Um facho de luz em cima do Sr. Amaro


Ivan H. Roberto 30.01.2010/25.02.2010


O Sol ainda está adormecido, com as costas viradas para nosso hemisfério. A Lua já se retira, mostrando seu lado oculto para o escuro insondável, sua pele antiga e enrugada está mais pálida nesta distância e com esta luz diáfana. Alvorada, a hora mais misteriosa do dia. Para os que já estão despertos é o momento dos sentidos estarem mais aguçados, é o instante de perceber as sutilezas dos intervalos, o momento de captar os indícios camuflados. Os sons amortecidos percutem os tímpanos com delicadeza, seria um insulto sem tamanho ofender o silêncio que permeia este dia que nasce tranquilo. Sons harmônicos superiores estão disponíveis para os ouvidos treinados e as frequências de ondas que revelam as cores, ainda com preguiça, vão se esticando até chegar a seu tamanho usual. O vento ainda vestido de brisa mal tem forças para remexer os cabelos soltos, com certa dificuldade arrasta um pouco da umidade deixada pela noite. Os cheiros desta manhã que emerge de uma noite comum são pouco perceptíveis, não despertaram ainda, e carregam consigo a mesma preguiça que as cores trouxeram desta noite comum. Logo os aromas e os odores da vida urbana atravessarão os narizes adormecidos, marcando de forma sutil os pontos, que ligados de forma correta, traçam o mapa por onde os seres humanos se localizam, embora não percebam este fato de imediato, pois os olhos e os ouvidos trazem a primazia dos sentidos. Apaguem as luzes e a maioria das pessoas perde o prumo e a direção, mesmo que não esteja tão escuro.

“Por que toda esta calma, toda esta placidez está me envolvendo, se quase não consegui dormir nesta noite comum? Por que esta luz calma e atenuada, que evita agredir as retinas, me cerca de forma amável, se meu humor não despertou nesta manhã? Não só nesta manhã, pelo que pude perceber há tempos que meu humor não desperta. Não consigo descobrir o motivo, assim como não quero ajuda para descobrir o motivo. Um acúmulo de sedimentos foi se depositando nas partes mais baixas de minha persona, e assim pequenos rancores que poderiam ter se dissipado no momento oportuno ficaram grudados ad infinitum e haja humor para removê-los. Estou me tornando uma companhia insuportável, por vezes estou difícil até para mim mesmo. Quando os primeiros raios de Sol apareceram eu os maldisse, do jeito que eu estava uma chuva torrencial combinaria melhor com este despertar sobressaltado depois de uma noite não dormida. Os primeiros cantos de pássaros chegaram com a alvorada, e eu ali de pé próximo à janela, completamente solitário”.

“ O céu claro me oprime, o vento me arranha, o canto dos pássaros me agride os ouvidos pela manhã.. No entanto eu me sinto bem, estranhamente bem. Quis criar esta capa protetora, esta é a verdade, quis criar esta concha que se endurece com os sedimentos de pequenos rancores, que fui germinando e deixando crescer, meu pequeno jardim suspenso ao meu redor. Já não consigo mais discernir o momento em que este processo tomou a frente”.

Por volta das 6:30 hs o chiado da cafeteira serviu como um segundo despertar. O cheiro familiar dissipou um pouco daquele torpor persistente e envolvente, que apertado como uma camisa-de-força e justo como uma segunda pele mais conveniente e menos conhecida, se tornara uma presença e uma condição mais constante na vida deste ser que se desbotava, que se retirava pouco a pouco. O sono entrecortado e sobressaltado alimentara este torpor narcotizante, lembranças fugidias dos sonhos truncados se justapunham às tarefas cotidianas que, inconvenientes, teimavam em tomar a frente daquele cérebro cansado.

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“Energia! Energia e vitalidade! Bom humor é a semente que faz brotar os bons instintos, alegria,alegria!

