente, deram-se ao luxo de caminhar sobre toda a intelectualidade daqueles livros.

Chegando na sala, descobriram que era só um documento que precisavam para poder encaminhar a perna da jandaia a outro laboratório.

E nisso, todos os agentes estavam esperando, sem trabalhar, apenas à espera de duas funcionárias terminarem de tirar todos os livros da sala e limpar o recinto. Neste tempo de espera, os agentes ficavam reunidos conversando e assim que as jovens liberavam as salas, começavam seus trabalhos. Porém, já eram 10 horas da manhã quando chega mais um dos agentes. Aliás, ainda estavam as duas mulheres carregando os livros e que por sorte, nenhum dos agentes ajudavam-nas. Todos se ocupavam da mesma realidade: "conversar uns com os outros até as jovens terminarem seus ofícios por volta das 11 horas da manhã, exatamente a hora em que chegou um novo agente pra atender os jovens".
 
Na medida em que viu o material trago pelos rapazes, ficou questionando porque estava daquele jeito e emendou que não poderia ser daquele modo. Foram interrogados novamente para o agente saber o que eles estavam fazendo com um objeto proibido. Os jovens tiveram que contar toda a história pra ele:

"Enquanto conversavam, eles olharam sobre os milhos e, de repente, viram passar duas jandaias próximas a eles e uma delas não conseguindo desviar de um pé de coqueiro, bate-no e  cai no chão. Foram ver o que houve, no entanto, chegando ao pé de coco viram a pobre que já "estava nas últimas." Averiguando que a ave viera a óbito, um daqueles dois amigos, lembrando-se  de que sua mãe tinha um aparelho pra fazer exames nos animais, viu a possibilidade de saber o motivo da morte do pássaro".

Ao terminar o relato já eram 12 horas. O estabelecimento deveria fechar pro almoço - foi o que o novo agente avisou: "o laboratório só funciona a  partir das 14 horas". Enquanto eram informados do horário do laboratório, chegou uma outra pessoa pra colher o material, a qual diz-lhes  que o exame ficaria pronto às 15 horas. Esta pessoa não era um agente público, ao passo que, trabalhava para uma empresa terceirizada pelo governo.

Na hora prevista, os jovens foram buscar o material que ficou pronto às 16 horas; o atraso foi de exatamente uma hora. No resultado do exame estava escrito em letras maiúsculas: MORTE SÚBITA. Com o informe, os jovens foram, cada um pra casa seguir suas vidas normais.

Vendo tudo aquilo acontecer durante um dia inteiro, eles foram questionar com suas consciências, que no trabalho público, onde tem mais de dez fucionários, o trabalho ainda não segue. Porque eles chegaram lá às oito horas da manhã, saíram  às 17 horas e não tinha mais ninguém pra ser atendido. Nem tinham outras pessoas pra reclamar do mal atendimento. Dez pessoas sem fazer nada e as outras nove com "conversas fiadas" o dia todo.

Por fim, recordaram que aquela perda de tempo para organizar os livros e o desrespeito para com os mesmos,  representava o próprio trabalho dos agentes e atendentes, pois não havia produção; e  com isso, podiam ocupar-se com qualquer coisa. Eles esperavam a sala ser desocupada com a sabedoria para iniciarem seus trabalhos, apenas ficavam com as leis que tinham para desempenhar seus labores.

Assim foi o sonho de um jovem que tinha em seu quintal uma gaiola com muitas calopsitas e em sua casa uma biblioteca cheia de livros. O jovem era um livro ainda sendo escrito.

@Padre Joacir d'Abadia, Filósofo autor de vários livros