Um encontro Aclarador

Flávio Garcia Stelphenisk, vinte anos mais velho do que todos os outros empregados da fábrica de purificação de algodão – e o único nordestino de traços europeus marcantes de ascendência espanhola, portuguesa, polonesa e alemã. Aquele era um lugar de gente séria que desejava uma rápida ascensão profissional. Desde o mais simples operário ao gerente. Todos desejavam crescer e continuar trabalhando na indústria. Estagiários da indústria, estudantes da Universidade Federal do Paraná ou jovens executivos de relações públicas da indústria que, se moviam para lá e para cá com fone de walkman nos ouvidos, fazendo um ruído confuso e irritante. Não havia muitos paulistanos querendo desenvolver um trabalho que lhe valorizasse sua posição na Indústria Beneficiadora de Algodão Cavalcanti.

Não era de forma alguma, uma simples indústria, era uma grande beneficiadora de algodão fornecedora de fios de algodão e gazes para todo o Paraná.

Flávia Garcia Stelphenisk imaginava que talvez pudesse receber uma boa colocação na indústria se promovesse um sistema de bonificação para cada trabalhador que desempenhasse e produzisse mais e de melhor qualidade seus serviços. Para isso todos deveria reduzir seu tempo de intervalos de descanso e lanches de quatro em quatro horas para dois intervalos um do almoço ou, um jantar para os trabalhadores que fazia a escala de doze horas. Assim aumentaria a produção. Assim concordaram os empregados que em troca de bonificação nos salários resistiram o cansaço físico e mental e cumpriram a meta. Para a alegria de Flávio Garcia Stelphenisk foi promovido para subgerente da seção de produção.

Era o inicio de outubro de 2013, no escritório da produção Flávio Garcia Stelphenisk em um momento de meditação contemplava o sol poente, que ia afundando cada vez mais até se perder de vista. Ele gostava de ficar verificando e se certificando da produção a mais produzida do dia, e deixar os pensamentos vagarem sem direção consciente. Era assim que ele relaxava. Um hábito que tinha aprendido com o cansaço exaustivo.

Ao chegar a casa, uma casa de estilo de fazendo sulista, ele gostava particularmente de observar as árvores e seus reflexos no rio. As árvores do Jardim botânico de Curitiba são bonitas quando a primavera está no auge: tons de verde, amarelo, vermelho, alaranjado e todos os matizes intermediários. Com o sol, as cores deslumbrantes das árvores brilham intensamente, e pela centésima vez Flávio Garcia Stelphenisk se perguntou se os proprietários originais de sua casa também passavam seus fins de semana e fins de tarde pensando nas mesmas coisas. E Contemplando a beleza da natureza que lhe inspirava boas ideias.

A casa fora construída em 1772, o que fazia dela uma das mais antigas, bem como uma das maiores residências antigas de Curitiba no Paraná, Brasil. Originalmente tinha sido a casa grande de uma fazenda; ele a comprara logo depois dos fins de 1990, durante o governo Collor e passara os últimos vinte e três anos consertando tudo, tarefa que consumiu uma pequena fortuna. Tendo de administrar a indústria beneficiadora de algodão na Cidade Industrial, bairro de Curitiba. Que se tornou símbolo de prosperidade empresarial da cidade. Logo veio à tona sua fama de progresso industrial. O reporte do Jornal Gazeta do Povo de Curitiba. Havia escrito uma matéria sobre a indústria. Sobre seu enriquecimento e grande produtividade que elevou o Estado do Paraná a Primeira colocação no patamar de desenvolvimento sustentável do Brasil. Afirmando tratar-se de um dos melhores trabalhos de revigoramento econômico do País. Em compensação Flávia havia conseguido o que almejava a acessão de cargo na indústria. Passando a ser assessor geral da indústria.

Assim com uma renda maior pode ampliar suas terras entorno de sua casa que ocupava uma área de cinco hectares adjacente ao Jardim botânico. Sendo uma casa antiga de mais de duzentos anos, Flávio ainda tinha muito trabalho pela frente, em particular no lado oeste.