Por que tive vontade de rasgar a página daquela revista vazia quando li estas exortações? Por que me pareceu tão falso? Teria sido melhor rasgar a página e engolir, será que eu teria absorvido toda esta energia apregoada? Ô sala de espera mais idiota, tudo tão claro e reto, as gravuras combinavam tão bem que quase me dava ânsia de vômito”.

      • Sr. Amaro, queira entrar por gentileza. O Dr. Cerezer o aguarda.

Com uma dificuldade desproporcional ao peso que tinha, o Sr. Amaro quase se arrasta em direção ao consultório do Dr. Cerezer. Desaba em cima da fina cadeira reservada aos pacientes e aguarda as indagações do médico.


            • Boa tarde Sr. Amaro, é sua primeira consulta comigo pelo que vejo. Qual sua queixa?

            • Eu não me queixo, quem se queixa são os outros.

            • Como assim, peço que explique um pouco melhor.

            • Eu não sinto nada de errado, mas minha mãe diz que está preocupada pois ela diz que eu estou muito fechado e mal humorado todo o tempo. Eu só não quero ficar falando quando não acho que deva falar.

            • E só sua mãe que lhe diz isto ou mais alguém que tenha reparado?

            • Eu não convivo com muitas pessoas, sou uma pessoa reservada.

            • Mas não há queixas mais concretas, dores, palpitações, dificuldade de digestão?

            • Não, doutor.

            • Qual sua idade Sr. Amaro?

            • Cronologicamente tenho 54

            • O Sr. Tem bons hábitos alimentares, faz exercícios regularmente, é fumante? Toma algum medicamento de uso contínuo?

            • Doutor eu deixei de dar atenção ao que dizem, não fumo mas já fumei e odeio pensar em fazer esforço, ficar suado, acho horrível.

            • Deixe-me examiná-lo....Sua pressão está um pouco alta, mas nada demais, sua respiração está um pouco acelerada, talvez seja falta de condicionamento físico...Vou pedir alguns exames.

            • Doutor, eu não vou fazer, eu não quis vir aqui, não me sinto mal, só não quero conversar com ninguém.

            • Certo, você não é obrigado a fazer. Eu sugeriria um encaminhamento para um psicólogo, poderia ser mais proveitoso.....

            • Tenha um bom dia doutor, pois o meu não está sendo!

E lá se vai o Sr. Amaro porta afora, indignado com tanta intromissão em sua vida. Ele pertence aquela categoria de seres humanos que contradizem uma característica marcante da espécie humana, a de serem gregários. Este traço sempre foi marcante em toda sua vida, desde criança manifestou uma introversão excessiva e uma dificuldade de relacionamento, e que pouco melhorou em sua vida adulta. Era um estudante solitário e se tornou um trabalhador solitário, tradutor por profissão, recebendo seu material por correio, com pouco contato com os contratantes, apenas profissionalmente. Jamais conseguiu estabelecer um relacionamento afetivo, muito menos amoroso.

As décadas foram atravessando seu caminho, a idade batendo em sua porta, e sua vida social foi se atrofiando sempre um pouco mais a cada ano novo celebrado com fogos de artifício. Ele estava definitivamente fora do padrão de comportamento tido e havido como normal, criara sua concha protetora com quase tudo que fosse preciso para depender o mínimo que seja das outras pessoas. A grande metrópole moderna é um bom esconderijo para os arredios, os sociofóbicos, escondidos no anonimato. Dentre milhões quem poderia se importar com um sujeito calado e esquisito, sempre de rosto sério, onde um sorriso era presença tão rara quanto uma aurora boreal nos trópicos. Penso mesmo que, se um dia o Sr. Amaro desse uma gargalhada seu rosto poderia sofrer uma perigosa distensão.

