O título deste texto é para mim muito caro e denso em conteúdo, quase uma receita promissora de vida. DEUS, como ser infinito que é, necessariamente é onisciente, onipresente e onipotente; ou seja absolutamente pleno. Dito desta forma fica óbvio o título acima, no entanto o risco para o qual a frase alerta, está em uma tendência perigosa da nossa pulsão de vida a subestimar no cotidiano verdade tão óbvia. Quantas vezes nos vemos distraídos, tão absortos em nosso ponto de vista, que sequer imaginamos a possibilidade de estarmos enganados. Nestes momentos de confiança excessiva será que não estamos nos atribuindo a propriedade da onisciência!? E quando sofremos diante de um acontecimento desastroso, sobre o qual nos sentimos “impotentes”, será razoável a suposição inicial de querer ser capaz de poder algo acima de nossas existências? Será que estamos sofrendo pela ilusão da onipotência!? E quando algo ruim acontece e lamentamos não ter estado presente para atuar? Não estamos de novo querendo a impossibilidade da onipresença!? Ou seja, parece que temos de fato a incrível pretensão de ser DEUS, mas o alerta já foi feito há mais de dois mil anos, jamais seremos PLENOS, pois a plenitude é divina!

       Ora se não somos plenos; as falhas, incompletudes, inexatidões e imprecisões estarão sempre a nos rodear. Rejeitá-las nada mais seria do que uma atitude imatura (cerca de dois mil anos atrasada) frente a vida. A possibilidade de erros e incompletudes são um karma definitivo da nossa existência; contudo não há dúvida que a racionalidade é amplificada pela boa vontade, que pode garantir um índice de acertos muito superior aos nossos erros. Com boa vontade falhas podem se tornar absolutamente raras!!! Diz o ditado que “de boa intenção o inferno está cheio”, com certeza um ditado muito equivocado. Se a boa vontade reduz os erros, nem ela garante a plenitude, pois reduzir não é eliminar. E não é todo dia que podemos contar com a opinião divina.

      Então, como fazer para se imunizar das falhas? Individualmente somos muito mais frágeis do que em grupo, pois supondo toda uma equipe bem disposta, e tornando a análise das tarefas algo coletivo, numa atmosfera de igualdade e liberdade de opiniões, a possibilidade de erro cai a um nível desprezível. De novo se fará necessário que ninguém do grupo se atribua a plenitude, especialmente reservada a DEUS!! Em um ambiente de debates e adversidades ideológicas livres e igualitárias, com a valoração à qualidade das decisões coletivas sobre qualquer individualidade, a dialética logo se estabelece nas livres opiniões humanas, é a garantia da minimização e atenuação dos erros possíveis. Um debate construtivo prescinde que todos estejam abertos a se corrigir, e ao mesmo tempo estejam dispostos a apontar nos outros pontos de melhoria. De toda forma os outros são o antídoto para nossos próprios erros!!

     Mas qualquer que seja o debate, mesmo nas melhores equipes, ainda ocorrerão erros eventuais. Como lidar com os erros? Um outro ditado popular diz que “não se deve varrer a sujeira para debaixo do tapete”, este sim um ditado muito correto!  Desta forma a pior maneira de lidar com um erro é escondê-lo. Muitas vezes a pretensão absurda da plenitude faz com que o erro seja inocentemente desprezado, no entanto a verdade é que o erro pode ser uma excelente oportunidade de avanço e aperfeiçoamento. Em uma gestão eficaz deve-se minimizar os efeitos desastrosos dos erros enfatizando as grandes possibilidades de evolução através dos mesmos. É imprescindível a valorização das lições que podem ser aprendidas através das falhas, fazer da história dos erros a salvaguarda que garanta a não repetição dos mesmos. Por isto só a pretensão da plenitude é capaz de subsidiar a crueldade das punições de enganos eventuais sem dolo. Somente o erro proposital é digno de reprimenda, o erro sem dolo ocorrerá pelo simples fato de que “não se é possível ser DEUS”.

      Caso ocorra um erro, o que priorizar? Atribuir culpa ou buscar a solução? Outra tarefa importante diante de falhas é a prioridade errônea que normalmente se dá à atribuição de culpa. Não que atribuir culpa seja algo falho, na verdade é imprescindível para aprender, entretanto isto não é de maneira alguma urgente. Aliás a urgência é venenosa a uma boa análise, seja do erro e suas origens e mais ainda para a atribuição de culpa. Então é óbvio que, diante das consequências desastrosas de uma falha, toda a energia psíquica seja guiada prioritariamente para a solução do problema, postergando para um momento mais oportuno a análise da culpa, a qual costuma ser bem mais complexa do que a aparência superficial deixa perceber.

     A correta avaliação do erro deve ser feita focando na causa do mesmo, pois esta sim é da competência do sujeito. Lamentavelmente em análises apressadas ou pouco cuidadosas a avaliação é focada nas consequências do erro, as quais nem sempre podem estar totalmente relacionadas a gênese dos mesmos. Há grandes erros com pouca ou nenhuma consequência, tanto quanto há pequenos erros de consequências catastróficas. Novamente não cabe ao indivíduo a plenitude da eleição das consequências, sendo mais próprio ao ser humano a causa de seus erros. Podemos interferir na causa, a consequência depende de mais fatores típicos da onipotência. “Errar de fato é humano” fingir que não se erra também é, porém este deve ser o maior erro de que se pode ser vítima; o incrível erro de se pretender DEUS.