Já há alguns anos os adjetivos "crente" e "cristão" foram abandonados e, em consequência, substituídos pelo equivocado "evangélico".

Ora, após anos de uso e já francamente desgastado, o adjetivo denotativo "crente" foi relegado a segundo plano, mormente ao entendimento, finalmente, do disposto em Tg. 2:19b[1], sobremodo com o receio, oculto, de ser comparado ao nele disposto.

Já o outro – cristão – perdurou pouco, principalmente com o intuito de evitar ser entendido como católico!

Entretanto, com o desproposital incremento na quantidade de igrejas "evangélicas", tanto pentecostais[2] como neopentecostais[3], com maior ênfase para estas últimas, subitamente, o adjetivo "evangélico" ganhou a luz dos holofotes, inclusive sendo empregado por alguns protestantes mais desavisados ou mal informados.

Originalmente, o adjetivo "evangélico" é resultante de dois conceitos diferentes, a saber: o alemão e o inglês. Na origem alemã, o adjetivo "evangélico" traduz-se como conceito normativo e busca caracterizar a doutrina de acordo com o Evangelho (ponto de vista do monge agostiniano eremita Martinho Lutero, um dos iniciadores da reforma). Já, na inglesa, foi utilizado para caracterizar os "dissenters" (dissidentes) que se diferenciavam da Igreja da Inglaterra[4].

Assim, a rigor, "evangélico" significa aquele que segue ou se atém ao Evangelho, qualquer que seja sua tradução ou entendimento. Portanto, "evangélicos" são os católicos romanos e todas as suas ramificações (bizantina, maronita, copta, etc.), os católicos ortodoxos (copta, indiana, armênia, etc.), os protestantes conservadores históricos (luteranos, calvinistas e anglicanos), os protestantes conservadores radicais (anabatistas e puritanos), os protestantes conservadores tardios[5] (batistas e metodistas), os anglicanos, os mórmons, as Testemunhas de Jeová, os adventistas, os kardecistas (possuem o Evangelho segundo Allan Kardec), os budistas (sim, possuem o Evangelho de Buda) e etc.

Entretanto, os "evangélicos" insistem em justificar sua religiosidade mediante a proposição de que são pentecostais, isto é, são os que verdadeiramente obtém o batismo pelo Espírito Santo ao contrário do que, segundo afirmam, seus irmãos na fé, os protestantes.

À exceção já mencionada sobre a Assembléia de Deus (hoje, também, já em posição de minoria no tocante à fidelidade das doutrinas e teologias originais), a crescente disseminação de "evangélicos" no país, que, em sua imensa maioria, não dispõe de apoio teológico e sequer doutrinas próprias, senão um arremedo, tal qual colcha de retalhos, juntando os pontos que lhe interessam desta ou daquela doutrina e da teologia por outros utilizadas, descambou para o nefasto fenômeno do neopentecostalismo onde, a teologia da prosperidade, a teologia da vitória e doutrinas das mais espúrias possíveis, apresentam-nos verdadeiros espetáculos dantescos em seus cultos, que vão desde a imersão de roupas dentro de piscinas construídas em suas igrejas até a barbárie de cusparadas dentro das bocas de seus membros, a título de obtenção de curas milagrosas.

Assim, o povo que superlota tais igrejas "evangélicas" – pentecostais e neopentecostais – apenas e simplesmente realça, ainda mais, as verdades contidas em Is. 5:13a e Os. 4:6a, ou seja, por ignorância, segue cativo às mirabolantes parafernálias apresentadas em tais igrejas como se elas fossem o resumo da palavras de Jesus Cristo em Jo. 10:10b:

                               ...eu vim para que possam ter vida – vida em sentido pleno[6].

Não se podem formar pastores, líderes, apóstolos, bispos e mais uma infinidade de títulos em "seminários" vinculados, mantidos e orientados por tais igrejas "evangélicas" – pentecostais e neopentecostais – pois não possuem, sequer, estrutura pedagógica para o ensino do que quer que seja porque, até mesmo quem ministra as supostas aulas, não tem sólida informação e formação para tal. Tais "seminários" nada mais fazem do que propagar e disseminar falsos ensinamentos, doutrinas e teologias, baseados, estritamente, no modus operandi de tais igrejas, vazias no que diz respeito à sã doutrina.

Basta, apenas comparar, para comprovar, o escopo de um seminário católico, presbiteriano, batista, etc. Neles, além de profunda imersão na Bíblia, a examinam sob todos os aspectos hermenêuticos e exegéticos ao contrário daqueles, que usam e abusam da eigesese[7]!

