Para ir ao aeroporto, combinei dias antes com um motorista amigo da família para que me pegasse ao meio dia em ponto. Sei o quanto sou rigoroso comigo e com os outros quando meu interesse está no jogo, mas já haviam se passado quinze minutos e nada dele aparecer, este era o meu nível de tolerância para tomar uma decisão. Por mais que ele fosse amigo da família, um ser que aparenta honestidade e que passa por dificuldades tanto psíquicas quanto materiais, eu tive que abandonar minha compaixão. Utilizei o interfone do prédio para avisar minha irmã que pegaria um taxi até o aeroporto devido ao atraso.

No taxi pensava no dia em que estava tendo, toda a preparação para uma viagem, conferir inúmeras vezes se todas as coisas estão no devido lugar – e por mais que faça isso sempre terá aquela coisa que será esquecida, não que ela seja essencial, mas haverá sempre o pensamento deque deveria ter pensado naquilo. Roteiro das aventuras, trajetos que podem ser feitos por meio de transporte urbano local, tudo isso de certa forma não permite que o corpo relaxe e acrescido os minutos de atraso do motorista, foi como se já não pudesse tolerar. Eu não estava nervoso e apavorado, estava agindo conforme os meus interesses. Gosto de chegar cedo e verificar como está o ambiente.

No aeroporto, uma longa fila já dava razão aos meus sentimentos. Logo chega uma senhora e pergunta se a fila que estou pertence à companhia aérea que ela estava procurando, disse que sim e logo ela quis puxar um papo comigo. Perguntou para onde eu estava indo e com o que eu trabalhava, descrevi tudo de forma objetiva e direta e eis que chega a filha dela, moça relativamente bonita, mas bem relativa. A senhora contou para filha tudo o que eu ia fazer e logo solta uma pergunta quando terminou de descrever minha profissão. “Posso mandar um e-mail com o meu currículo para você?”, eu meio que sem jeito e até envergonhado pela filha dela disse que poderia, mas achei tudo aquilo muito estranho e dei um sobrenome falso. Quis cortar a conversa com aquela mulher, ela me lembrava da vez que fui para a Argentina, não que lá não tenha sido bom, mas estava afim de uma nova experiência.

Um voo cansativo com uma conexão confusa em Londres. Acabei aproveitando aquela conexão para comprar uma maquina fotográfica. Quem me atendeu foi uma mulçumana. Achei interessante o fator cultural do lugar, porém ela não era bonita e também não sabia me atender direito, mas fizemos negócio.

Já na Alemanha que era o destino final de meu voo eu aparentava uma barata tonta, realmente não sabia o que fazer e por mais que tenha me planejado, na hora tudo parecia confuso, uma língua que realmente não entrava na cabeça naquele momento. Meu objetivo era pegar um ônibus e um metrô até a estação principal de trem, donde pegaria o trem até Praga, porém não conseguia colher as informações suficientes e junto com o cansaço mental, ficou mais fácil de tomar a decisão de pagar um taxi e me levar até aquela estação.

Quando cheguei na estação a fome logo apareceu e no meio daquela praça de alimentação arrisquei pedir o que para meus olhos eram apenas macarrões com camarões. Pedi mais um suco e uma água, a mulher que estava me atendendo disse em alemão que pelo que entendi eu poderia trocar as bebidas, pois estava na promoção do prato, como já estava cansado e sem paciência para entender o que a simpática moça tentava me explicar, fiz um sinal de positivo para confirmar o que ela disse – eu não falo alemão, mas parece que nessas horas sou capaz de entender e aceitar tudo, nesses momentos de stress. Eis que recebo uma cerveja. Estava todo estabanado tentando transportar algumas coisas da mala para mochila como, por exemplo, os remédios e coisas de higiene pessoal. Não demorou muito para que meu prato fosse chamado, talvez umas duas ou três vezes, mas o caso é que eu estava mesmo desatento. Dei a primeira abocanhada naquele camarão e para minha surpresa ele era totalmente apimentado, aquela cerveja seria minha grande amiga naquela refeição.

No trem uma provável alemã ficou na minha cabine, apesar de seu corpo um pouco “volumento” seu rosto era muito simpático, mas aquele momento a sós não duraria muito, logo entrou outra alemã, muito mais velha e estragou o clima que eu pretendia criar e em outra estação um casal de italianos.

