Existem dias para toda a família, começando pelo imprescindível dias das mães que foi o primeiro e inventado pelos americanos que viram nesta data uma ótima oportunidade para dividir com o Natal, a segunda data com o maior volume de vendas do comércio. É o segundo Natal dizem os comerciantes esfregando as mãos na esperança de aumentar o faturamento. Depois vem o dia dos namorados, dia dos pais, dia dos avós, dia dos amigos e vai por aí.

Mas sinto que faz falta de um dia destinado aos políticos, não por possíveis efeitos no comércio, mas pela alegria que poderia dar ao nosso povo sofrido. Alguém deve estar imaginando coisas, mas explico melhor. Seria um dia em que o povo poderia dar o seu troco aos políticos entre uma eleição e outra. Os mais antigos devem se lembrar do Sábado de Aleluia em que um boneco do Judas era malhado e apedrejado pelo povo numa vingança tardia daquele que supostamente traiu Cristo há mais de dois mil anos.

Hoje malhar o Judas saiu de moda e também entrou em cena o politicamente correto. Afinal seria anticristão espancar, mesmo que simbolicamente alguém.  Mas os políticos mereceriam um dia para serem homenageados e seus bonecos espancados em praça pública para lembrá-los que o povo já não aguenta tanta esculhambação desses representantes que só pensam em seus interesses pessoais e corporativos.

Ao comentar sobre isso com um amigo, ele sugeriu, também, um dia para as profissionais do sexo. Achei a sugestão um tanto ousada, mas ele argumentou que seria uma ótima homenagem para as mulheres que se dedicam a oferecer prazeres aos homens sob as condições mais difíceis e muitas vezes exploradas por inescrupulosos cafetões e cafetinas. Ele ainda elucubrou sobre as vantagens dessa data que além de impulsionar o mercado de presentes, ao mesmo tempo poderia alertar as mães de família sobre o comportamento dos maridos. Uma investigada nos cartões de créditos e débitos, bem como reuniões depois do expediente poderiam ser indicativos de ultrapassagem da cerca. Assim, seria uma contribuição para a estabilidade da sagrada família.

Já que está se propondo dias comemorativos tão heterodoxos, vai lá mais um. Seria para homenagear aqueles que tiram o sono de muita gente: os ladrões. Não os ladrões de casaca que roubam usando transferências bancárias, superfaturamento ou subfaturamento, mas aqueles que o fazem com armas na mão intimidando as pessoas a entregarem seus suados recursos.  Pensando bem, esses ladrões são seres humanos que dependem de um faturamento para comprar o leite das crianças e atualmente ainda são obrigados a pagarem uma mensalidade ao crime organizado.  Neste dia, em homenagem aos larápios, os assaltos seriam proibidos e os desamparados cidadãos e cidadãs deixariam no seu portão ou no carro, um mimo para homenagear aqueles que atuam numa área de alto risco e sem o adicional de periculosidade. Imaginem a expressão de felicidade de um ladrão ao receber uma lembrancinha num semáforo dizendo: “Valeu patrão, vai tranquilo que na próxima a gente conversa”.

Por fim, o dia do Patrão, quando todos os trabalhadores fariam mesuras aos empresários. Uma vaquinha poderia ser feita entre os empregados para a compra de uma Mercedes nova para aquele que se dedica a investir suas suadas economias para gerar empregos.  Para os patrões mais modestos, com poucos funcionários, uma vaquinha daria para comprar um Champagne legítimo para eles degustarem com seus amigos e familiares. Não seria maravilhoso? Teríamos um mundo mais humano e feliz, com a integração entre trabalhadores e patrões, acabando com a tal luta de classes que tanto mal tem feito à nossa sociedade.