Vanessa Maria Redígolo Castilho
Mestre em Educação- UNESP Presidente Prudente

Este trabalho é fruto de um recorte de uma pesquisa de mestrado intitulada “Avaliação: Concepções teóricas e práticas no cotidiano da Educação Infantil e suas implicações” integrada ao Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, na qual teve como objeto de estudo a avaliação da aprendizagem e desenvolvimento na Educação Infantil. No presente artigo objetivamos identificar e analisar as concepções sobre avaliação, de 4 professoras e 1 coordenadora que atuam na primeira etapa da Educação Infantil, especificamente na modalidade creche, no agrupamento do maternal (03 anos). A pesquisa enquadra-se na modalidade tipo estudo de caso, numa abordagem qualitativa. Para a recolha de dados, foram usados como instrumentos a observação estruturada, questionário, relatos dos professores e gestor, documentos, registros escritos e fotográficos, portfólios e toda forma de avaliação adotada pela instituição. Os resultados alcançados relacionados à finalidade da avaliação revelaram que os profissionais reconhecem que a mesma possui especificidades próprias e que deve ser feita tendo em vista o desenvolvimento e a aprendizagem da criança. Consideram que, para realizar essa avaliação de maneira coerente, faz parte do processo: observar a aprendizagem, conhecer as dificuldades e facilidades da criança, avaliar o comportamento, acompanhar, conhecer, observar se os objetivos propostos foram atingidos, rever as atividades, planejar e etc. No que concerne ao comportamento da criança, é importante evidenciar que o mesmo deve ser estudado e refletido entre os profissionais de maneira que haja um aprofundamento do tema, assim como também deve haver estudo e discussão sobre as concepções de infância, aspectos do desenvolvimento e evolução da aprendizagem para que a avaliação se aprimore constantemente.

Palavras chaves: Avaliação. Aprendizagem. Educação Infantil

CONCEPT OF EVALUATION AND ITS ASSUMPTIONS IN THE VISION OF THE PROFESSIONALS OF CHILD EDUCATION
This work is the result of a clipping of a master's research entitled “Evaluation: Theoretical and practical conceptions in the day-to-day kindergarten and its implications” integrated to the Master's Degree Program in Education of the Faculty of Science and Technology of Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, whose object of study was the assessment of learning and development in early childhood education. In the present article we aim to identify and analyze the conceptions of evaluation of 4 teachers and 1 coordinator who work in the first stage of early childhood education, specifically in the kindergarten mode, in the nursery group (03 years). The research fits in the case study type, in a qualitative approach. For data collection, the following instruments were used: structured observation, questionnaire, teachers and manager reports, documents, written and photographic records, portfolios and all forms of evaluation adopted by the institution. The results achieved related to the purpose of the evaluation revealed that professionals recognize that it has its own specificities and that it should be done in view of the child's development and learning. They consider that, to carry out this assessment in a coherent way, it is part of the process: to observe the learning, to know the child's difficulties and facilities, to evaluate the behavior, to follow, to know, to observe if the proposed objectives were reached, to review the activities, to plan and to etc. Regarding the child's behavior, it is important to highlight that it should be studied and reflected among professionals so that there is a deepening of the theme, as well as there should be study and discussion about childhood conceptions, aspects of development and evolution. learning so that assessment constantly improves.

