Um colega amigão!
Publicado em 20 de setembro de 2018 por Carlos José Esteves Gondim
Quase sempre passo por lá quando retorno das tricicladas. Na última vez, dia 15 de setembro, parei em frente e fotografei a entrada da alameda Ana Laura, localizada na trav. Lomas Valentinas, entre a av. Duque de Caxias e av. Visconde de Inhaúma, Belém, Pará. Em uma das casas dessa alameda, que morou um colega de trabalho, o Juris Jankauskis e família. A década era a de 1980!
Mas não foi apenas mais um colega e sim um grande amigo, daqueles em que o poeta ensina a gente a “guardar dentro do peito”. Eu agrônomo, ele engenheiro florestal. Eu, docente do Departamento de Fitotecnia da Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, FCAP, hoje Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA e ele docente do Departamento de Engenharia Florestal da mesma instituição. Ficamos amigos. Eu ocupava uma sala do prédio da Horta/Fruticultura e ele uma sala do Departamento Florestal, logo em frente. Quase todas os fins de tarde, ao encerrar o expediente, íamos papear em um pequeno e singelo bar de calçada, localizado na então av. Primeiro de Dezembro, hoje chamada de av. João Paulo II, esquina da trav. Pirajá. Era o Copa 70. Ocupávamos quase sempre uma mesa na beira da calçada cuja vista se projetava para a avenida. O papo era regado à cerveja. Ele gostava de tomar a cerveja acompanhado com uma dose de “Tatá”, carinhoso apelido que ele dava ao aguardente Tatuzinho. E o papo rolava… Certa feita escutei ele falar em um tom um pouco mais alto e alegre: – É dessa balbúrdia que eu gosto! – E apontava para o cenário da rua, em que pedestres andavam pelos meios-fios, atravessavam a avenida onde lhes dava na telha e o trânsito se caotizava entre ônibus apressados, carros buzinentos, motocicletas barulhentas, e bicicletas quase mudas, carroças movidas à cavalos e burros e cães vira-latas, tudo isso junto com resíduos de consumo humano, que se espalhavam no ambiente, pelo vento e pela chuva… – Onde morei, a coisa é tudo muito certinha! – Sentenciava ele. Ele tinha vindo de Curitiba, Paraná.
Aos domingos frequentávamos juntos um clube, o Caixa Parah. E aqui era o encontro completo com nossas famílias. Passávamos boas horas papeando, tomando banho de piscina e comendo iguarias.
Certa feita, me convidou para juntos viajarmos até a Estação Florestal Experimental de Curua-úna onde ele coordenava projetos de manejo florestal, etc. Esta estação pertencia à Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, SUDAM e localizava-se na margem do rio Curuá, no município paraense de Praínha. A logística que usávamos para nela chegar, envolvia voo de Belém até Santarém; De Santarém até a estação, de barco voadeira, singrando a ponta do rio Tapajós, o rio Amazonas e finalmente o rio Curuá. Fazíamos isso quase mensalmente. Impreterivelmente, aos chegarmos em Santarém, alojava-mo-nos em um hotel na orla da cidade e impreterivelmente íamos almoçar numa peixaria, Miguel do Jaraqui. Isto tornou-se quase um ritual! Na estação nos alojávamos na sede antiga, situada em um platô mais elevado da beira do rio, em uma ampla casa de madeira, embora, bem próximo, à poucos metros dessa, mais perto da margem do rio, tivesse uma casa nova, mais confortável, porém, suas paredes foram construídas com uma madeira nativa chamada de louro-bosta. Não preciso dizer mais nada, né?! Em uma dessas viagens à estação aprontamos uma com um colega novato, o Albenízio. A boate da estação. Mas isto será alvo de outro texto.
Estes foram alguns dos episódios que compartilhamos em nossa amizade sincera e feliz. Hoje, ele mora com sua querida família, bem distante daqui, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Compartilho estas lembranças em homenagem a este cara, que um dia cruzou em minha vida e pelo qual posso afirmar que valeu a pena ter vivido por ter conhecido e convivido com o Juris Jankauskis!