Sendo um homem bem sucedido e benquisto por seus colegas de trabalhos e vizinhos e amigos de infância. E um tanto religioso, frequentava todos os domingos a missa do Santuário Santa de Lourdes, no bairro Cajuru, em Curitiba e algumas vezes na matriz na Praça Tiradentes. Sempre que ia a missa sentia-se próximo de Deus. Como se ele pudesse vê Deus, ele rezava a Deus.

Um dia, Pela manhã ele estava próximo a uma pequena árvore de laranja, em frente ao seu estúdio, de sua casa. Flávio avistou próximo a ele – um homem de alta estatura, de camiseta e bermuda brancas, tênis branco como se fosse jogar tênis de pele branca e cabelos curtos e pretos e olhos pretos e na região dos ombros, uma luz brilhando em seu redor, em forma de asas que jamais havia visto em animal algum. E muito menos em um ser humano. Eram esplendidas, que se moviam suavemente, as quais estavam sobressaídas de suas costas, de modo que não era posta sobre as costas eram parte de suas costas, era halo, tudo, como se tivesse acabado de sair de uma pintura renascentista. As asas eram o bastante grande que as podiam levitar aquele estranho e bem vistoso homem. Ele as agitou duas vezes, então as dobrou cuidadosamente em suas costas, como alguém que coloca um lenço no bolso da camisa e de longe parecia que estava com uma mochila de luzes brilhantes nas costas.

A Primeira reação de Flávio foi de um calafrio que começou na nuca e desceu pela espinha. E a segunda reação foi um silencioso “sussurrar: quem és?” Pensando está vendo uma alucinação. E parou pasmo sem saber ao certo o que estava acontecendo.

Então aquele homem alado disse: Talvez você tenha ouvido falar de meu nome, Gabriel. Eu, assim como o milagre da compreensão se dá sem qualquer esforço, cada, simples verdade que eu percebo brilha, no esplendor de todas as verdades, como as joias na coroa do conhecimento unitivo. Eu sou a inteligência que consome, constantemente, tudo que foi criado, sem ser afetada ou mudada por qualquer coisa. Em todo universo de minha maravilhosa e pura substância espiritual, todas as verdades existem igualmente distantes umas das outras e de mim, em tal perfeição de harmonia e correlação que mesmo se eu deixasse de existir o sistema de sua simultânea necessidade, reluzindo como um diadema resistiria por si só, em toda sua sublime plenitude.

Então Flávio Garcia Stelphenisk destemido e já sem medo se aproximou do anjo e lhe disse: prazer em falar com você Gabriel, arcanjo Gabriel, nunca pensei que existisse de verdade. E que Daniel tinha sido devorado pelos leões, quando na cova dos leões foi jogado.

Então o anjo aproximou-se de Flávio e apertou a mão e seu aperto de mão era ao mesmo tempo firme e suave, de uma energia vital que lhe renovou todo seu corpo e rosto, rejuvenesceu todo o corpo de Flávio ao ponto que brilhava sua pele. Flávio podia sentir uma corrente de energia em sua palma.

Ao contemplá-lo, o que primeiro lhe chamou a atenção não foi a sua beleza, e sim as suas plumas, halos e suas vestes que era de um linho branco que jamais havia visto, mesmo trabalhando em uma indústria de algodão jamais havia visto, era de uma beleza irradiante. Sua voz era de uma limpidez masculina que jamais havia ouvido, como uma voz de cantor lírico em consonância com a orquestra, em baixa intensidade. Que falava firme e calmo. Então ele disse: A essência do céu é a felicidade. É o ar que respiramos a base de nossa meditação, o céu em que voamos. E a contemplação de Deus não significa ficar parado olhando para alguma divindade. É o jogo mais emocionante que você pode imaginar.

Flávio disse – jogo?

