Um menino de Itapagipe
Por Edjar Dias de Vasconcelos | 15/06/2012 | PoesiasEra um menino.
Usava chapéu de palha.
Adora a natureza.
Sentia o cheiro do campo.
Quando o sol surgia.
Entre as montanhas.
Olhava o amarelo.
Na copa das árvores.
Aquele menino.
Amava tanto.
O campo.
Que chorava.
Com a brisa
Dos entardeceres.
Quando partiu.
Ele despediu.
De cada árvore.
Olhava as águas.
Do rio.
A serra da moeda.
A bela fazenda.
Em que se viu nascer.
Naquelas partes.
Do triângulo mineiro.
As tardes.
Solitariamente.
Caminhava por trilhos.
E olhava as relvas verdes.
Adorava os penhascos.
Era um menino.
Que fora cuidado com carinho.
Tomava muito leite.
Adorava coalhada.
Milho de pipoca.
Doce de amendoim.
Queijo ralado.
Frango com quiabo.
Milho cozido.
E carne assada.
Era um menino.
Tinha seu cavalo mascarado.
Andava de carro de boi.
Comia mangava.
Jabuticaba.
Doce de mamão.
Arroz com leite.
E macarronada.
Aquele menino.
Todas as tardes.
Caminhava.
Beira ao rio.
Olhava.
Os bois pastando.
Naquele tarde.
Quando o sol sumiu.
Pensava na serra.
Da moeda.
Naquele rio.
Bela fazenda.
De Itapagipe.
Foi lá.
Que nasceram
As primeiras páginas.
Da alegoria.
Das estatuas.
Numa tarde.
Para ele mesmo.
Perguntou.
Por que?
O ser.
E não o nada.
Quantos anos passaram.
Sem responder.
Um dia sem querer.
Pensou naquela tarde.
Dos seus oito nos.
Quando era criança.
Dizia desconfiar do ser.
Perdeu-se o chapéu de palha.
Foi embora.
Para nunca mais voltar.
Mas foi naquela fazenda.
Que tudo teve início.
Na cidade de Itapagipe.
Por isso que.
Mais tarde.
Aquele menino pediu.
Que colocasse.
Na tal fazenda.
Uma estátua.
Em homenagem
Ao paraíso perdido.
O suposto dialogo.
O mundo das estátuas.
O último dos sonhos.
A maior das homenagens.
O menino ainda era criança.
Durante a vida toda.
Soube apenas ser.
A eterna criança.
Mesmo estando crescido.
Foi esse o melhor dos fatos
Que se pode acontecer.
O mundo das estátuas.
Edjar Dias de Vaconcelos.