Keywords: Evaluation. Learning.  Child education

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é fruto de um recorte de uma pesquisa de mestrado intitulada “Avaliação: Concepções teóricas e práticas no cotidiano da Educação Infantil e suas implicações” integrada ao Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, na linha de pesquisa “Processos formativos, infância e juventude”, na qual teve como objeto de estudo a avaliação da aprendizagem e desenvolvimento na Educação Infantil.
Discutir sobre a avaliação é algo de extrema importância, consideramos que aprofundar nessa temática é mergulhar num universo pouco explorado, porém de imensa relevância. A avaliação da aprendizagem deve estar presente no cotidiano escolar, independentemente da faixa etária da criança. Dessa forma, a mesma precisa ser planejada tendo o aluno como parte principal do processo, partindo do pressuposto que se quer alcançar, de maneira que haja a reflexão sobre os resultados obtidos, os quais podem variar de acordo com o tipo de avaliação que foi oferecida aos educandos. 
Desse modo, a avaliação da aprendizagem pode aparecer, em geral, de dois modos: formal e informal. No modo formal, geralmente avaliação aparece de forma explícita, por meio de notas e conceitos (assim como era utilizado na pedagogia tradicional) e, no informal, aparece de forma mais subjetiva, desvelando as impressões, (pré)conceitos e julgamento da professora em relação ao aluno (GODOI, 2010). 
Independentemente de ser formal ou informal, a prática avaliativa pode ser classificatória ou mediadora. A avaliação classificatória ocorre tendo em vista classificar os alunos, definindo-os através de notas e conceitos para que, com isso, seja julgada sua aprovação ou retenção; já a prática avaliativa mediadora promove oportunidades de desenvolvimento dos alunos juntamente com a reflexão crítica da ação pedagógica, considerando a importância do diálogo para a elaboração do conhecimento.
Quanto a sua etimologia, a palavra avaliar vem do latim valere e significa “[...] determinar a valia ou valor de algo ou alguém. ” (FERREIRA, 2005).  O dicionário ainda conceitua avaliar como: 1. Determinar o valor de, 2. Compreender, 3. Apreciar, prezar. Já no Dicionário Michaelis (1999), a palavra é descrita como: 1. Ato de avaliar. 2. Apreciação, cômputo, estimação. Contudo, avaliar algo ou alguém vai muito além dos conceitos apresentados nos dicionários, pois a avaliação implica julgamentos, reflexões e apreciações, as quais são vivenciadas durante todo o processo da prática avaliativa. Independentemente dos diversos conceitos atribuídos a avaliação, compreendemos que a mesma, além de ser extremamente necessária para a vida, deve também ser considerada uma atividade indissociável da educação.
 Dessa maneira, consideramos que não pode haver uma educação de qualidade sem algum tipo de avaliação da aprendizagem. Luckesi (2010), ao realizar vários estudos sobre “avaliação”, afirma que o termo avaliar é formulado a partir das determinações da conduta de atribuir um valor ou qualidade a alguma coisa, que, por si, implica um posicionamento positivo ou negativo em relação ao objeto, ato ou curso de ação avaliado. 
A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

As questões relativas à avaliação da aprendizagem na Educação Infantil têm se tornado cada vez mais abrangentes. É muito comum ouvirmos afirmações sobre a importância da avaliação e atual necessidade, entretanto, há muitas indagações e dúvidas sobre qual é a melhor maneira de avaliar crianças de pouca idade, mais precisamente, do nascimento ao quinto ano de vida.
Destacamos desse modo que corriqueiramente observamos professores que se assustam com o termo “avaliar” na Educação Infantil; tal situação ocorre, devido ao fato de muitas pessoas associarem o conceito errôneo de avaliação relacionado ao de provas e medidas. Nesse sentido, Garms e Santos (2014) evidenciam que o panorama da Educação Infantil apresenta um cenário de muitas interrogações e indefinições quanto à concepção dessa prática, bem como análise e reflexões concernentes ao próprio significado da Educação Infantil. As crianças nessa faixa etária (0 a 5 anos) se desenvolvem de forma acelerada, em termos de oralidade, evolução motora e de novas descobertas, tudo isso em tempos e aspectos muitos diferentes de uma criança para a outra. 
Portanto, é importante que a avaliação da aprendizagem ocorra tendo um enfoque processual observando a individualidade de cada criança. A avaliação da aprendizagem contempla interrogações quanto à efetivação, na prática, de uma concepção que tenha por intenção a melhoria da ação educativa. (HOFFMANN, 2015). Avaliar, na Educação Infantil nessa perspectiva, nos remete a compreender a infância como uma fase de descobertas, como já explicitado por Kuhlmann Júnior (2015), ou seja, respeitando essas descobertas e as especificidades da fase na qual se encontram. Todavia, ao avaliarmos crianças de tão pouca idade, faz-se necessário que o professor conheça como ocorre seu desenvolvimento, a aprendizagem e suas possíveis variações. É preciso entender a criança, tanto no seu plano biológico como no seu desenvolvimento intelectual e como a mesma se apropria do conhecimento.
O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1988) destaca que a avaliação não deve ocorrer apenas no final de um trabalho, mas deve ser contínua. “É tarefa permanente do professor, instrumento indispensável à constituição de uma prática pedagógica e educacional verdadeiramente comprometida com o desenvolvimento das crianças.”  (BRASIL, 1998, v. 3, p. 203). A partir dessa referência, compreendemos que, ao avaliar de forma contínua e integral, conseguimos conhecer cada criança, observar detalhes e permanecer atentos às suas ações, avanços e necessidades. O comprometimento do professor com o aluno se traduz como uma prática pedagógica fundamentada em qualidade.
Nesse pressuposto, a avaliação com crianças pequenas tem como finalidade servir para intervir, tomar decisões, observar a evolução e progresso da criança, como também para intervir e modificar determinadas situações, relações ou atividades (BASSEDAS; HUGUET; SOLÉ, 1999).
Para a concretização da avaliação na Educação Infantil com qualidade, nos pautamos na LDBEN 9394/96, art. 31 – a qual atesta que a avaliação nessa etapa ocorrerá mediante ao acompanhamento de registro do seu desenvolvimento sem o objetivo de promoção, mesmo para o Ensino Fundamental – e nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (2010), que possuem caráter mandatório, apresentando de maneira mais específica e elaborada a função de orientar a prática cotidiana e de realizar a avaliação.  No art.10 das DCNEI (2010), em consonância com a LDBEN, é definido que as instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para acompanhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, garantindo:

A observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; - Utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); - A continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental); - Documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil; - A não retenção das crianças na Educação Infantil.