- Para nós, tudo é um jogo – explicou -, como também tudo é uma jubilosa contemplação de Deus, por exemplo, a natureza, porque o que quer que venha de Deus é Deus. Por isso todos os nossos jogos são meios de contemplar os diferentes aspectos de tudo Que Existe. Vim até você com a missão de lhe ensinar a simplicidade. Os mais humildes têm limites, não os criando desmesuráveis ou destruindo os simples com a missão do elegante e luxuoso custoso. Basicamente, não há limites, nessa luta de transformar o simples em beleza custosa, exceto aqueles que criamos para nós mesmos, e os limites dos espíritos puros, ou seja, a nossa natureza angélica, que, contudo, são consideráveis. Você tem a virtude da inteligência, da organização, do prazer à natureza e a beleza. Mas não tem humildade e nem simplicidade, trata os seus semelhantes com falsa amizade. Detesta ser solidário e repartir com o próximo seus bens e saberes. Age tudo por interesse pessoal. Sem nunca pensar em ser útil ao bem comum do próximo, sem que tire vantagem. É incapaz de sentir tristeza com o sofrimento alheio.

-Isso é apenas o aspecto físico do universo que vivo e que tenho que viver, se eu quiser continuar vivo. Não posso fazer nada para mudar. Pois perderia minha posição de liderança na vida e sentido de vida. O desafio de sua proposta é criar limites e o meu é superá-los. É como fazer as regras para um esporte.

- Então o anjo lhe falou:

- Antes de haver o Um, havia o Zero, e dentro desse círculo reside uma mente, a de Deus. O Um é a criação do mundo coletivo que Deus destinou aos homens que vivam em união, confraternização, solidariedade. Compartilhamento de saberes, de bens. Mas quando se tem um mundo egoísta, individualista, aí não está Deus.  A partir desse instante Flávio Garcia Stelphenisk compreendeu a Grandeza do ser social integro e verdadeiro. Que ele até então não havia percebido e que ele não conhecia a si mesmo. A visita daquele ilustre visitante fez com que Flávio, compreendesse que, ser verdadeiro, ter atitudes desinteressadas ajudaria mais a todos que suas ações egoístas de ter proveito em tudo, para a prosperidade coletiva. Que dá parte de si, não lhe diminuía seus status e nem seus bens. Que só assim seria um líder perfeito, carismático capaz de mudanças verdadeiras nas pessoas e consequentemente no produto final coletivo. Sendo um número Um.

Tudo isso era real, eminentemente sensato e razoável. Não exigia qualquer convicção, era uma visita especial que Flávio não acreditava, no fundo em Deus e em seu exercito de arcanjos e anjos capazes de alterar um curso de uma vida. Acreditava que só a ação humana era que contava e por isso jogava com as vidas das pessoas como um brinquedo infantil até cansar e jogar fora. Crê em Deus, era a parte mais difícil. Mas era um pouco duvidoso, se realmente existia Deus.  Por sua necessidade cética de duvidar de tudo e querer constatar a veracidade da existência de Deus ou se era mais uma necessidade religiosa, uma função orgânica de crê em algo imaginário, para se mante com esperança e coragem e equilíbrio mental. Ou era real ou mais uma necessidade comum dos seres humanos.

O próprio Buda disse: “É conveniente duvidar”. “Não se deixe levar por escrituras santas, ou por mera lógica ou dedução, ou por aparências, ou pela autoridade de professores religiosos. Mas quando você perceber que algo não é saudável e, que não lhe faz bem, desista, e quando perceber que algo é proveitoso e bom para você, faça”.

Havia um nível ainda mais profundo de dúvida que o arcanjo lhe ensinou a indagar como ferramenta de prova da verdade. Ele disse que se Flávio realmente quisesse a verdade, tanto na grande fé quanto a grande dúvida da ajuda divina nas mais simples ações até o alcance de uma graça quase que inalcançável era preciso vencer a dúvida. Através da fé. Uma fé que não se vê que não se apalpa, mas que se sente dentro de si uma certeza da completude da ação esperada. É a confiança de ter a certeza de receber, de alcançar o resultado almejado de forma próxima a nós. Sem considerar o fenômeno dos acontecimentos previstos como se fossem milagres. Pois toda ação tem reação nas Leis da física e química. Fé é algo concreto que se alcança com a certeza de algo fora da ação concreta que resultaria na reação.