Logo percebi que todos se tratavam indiferentemente, menos o casal de italianos que ficavam mexendo no “i-pad” um do outro.

Eu alternava entre o sono e o ficar acordado, pois sabia que a rota que estava fazendo era uma das mais bonitas. Por um susto do meu sonho consigo acordar na parada de Dresden e ai sim pude acompanhar a rota mais bonita Dresden-Praga. Tirei algumas fotos, e comecei a pensar que aquela viagem de trem estava valendo a pena, pela vista que apareciam a minha volta, todas as casas na beira do rio e no alto do morro.

Ao chegar em Praga a primeira coisa que fiz foi procurar uma casa de cambio e trocar 100 euros pela moeda local, feito isso, visualizei uma maquina de caixa eletrônico e me perguntei, “por que já não testar e tirar dinheiro por ela também?”. Tentei pela primeira vez e a maldita maquina disse que minha senha estava incorreta, tentei pela segunda vez e aparece a mesma mensagem. Mal sabia que um dos meus dramas dessa viagem seria esse conflito caixa eletrônico versus cartão. (Na época eu não usava celular o que tornou tudo mais difícil).

Tento me localizar, mas tudo é muito novo e o cansaço é cada vez maior, meu plano era pegar um bonde até perto do hostel, porém por ter dado uma bobiada no trem acabei indo parar em outra estação de Praga. O susto foi grande fiquei me lamentando um tanto quanto, mas já não restava outra coisa a fazer, se não pegar um taxi.

Vou até aos taxistas, que logo perceberam a minha intenção um tanto quanto contida e já me capturaram como peixe fora da água. Mostro para eles o endereço onde preciso ficar. Uma palavra impronunciável para o meu linguajar. Eles começam a discutir e parecem que não sabem direito onde é o tal endereço, fico um pouco assustado, pois parecia que ficava muito longe de onde eu estava. Finalmente eles chegam a um acordo entre eles e parecem ter resolvido à questão de onde era o endereço, fico contente e pergunto quanto ficaria e um deles diz 800 coroas checas. Naquele momento não sabia se aquilo era muito caro ou muito barato, aceitei sem hesitar.

Quando chegamos na tal rua, o taxista disse que o meu hostel ficava seguindo uma rua de paralelepípedos, lógico que entendi tudo via sinais após umas três repetições. Peguei minha mala e segui pelo caminho indicado, não andei muitos metros e logo encontrei o hostel. Dakura era o nome do lugar e fiquei feliz quando o vi, pois era real.

Fazia muito frio em Praga naquele inicio de noite, toquei a campainha e uma senhora checa de cabelos escuros e olhos claros, me atendeu. Não parecia ser simpática, eu também não estava esperando esse tipo de atitude dos europeus, sempre ouvi que eles eram muito frios.

Fiz o check-in e já logo tive que desembolsar mais 200 euros para já deixar paga a minha estadia. Tive que gastar os euros, pois o dinheiro checo que troquei não era suficiente para pagar minha estádia.

A fachada do Dakura não era nada bonita, mas as fotos que eu havia visto do quarto e do banheiro tinham me agradado na hora de fazer a reserva. Porém a realidade me mostrava outra coisa, o lugar era frio e muito velho, parecia que uma boa reforma não acontecia por lá desde a morte de Stalin.

Meu quarto ficava no terceiro andar, tive que subir com a minha mala que não estava nada leve mais a minha mochila em um ritmo acelerado, pois foi esse o passo que a senhora dava. Quando chegamos ao quarto tive que pedir um minuto para respirar, pois subir tudo aquilo depois de um dia inteiro de viagem em um ritmo alucinante não foi fácil. Exibia uma cara de cansaço, língua para fora e ofegante, talvez até com um suor no rosto, ela deu uma leve risada e creio ter conquistado um pouco de sua simpatia.

No quarto pude finalmente me desvincular de minha mala e mochila, dei uma rápida espiada em tudo que havia no cômodo e deitei. Aquele cochão duro veio bem a calhar, pois o que minhas costas queriam era ser esticadas e não afundadas. Havia varias coisas ainda para fazer, mas deixei tudo de lado e fechei os olhos. Praga teria que esperar até eu recompor os meus limites.

10/05/2013 - Leonardo Pigozzo