As pressões para se manter um comportamento aceitável, segundo os padrões aceitos pela sociedade, são com frequência excessivas para muitas pessoas, que não se enxergam e não se encaixam naquelas trilhas estreitas, a diversidade, que deveria ser enaltecida e exaltada, parece ter nascido há tão pouco tempo que nem foi anunciada com a publicidade que deveria merecer. Num passado pouco distante, se considerarmos todo o tempo em que os humanos vem caminhando e cometendo besteiras sob a face da Terra, o Sr. Amaro já teria virado carvão, tostado numa grande fogueira patrocinada pela Santa Inquisição, em virtude de seu comportamento peculiar. Sorte dele sua alma nesta ronda ter descido ao final do século XX e não no século XV. Quantos loucos são loucos mesmo, ou vibram numa frequência apenas um quarto de tom abaixo do que precisariam para serem compreendidos? Quem é mais esquisito: quem escolhe viver solitário ou quem não pode suportar a si mesmo em silêncio, e em face disto precisa de companhia durante todo o tempo?

Não posso de forma alguma afirmar que o Sr. Amaro vinha pensando nestas questões em seu caminho de volta para casa, mais aliviado depois de se livrar daquele consultório anódino, mas ainda se sentindo insultado pela sugestão de um tratamento psicológico. Sua mãe ficaria mais tempo ainda sem notícias suas, ela que insistira muito, muito mesmo para que ele marcasse uma consulta. Como ele relutasse muito, ela tomou a liberdade e marcou. Seu apreço de mãe nublava seus sentidos desde sempre, seu filho querido não era o que ela sonhara enquanto ele revirava em seu ventre há muito tempo, naquele período de euforia e esperança no futuro. Para ela também os anos foram se empilhando como crosta de fuligem e pó num depósito abandonado, onde a luz do Sol não entra. Um pouco embaraçada no início, um pouco mais constrangida depois e francamente envergonhada quando se deu conta do comportamento recluso de seu filho único. Até que o neto sonhado, e a continuidade da família foram ladeira abaixo. Uma senhora desiludida e amarga era o que restara da jovem mãe que não sabia estar sendo premonitória quando escolheu o nome de seu filho único. “Deveria ter escolhido Dulcino, será que tudo teria sido diferente?” muitas vezes este pensamento atravessara sua mente, tentando justificar na escolha do nome toda a personalidade introspectiva que encapsulara seu filho por toda sua vida.

Ah, deixe isto para lá, desde quando um nome pode determinar o comportamento de uma pessoa? O Sr. Amaro era desde jeito sabe-se lá por quê? Quem poderia dizer? Além do mais: alguém paga suas contas a não ser ele mesmo? Ele alguma vez cometeu algum crime? Não que saibamos. Quão nocivo ele é , se ele pouco se envolve com outras pessoas? Não se tem notícia de que ele alguma vez tenha difamado alguém levianamente, ou que tenha passado alguém para trás por cobiça ou inveja. Ele é só um sujeito pacato que quer viver sua vida sem precisar conversar quando não há necessidade de lançar palavras inúteis que possam danificar um momento de silêncio precioso, ou apenas falar para exercitar o músculo que é a arma mais perigosa e poderosa que possuímos: a língua. Ninguém nunca se preocupou de saber quais são seus sentimentos, mesmo porque ele não deixa.

Já está na hora do almoço e o Sr. Amaro chega em sua casa, seu refúgio, seu bunker, a continuação do útero de sua mãe, numa idade em que muitos já estão no terceiro casamento. Todos os seus livros e roupas antiquadas cuidadosamente guardados em armários sóbrios, no convívio com suas flâmulas afixadas nas paredes brancas de seu quarto e de sua sala. A casa de um ser solitário, o lar de um quase ermitão voluntário. Por certo que as pessoas o aborreciam, com suas conversas banais e seus pontos de vista carentes de substância. Neste jogo de forças que se atraem e se opõe na mesma medida, ele se tornara tão desagradável para os outros quanto os outros se tornaram desagradáveis para ele.

“Adoro minha casa! O centro do mundo é aqui. Como me cansa andar por aí, ouvindo tanta baboseira, tanto papo furado, tanto barulho, tanto lixo. Onde vai parar a humanidade, meu Deus? Com tanta aberração rondando nosso mundo tranquilo, como posso ter esperança num futuro?”.

