Em um dia destes, eu senti saudades da cultura Formosense que lê e que vive cultura. Sentado em um restaurante de prestígio eu me vi sozinho: não tinha levado meu celular. Eu era companhia para mim mesmo. Nada perverso, ao passo que aprecio de minha companhia! Ligeiramente eu me ocupei com o meu pensar.

De pernas cruzadas fui abrolhando vida a um guardanapo que ao invés de limpar a boca eu fui limpando minha consciência de tudo que havia convivido naquele dia, autorizando apreciar o que estava sobre a mesa: azeite, sal, jarra de flor – flor de plástico-, guardanapos e a numeração da mesa: 02. 

Armazenei meu raciocínio dentro de um prato naquele guardanapo: sentado em uma poltrona – sofá que ladeava uma mesa que esperava quatro pessoas. Contudo, “só eu e você caneta estamos aqui”, ponderei. Por ser esperto, para não perder o juízo e deixar os sentidos seguir meus passos, eu não iria dizer um “não” ao cardápio: aceitei-o de bom grado. 

Porém, no restaurante não era disponível um jornal e nem mesmo livros aos clientes. A música me amparava, pois jazia bem ao nível de um bom recinto de leitura, ela arrazoava de episódios adequados; a atmosfera autorizava um passeio através dos filmes nos quadros e no cardápio, contudo, não tinha TV. 

Extremamente truanesco! Cômico de fato! Desde a decoração ao cardápio rememorava cinema, todavia, não tinha TV. Alias, até se podia passar por sobre um tapete vermelho e ir adentrando passando por certo corredor pintado de preto. Tudo, tudo mesmo! Levava-me a pensar em realizar uma boa leitura ou ver imagens dos filmes que por ora era relembrado. Talvez eu quisesse muito! Muito mesmo: uma estante dos livros que viraram os filmes que ali decorava, e, por que não ter as imagens daqueles filmes?! Ops! Não tinha TV.

Nada foi o que meu sonho desejou. Não tinha TV. Fui levado para outros mundos, há outros recantos: recordei Buenos Aires! Viajei! Mas tive que voltar aos retiros mais próximos: estava eu andando pelas ruas de Alto Paraiso onde encontrava, em vários pontos, uma pequena biblioteca, seguindo e passando pelas lojinhas fui encontrando livros sobre extraterrestres, filosofia, religião, duendes, experiência dos povos; ainda caminhando, encontrei uma igreja onde tinha uma prateleira com livro de Filosofia, Teologia, e, Deus meu! Encontrei um livro de Nietzsche. Ufa! Estou em Alto Paraiso, pensei. Tão logo fui dissuadido de tudo isto: era tão somente uma excursão aleatória. Era um sonho, pois.

“Até o mundo acabar” eu irei acordar e encontrar em Formosa Goiás um lugar para eu chamar de Alto Paraíso ou mesmo de Buenos Aires porque encontrei cinema, sem ter; passei por tapete vermelho, sem ser para ver filmes; fiquei entristecido: não tinha TV; não tinha livros. Porém tinha um Filósofo que mesmo abatido sabia amar o que era cômodo. 

Desejo, sobremaneira, que tenha o que amar para você recomeçar porque não tem TV; tem pessoa que ama. Isto basta! Eu desejo que tenha ainda mais lugares para recomeçar uma cultura diferente em nossa cidade; desejo que tenha livros, antes pessoas para ler.

Ao ir embora eu deixei a caneta que pedi emprestada, ao dono do recinto, dentro do prato, ao passo que aquela ocasião foi para mim um jantar com as letras.

Padre Joacir d’Abadia , Filósofo autor de vários livros e membro das Academias de Letras “ALANEG” e “ALBPLGO” / WhatsApp (61) 9 9931-5433