- Então Flávio disse: Um místico quer ver Deus –

-Então o arcanjo lhe respondeu: amor, amor, amor. Quer desenvolver uma mente especial que alcança Deus. Todo esse quere não é bom nem ruim. Mas isso é criar alguma coisa que fará você vê Deus de perto, quando sentir fé. Pois sem fé é impossível agradar a Deus. Pela fé se alcança humildade e amor. Um amor especial que é desinteressado, livre como os grandes pássaros das montanhas. Pela fé se ama a Deus, se sente Deus. Para os homens cegos da verdade, sentir Deus é vê Deus. Os homens de sincero coração são como um copo de água pura. Se você colocar açúcar, obtém água doce. Se você colocar sal, obtém água salgada. Se você colocar outra substância obtém água mais substância. Mas originalmente a água é pura. Isso explica o que eu lhe digo. Ter uma mente pura, sem malicias, sem pensamentos manipuladores. A mente volta ao seu estado original que se aproxima de Deus, que é amor. A essência de Deus é o amor. Quem ama, ama alguém, quem se ama e quem ama o próximo ama a Deus. Amando Deus alcança fé. Que agrada a Deus. Confiança da certeza.

Com estas palavras Flávio Garcia Stelphenisk começou a meditar que era vazio e sem coração, que tinha construído uma fortuna, um império sem se dá conta do amor. Que nem para com sua mulher Anna Scarpettini. Sentiu a amplidão do amor e, que criava seus filhos sem o amor verdadeiro. E chorou.

- Então o arcanjo Gabriel disse: ame, ame, ame e será amado e alcançará Deus, um Deus que não se vê e nem se toca, um Deus que se sente. Pois todos os homens são cegos para Deus, não enxerga o certo do errado, tropeçando ali e acolá, levando topadas nos dedos dos pés, sentindo dores provenientes dos tropeções e Deus encaminhando-os com seus arcanjos e anjos ao caminho da verdade, do amor, ensinando-os a amar. Quando muito encaminha os homens aprendem a amar e amam e sentem Deus pertinho e alcançam a fé.

Então Flávio inesperadamente compartilhou um deleite mútuo o amor, a alegria de querer ser um novo homem cheio de propósitos de compartilhamentos de saberes que levariam a princípios seus familiares e amigos a conseguirem alcançar a sabedoria, a caridade de ajudar e conduzir o próximo ao alcance o almejado desejo, seja bens materiais ou conhecimentos ou a saúde. E a compreensão que o sofrimento é parte da condição humana. O sofrimento ensina sobre as limitações e vulnerabilidades. O sofrimento conduz o homem  a comunhão e ao reconhecimento de que somos uno repartidos em pequenas células que de certa maneira devemos amar uns aos outros de modo a ajudar-nos a irmos bem para que esse uno vá bem é preciso amar. E o amor é Deus, em cada célula e que só o amor desinteressado é a energia vital para o todo coletivo ir bem. Então Flávio compreendeu que a fonte de nossa dor não importa para Deus, ele só deseja nossa cura. Deus não deseja que soframos. Porém, se oferecermos nosso sofrimento para Deus, ele o usará. Para nos mostrar que até o sofrimento, por mais que não pareça enobrecedor, há nele dádivas ocultas que podem ser obtidas somente pela experiência. E até o fracasso também pode ser uma dádiva quando reconhecemos que erramos que precisamos por sempre do próximo por mais alta posição estivermos. E assim o Arcanjo lhe predisse que Flávio iria perder seus status profissionais e sua fortuna por algum tempo dependeria exclusivamente de muitos e sua família iria chegar ao ponto de ter que comprar laranjas e frutas que tanto tinha em sua propriedade e que seus descendentes não mais pisariam naquelas terras que tanto ele amava, mais que pessoas no mundo. E Flávio compreendeu que estaria vivo para ver sua derrota financeira e, mas, estaria mais rico em compreender que muito é quem menos tem. Pois o paradoxo é a vida e nada vale se não, dar conta que prestamos conta em nossa vida de nossos atos no dia de amanhã, quando já não temos o diferencial da fartura da fortuna e contamos exclusivamente com o pouco que somos.

 AUTOR: David Adalberto Cavalcanti Cabral, Curitiba-PR, 19 de abril de 2015.