O mundo está longe de ser tranquilo, nem dentro de casa, nem com todas as trancas instaladas, nem mesmo mergulhado numa banheira de água morna com os ouvidos submersos para não ouvir os ruídos que atravessam as paredes. O refúgio do Sr. Amaro está somente dentro de sua cabeça, com todo o invólucro que ele criou e vem fortalecendo de forma tenaz, para perpetuar uma distância quase patológica em relação ao seu próximo, que está afastado somente algumas paredes, mas seus vizinhos já aprenderam há muito tempo que qualquer contato é infrutífero com aquele sujeito calado, reservado e discreto.

Serão sintomas deste mundo tão complexo, tão confuso, tão pragmático? Uma eterna mudança que parece deixar este mundo com uma aparência sempre igual, só um cenário móvel que é colocado e retirado de tempos em tempos para dar a sutil impressão que o progresso é inevitável e desejado por todos, e que todos estão felizes por participar. A casca se renova, mas pouco abaixo da superfície amarras e nós apertados tolhem sem piedade este imenso organismo, que se sacode e se debate, para se soltar e cumprir seu compromisso de mudança. Um sujeito arredio e introspectivo como o Sr. Amaro talvez perceba esta luta titânica logo abaixo de seus pés, bem defronte de seu nariz, mas não consegue articular com palavras o sentimento que lhe chega pelos poros, pelos cabelos ralos, naquelas frações de segundos que eclodem em forma de arrepios, onde se intui que alguma coisa está por acontecer, só não se pode saber o quê. Uma fina camada nos separa do sublime.

Ao seu redor seus vizinhos seguem com suas atividades diárias. A comida sendo preparada, as lições de casa que ficam para depois, a louça suja para ser lavada depois do almoço. Todos, ou no mínimo a maioria, estão bem encaixados no figurino que lhes foi previsto e prescrito. Qual é o problema disto? Os obstáculos estão pelo caminho de todos, alguns mais altos, outros mais longos, alguns são bem penosos, outros nem mesmo parecem obstáculos, mas vá dizer isto para quem precisa ultrapassá-lo! Só quem pisa poderá dizer a temperatura do solo, se é quente para mim poderá ser gelado para você. Um longo e livre piado de um pássaro distante poderá ser música num ouvido mas um martírio em outro. Alguns vão para o trabalho enquanto outros estão voltando, crianças voltam da escola e aviões partem nos horários corretos. Qual o problema disto? A normalidade garante a continuidade da vida na superfície, ou pelo menos, assim parece.

Ninguém quer o caos, eu não quero o caos, nem agora ou talvez nunca. A quem interessa o caos? Ao Sr. Amaro tampouco. As coisas fora do lugar o deixam intranquilo. Sua insônia recente tem origem nisto. Ele estava tendo sonhos recorrentes, sonhos atribulados, sonhos agitados, fogo que caía dos céus, fogo que subia dos mares, rios que ficavam vermelho escuro como sangue infectado, nuvens negras em espiral crescente, sussurros agourentos em seus ouvidos, montanhas que explodiam e rolavam rochas pontiagudas na direção de sua casa, o caos em sua melhor descrição. E ele acordava com o coração a mais de mil, suado, ofegante e com medo. Sozinho. O Sol nascente passou a ser sua companhia constante, os primeiros raios que atingiam sua janela pouco a pouco faziam suas retinas se acostumarem com o brilho intenso. O caos daquelas madrugadas ia sendo esquecido aos poucos, e dava-lhe conforto a brisa calma das alvoradas. Seus sonhos poderiam ser sinais de mudança? Ou uma fina camada que o separa do terror.