Em suma, para que não haja mais controvérsias entre protestantes e "evangélicos", basta tão somente verificar se os últimos observam, estritamente, os quatro aspectos distintivos do evangelicalismo ou cristianismo evangélico[8] (note que até mesmo os participantes de tal grupo evitam a expressão "evangélicos"), quais sejam: conversionismo[9], biblicismo[10], crucicentrismo[11] e ativismo[12] o que, inexoravelmente, não acontecerá!

A facilidade e fragilidade de nossa legislação tributária é outro fator para a disseminação de miríades de igrejas "evangélicas", já que inúmeras concessões fiscais estão à disposição das mesmas bastando uma importância de pequena monta para que qualquer cidadão formalize, legalmente, um CNPJ e constitua uma igreja.

Desta forma, antes de buscar uma igreja protestante, verifique se a mesma é realmente uma das denominações protestantes anteriormente mencionadas ou se se trata de uma igreja "evangélica" – pentecostal ou neopentecostal – antes de se propor à membresia da mesma.

Para finalizar, mais uma informação diferenciadora de igrejas: as igrejas "evangélicas" – pentecostais ou neopentecostais – costumam ser conhecidas como igreja de fulano (pastor, bispo, apóstolo, etc.) e, nunca, como igreja de Cristo!

ΩΩΩΩΩ

 

[1] Crês tu que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios creem e tremem. (ARA SBB – 2ª Ed.)

[2] Exceção feita aqui à Assembléia de Deus tradicional, visto ser a mesma historicamente reconhecida como pentecostal. Não as mais recentes denominações assembleianas que surgem aqui e acolá todos os dias pois essas, sem sombra de dúvidas, incluem-se no rol das "evangélicas".

[3] Tais igrejas são, como nos explica Martin N. Dreher (Doutor em Teologia pela Universidade de Munique/Alemanha. Protestantes – Evangélicos: buscando entender, in Protestantes, evangélicos e (neo)pentecostais – História, Teologias, Igrejas e Perspectivas – DIAS, Zwinglio Mota et ali. 18ª Ed. São Paulo: Fonte Editorial, 2013), "igrejas de necessidade, de mercado, assemelhando-se em muitos sentidos ao supermercado e ao shopping center, característicos das últimas décadas". E continua, nos informando que "em tais igrejas, os cultos são espaços que oferecem a oportunidade de expressar todo o tipo de emoções nas orações, cantos e gestos. Igrejas onde os fiéis podem esperar uma vida de abundância: paz, saúde, êxito econômico e prosperidade. Nessa teologia, não há lugar para aquilo que é fundamental para o cristianismo: a graça".

[4]Igreja da Inglaterra (em inglês: Church of England), também denominada Igreja Anglicana, é a igreja nacional e denominação cristã estabelecida oficialmente na Inglaterra. Fora da Inglaterra, a Igreja Anglicana é geralmente denominada de Igreja Episcopal, principalmente nos Estados Unidos da América e países da América Latina.

Desde a Reforma Inglesa, a Igreja de Inglaterra têm desenvolvido sua liturgia em língua inglesa. A igreja alberga distintos ramos doutrinários, sendo os três principais os seguintes: AnglocatolicismoEvangelicalismo e Igreja geral.

Assim, trata-se define-se como uma igreja católico-protestante, ou seja, uma igreja que adota a via média, expressão latina que significa "o caminho do meio" sendo, também, uma máxima filosófica para a vida que defende a moderação em todos os pensamentos e ações.

[5] Protestantes conservadores tardios dizem respeito às denominações que surgiram não diretamente do movimento reformista de Martinho Lutero, João Calvino, Philipp Melanchthon Ulrich Zwingli, Jan Hus, dentre outros e, sim, em momentos posteriores e, por vezes, por razões diversas das iniciais, como, por exemplo, no caso dos batistas, que foram um grupo de dissidentes ingleses no século XVII.

[6] Bíblia Judaica completa – 1ª Ed., Ed. Vida, São Paulo/SP, 2010.

[7] Interpretação em que os pontos de vista do leitor são incorporados ao texto.

[8] Movimento cristão, surgido no século XVII, depois da Reforma Protestante, tornando-se uma vertente organizada com o surgimento dos metodistas entre os anglicanos, dos puritanos entre os calvinistas, ambos na Inglaterra e dos pietistas entre os luteranos na Alemanha e Escandinávia

[9] A necessidade de conversão pessoal ou de "renascimento".

[10] Aderência ao sentido literal e explícito da Bíblia; na sua forma mais pura tal crença seria negar a existência de alegoriasparábolas e metáforas na Bíblia.

[11] Ênfase em ensinamentos que proclamam a morte redentora e a ressurreição do Filho de DeusJesus Cristo.

[12] Expressar e compartilhar ativamente o evangelho.