Tempos atrás, na sala dos professores, ouvi um colega falar sobre armas antigas e fiquei interessado na conversa. Era o professor Aldo João Alberto, um colecionador de armas  antigas. Entrei na conversa e ficamos mais próximos. Sempre que o encontrava falávamos de guerras e conflitos históricos, bem como dos tipos de armas utilizadas. As nossas preferidas era sobre a guerra de Secessão Norte-Americana. Aldo falava com desenvoltura sobre os rifles, metralhadoras e canhões utilizados na maior guerra civil das Américas.

Contou-me que emprestou sua coleção de armas, devidamente cadastrada e legalizada junto ao Ministério do Exército, para uma exposição da Prefeitura de Santos. Tive vontade de conhecer a coleção, mas por falta de tempo acabei por não ir. Tempos depois comentou que o local foi arrombado e bandidos levaram uma parte da sua coleção. Algumas peças foram encontradas, mas outras ainda continuavam desaparecidas. A história causou grande desgosto ao Aldo, que era muito apegado à sua coleção.

Quando garoto eu era fã de gibis de mocinhos e bandidos. Rock Lane, Hoopalong Cassidy, Cavaleiro Negro etc. povoavam a minha imaginação. Por isso gostava de armas e fabricava toscamente minhas armas de brinquedo com coldre e tudo. Já adulto ainda mantive o interesse por armas antigas, como aquelas utilizadas pelos meus heróis dos gibis e cinema. Nunca tive uma arma, mesmo tendo sido herdeiro de uma Mauser dos anos vinte que pertenceu ao meu padrinho. A arma acabou desaparecendo e eu não fiquei triste por isso. Nunca imaginei tendo uma arma em casa pelos riscos que pode representar.

No ano passado emprestei ao Aldo João Alberto um livro sobre armas do século XIX, The Illuystrated Encyclopedia of 19th Century do Major F. Myatt MC, que ganhei de minha esposa há um bom tempo. Ele adorou o livro e apesar de um amigo dizer que o empréstimo de livros tem dois ingênuos, o que empresta e o que devolve, o livro foi devolvido com muitos agradecimentos.  Não me incomodaria se não fosse devolvido e teria uma boa desculpa para justificar o sumiço do presente, pois poderia ser mais útil a ele do que a mim.

Na última sexta-feira, ao apagar das luzes, o Aldo se despediu, dizendo “Até amanhã”, ao que eu espondi: “amanhã eu não venho” e ele retrucou: “Nem eu... “ E saiu rindo e talvez pensando no passeio pela praia,  no por do sol na orla, o mar que não tem tamanho... Mal sabia ele que não mais retornaria à sala de aula e tampouco reencontraria seus amigos para contar as novidades ou uma nova piada. O professor Aldo João Alberto deixou a vida no domingo, às 13 horas para ficar na memória dos parentes e amigos que não vão esquecê-lo. Eternamente João, um colecionador de amigos e armas.

Renato Ladeia

20/2/17