Terá o Sr. Amaro depois de uma prolongada temporada de isolamento voluntário, dado seu caráter reservado, aprendido a difícil arte de sobreviver num ambiente hostil? Sua vida sem brilho, sem arestas evidentes foi uma longa preparação, e no fundo, ao contrário do que possa parecer, ele adquiriu uma resistência e uma firmeza de princípios que o tornaram um sobrevivente tenaz neste mundo de becos escuros e quedas abruptas. Que não se espere dele grandes feitos e aventuras exóticas, ele não é este tipo de pessoa. Um homem que luta só, que vive só e está satisfeito com isto. Qual será a sua importância para os destinos que este mundo reserva? Talvez nenhuma, ou quem sabe, de tanto se esconder ele acabe esquecido pelo mundo e por tudo que governa esta dimensão. O Sr. Amaro virou suas costas para o mundo das aparências e meio por instinto, de certa maneira inconscientemente, ele almeja alcançar a sua essência. E neste mundo de aparências, ele carrega mais perguntas do que respostas. Será que são as formigas, as abelhas e as minhocas os seres mais importantes neste mundo feito de matéria grosseira?

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Entra o outono e uma sutil mudança ocorre na vida do Sr. Amaro. Numa noite dentre outras tão comuns, findo mais um capítulo de um trabalho de tradução que lhe garantiria mais um mês folgado dentro do seu orçamento modesto, um latido distante alcançou o ouvido meio anestesiado, assim indiferente, deste ser avesso aos gritos e chamados do que estava ao seu redor. Um latido solitário, espaçado, longo e carregado de melancolia. Aquele som que teria passado indiferente, como de fato passara tantas vezes desta vez teve um efeito tão direto e profundo na pessoa avessa do Sr. Amaro. Parecia um chamado longínquo, diria até um pedido de socorro que cruzou a barreira entre as espécies, uma barreira de comunicação direta Uma ponte erguida entre corações tão diferentes. Aquele latido distante arrancara do fundo do íntimo do Sr. Amaro o desejo escondido de compartilhamento. O chamado de um pobre animal solitário alcançara outro animal tão solitário quanto, que passara incontáveis noites tecendo um manto de invisibilidade e indiferença em relação a seus pares. Um momento de profunda comoção. Um singela lágrima despontava em seu olho esquerdo, apenas o início de uma enxurrada represada desde sempre. O manto começava a se esgarçar. Sem pensar muito em seu ato aquele senhor recluso saía porta afora aguçando os ouvidos para localizar de onde partia aquele chamado pungente. Por muitos minutos ele circundara sua casa, seus arredores, os quarteirões próximos, até encontrar um pobre cão vira-latas encolhido, amedrontado e certamente faminto.

Por vias tortas o universo traça suas linhas mestras. Almas gêmeas paridas e separadas sabe-se lá onde mantém um impulso inconsciente de achar seu complemento, pode ser que dure um momento só, pode ser que dure para sempre, embora para sempre seja um tempo muito longo e mesmo almas gêmeas podem ficar entediadas pela perspectiva da eternidade. Na noite de outono comum, num meio de semana, duas dessas almas gêmeas finalmente se encontraram. Não importa que sejam de espécies diferentes, apenas dois pares de olhos se cruzaram e se sorriram, um par sorriu com a boca e o outro par sorriu com o rabo. Menos de dez minutos depois um pobre vira-lata já se apossara de seu novo lar e um simples ser humano de meia-idade se apossara de um amigo. A solidão de ambos decidiu tirar umas férias, pois mesmo a solidão já estava cansada de ver dia após dia, noite após noite aquele sujeito insosso e tedioso, e mesmo a solidão, que se alimenta do isolamento, se apiedara daquele magro e sujo animal de parca beleza e poucos atrativos, e facilitou que o som de seu latido débil chegasse límpido e claro aos ouvidos de seu novo dono.

É bem possível que, apesar de todo o esforço dispendido no intuito de sumir do mundo, o governo invisível deste mundo não deixou de notar que um singelo ser humano por mais que queira não consegue passar sua vida como uma lacuna numa das inumeráveis páginas que contam a história de nosso mundo, a nada melhor do que um cão para servir de companhia.