Poucos meses atrás, lá estava eu sentada em um banco sob o sol nas redondezas do Museu e Memorial do 11 de Setembro, com um copo de café e o jornal nas mãos esperando uma amiga, quando presenciei um grupo de turistas, incluindo muitos brasileiros, chegando para visitar o museu. Não tinha como não olhá-los ao ouvir ecoar nos meus ouvidos a minha língua de origem e observar a guia do grupo com aquela típica bandeirinha na mão guiando-os e orientando-os entrada adentro. O burburinho do idioma familiar atraiu minha atenção até que uma voz se sobressaiu em um tom bem mais alto que os demais: “Gente! Não dá pra deixar esse museu de lado e irmos direto às compras? Afinal o 11 de setembro já passou há tanto tempo, né?”.

Meus amigos leitores, quem me conhece sabe que não gosto e não me envolvo em situações inusitadas ou verbalizo minhas opiniões à revelia. Entretanto, uma força interna me fez levantar na hora e me lançar de encontro ao dono da voz daquele comentário! Talvez a chama ainda acesa dentro de mim como sobrevivente ao atentado me fez sentir no direito de impor respeito ao local e aos que ali padeceram. Talvez uma simples indignação pessoal à falta de respeito mesmo exposto pelo patrício à memória e história daqueles que talvez ele os considerasse como meras vidas alheias. Mas, o fato é que a indignação alimentou a chama. Ainda assim, tentando manter uma polidez, não resisti e entao verbalizei : “Desculpe incomodá-lo, mas qual é a sua formação?” E para minha surpresa, ele respondeu orgulhosamente: “Ah, imagina, eu sou professor”.

Foi como se me atirasse um balde de água fria na cabeça às vésperas do inverno rigoroso prestes a se despejar pela cidade! Com a razão mais que aflorada me senti na obrigação de me fazer ouvida por todos ali presente, independente da minha ou de qualquer origem de qualquer canto da Terra, não iria permitir que desrespeitasse qualquer tipo de tragédia, dirá aquela cujas cicatrizes ainda trago tatuadas para o resto da minha existência. 

E bradei... “O fato de a tragédia que atingiu este local ter sido há anos atrás e ter ceifado a vida de mães, pais, irmãos tios, filhos, amigos e desconhecidos também e marcado famílias para sempre, não marcou apenas este espaço que você está pisando agora, mas esta cidade, este país e, consequentemente e infelizmente o resto do mundo em que vivemos, e cujas consequências, direta e indiretamente, ainda nos afeta por conta disso que presencia agora! E o seu comentário  é um desrespeito inclusive à sua carreira! Foi exatamente aqui, neste Marco Zero, que o mundo viu eclodir em chamas, ao vivo e a cores, um fogo que veio se alastrar através deste nosso milênio por outros cantos da Terra e que é chamado de Terrorismo, professor!” E antes que pudesse me interromper, prossegui sem perder o fôlego: “... e eu não estou aqui para julgar seu comentário, mas quero pontuar alguns fatores, visto que há muitos jovens neste grupo. E os jovens são o futuro de qualquer nação e quero deixar claro a eles que o mundo não se resume em consumismo, e a busca pelo conhecimento da história é uma enorme via à educação que nos levará a um mundo melhor e mais justo. Especialmente no nosso país de origem, onde os nossos governantes, por séculos e séculos amém, nos mantêm cercado em um ciclo onde infelizmente a saúde e a educação não são prioridades, fazendo com que pérolas como a que o senhor acabou de proferir continue se alastrando. Um país onde vivemos um verdadeiro carnaval administrativo a favor deles! Onde o povo é obrigado a sambar e suar pelos seus direitos, porem sem direito a sorrir ou se divertir. Sem contar os privilégios dentro de suas próprias leis que os elevam acima do cidadão comum a quem deveriam servir. A educação começa cuidando da nossa própria casa, da nossa rua, do nosso bairro, cidade, país, continente e mundo, já que tudo hoje está interligado onde qualquer situação inusitada que acontece em um canto qualquer do planeta, ou uma praça como esta, certamente irá afetar até o mais isolado  do ser humano”.

“Então professor, sem querer julgar, quero apenas compartilhar a minha visão em bom tom a essas pessoas do mesmo modo que o senhor compartilhou a sua. Somos responsáveis sim pelos valores e princípios que alastramos como fogo em mato seco. E, olhar pelo retrovisor da História nos ajuda a evoluir e moldar um futuro mais seguro, justo e saudável para todos. Sim, talvez a história seja um balde de água fria que não queremos que nos despejem na cabeça para que não acordemos para a verdadeira realidade”.

“Imagino que muitos professores no Brasil não compartilhem dessa sua urgência às compras, pois sabemos que a urgência da educação no nosso país demanda uma força-tarefa sem precedentes quanto foi a força-tarefa para reerguer este pequeno espaço! E peço perdão caso o tenha ofendido, não é do meu feitio devolver algo que considero ofensivo, senão nunca sairemos deste ciclo pernicioso cujo resultado é este local onde estamos pisando agora”. E o professor respondeu, “Nossa! Claro que não me ofendeu. Entendo claramente e não era minha intenção ofender ninguém. Foi sem pensar”...

Hoje, no início de 2018, sob este intenso inverno rigoroso que veio para desafiar as estatísticas da História, me lembrei dessa explosão acalorada que tive com o professor antes de o inverno chegar. Resoluções para este ano que se inicia??? Minha sugestao , lembrar da historia e ainda lembre estamos neste momento fazendo o futuro e consequentemente fazendo historia.

 A história recente segue nos pregando peças e ainda nos encontramos no olho do furacão. 2001 foi um tremendo alerta para que ergamos nossas cabeças e não saíamos agindo sem pensar... foi mais que oficialmente, foi “ infelizmente: um fato evidente de que a ERA do terrorismo esta aqui, em nossa geracao. A guerra contra a liberdade. Entao, que nossos princípios e nobres valores se alastrem como lindas chamas de luz sobre nossas atitudes, pois nossa liberdade nos permite. E que este ano de eleição possamos pensar melhor antes de elegermos nossos futuros governates. O futuro sim está em nossas mãos e escolhas hoje. Ao amanhã cabe as consequências da história que desenhamos hoje. Fazer parte da uma História evoluida, pois alem do mais e ainda  mais importante, e a nossa responsabilidade direta de deixar por uma sociedade mais justa e melhor daquele onde crescemos.

Ufa! Pronto, desabafei queridos leitores! Desabafo de quem AMA este pais de origem e tenho orgulho de mencionar onde passo que sou sim de origem BRASILEIRA.

Não sou feita de concreto e ferro.

À parte isso, Feliz Ano Novo e sorria sempre para o mundo.

Adriana Maluendas