Foi pensando nessa frase que leu lá longe no tempo no velho semanário Pasquim, criado por Tarso de Castro, Ziraldo, Millôr Fernandes, Jaguar entre outros, que se conformou que tudo passaria rápido, tão rápido como um trem que passa na estação ou um cavalo que sai a galope deixando rastro de poeira na estrada.
Mas o tempo foi passando, passando... assistiu todas as séries do Netflix, da TV por assinatura, leu todos os livros que que vinha adiando a leitura para o final da vida, como "A procura do tempo perdido" de Proust. Releu Grande Sertão Veredas, Dom Quixote de La Mancha e pasmem, até Ulisses, de James Joyce. Há quem diga que leu até as obras completas do Paulo Coelho.
Haja tempo passando. Passando boi, passando boiada, passando estação, passando invernada, cafezal e canavial. O velho carteiro passando, gente passando, criança crescendo, gente morrendo, gente sofrendo, passando a vida, que vai e vem, vai e vem.
Mas num belo dia de sol, acordou ouvindo as sabiás cantando e as maritacas em revoada. Chegou o tempo da bonança, pensou com seus botões. Vestiu sua roupa de domingo, cortou a barba e ajeitou os restos da antiga cabeleira. Ligou para todos os amigos, mas nenhum atendeu. Todos devem estar na rua, pensou.
Dançou e gargalhou como se ouvisse música. Saiu para a rua como se fosse festa. Ensaiou seu passo fúnebre e se apagou na avenida como se fosse um trapo.