Podemos observar que tanto a LDBEN, como as DCNEI partem do princípio de que, para avaliar, é necessário haver um acompanhamento e a não retenção, independentemente da faixa etária ou agrupamento.
Nesse contexto, acreditamos na necessidade que haja um aprofundamento em teorias e pesquisas que se ocupam do tema referente à avaliação da aprendizagem, na Educação Infantil, e que nos apontem caminhos para que a avaliação tenha como foco principal o desenvolvimento da criança. Destacamos, que o tema nos traz grandes desafios, os quais devem ser superados para que possamos entender onde estamos e onde queremos chegar em relação ao objeto de estudo.

METODOLOGIA 

A metodologia escolhida para a investigação foi a abordagem qualitativa, na qual realizamos um estudo de caso em uma escola de Educação Municipal de Educação Infantil (EMEI) que atende crianças de 6 meses a 3 anos. Trata-se de uma unidade construída no âmbito do Programa Nacional de Reestruturação e Aparelhagem da Rede Escolar Pública de Educação Infantil (PROINFÂNCIA).
A pesquisa qualitativa, na concepção de Triviños (1987), trabalha os dados buscando seu significado, e tem como base a percepção do fenômeno dentro do seu contexto. A descrição qualitativa procura captar não só a aparência do fenômeno como também sua essência, explicando sua origem, relações e mudanças, e tentando intuir as consequências. Para Barbier (2002), a abordagem qualitativa procura se concentrar numa investigação social e histórica, a qual possibilita ao pesquisador interagir com o indivíduo ou com o grupo que está sendo investigado. 
Pretendendo investigar o objeto de estudo profundamente, realizamos o estudo de caso. De acordo com André (1984), os estudos de caso procuram retratar a realidade de forma completa e profunda. Pretendem revelar ainda, a multiplicidade de dimensões presentes em uma dada situação, focalizando-a como um todo, mas sem deixar de enfatizar os detalhes, as circunstâncias específicas que favorecem uma maior apreensão desse todo.
A pesquisa de maneira geral objetivou identificar e analisar as concepções sobre avaliação de 4 (quatro) professoras e 1 (uma) coordenadora que atuam na primeira etapa da Educação Infantil, especificamente na modalidade creche, no agrupamento do maternal (03 anos), buscando constatar se a finalidade do processo avaliativo nas práticas desenvolvidas com as crianças é pautado tendo em vista seu desenvolvimento e aprendizagem. No presente artigo nos limitamos a debater sobre as concepções a respeito da avaliação no cotidiano da instituição dos sujeitos envolvidos, bem como seus apontamentos.
 Para preservar a identidade das professoras, adotaremos as letras (P), para indicar “profissional”, e A, B, C, D, E, para identificar cada uma delas. Dentre as (5) cinco profissionais, quatro delas possuem nível superior e uma possui formação em magistério. Dentre as formadas em nível superior, todas são pós-graduadas em nível de especialização, sendo três em psicopedagogia e uma em neuropedagogia. As profissionais A, B e C são efetivas, enquanto D e E são contratadas por dois anos, mediante a realização de processo seletivo. 
Os instrumentos adotados para a recolha de dados foram: observação estruturada, questionário, relatos dos professores e gestor, documentos, registros escritos e fotográficos, portfólios e toda espécie de avaliação realizada pela instituição. Nesse recorte, nos aprofundaremos nos relatos advindos das respostas do questionário, no qual foi aplicado aos sujeitos como uma forma de recolha significativa das informações e dos dados necessários para compreender o fenômeno social em questão. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para compreendermos a concepção de avaliação e seus pressupostos na visão das profissionais participantes da pesquisa, utilizamos uma questão aberta do questionário e alguns relatos que nos revelam o conceito dos profissionais sobre a avaliação na Educação Infantil e suas práticas avaliativas. A pergunta utilizada foi: Qual o conceito de “avaliação” na Educação Infantil, em sua opinião?
A coordenadora respondeu: 
A avaliação na Educação Infantil deve ser contínua, tendo em vista a aprendizagem da criança. No meu caso, como atuo na coordenação, a avaliação também ocorre em função do bom desenvolvimento da Instituição, assim a avaliação é realizada diariamente e tem muitos objetivos. É preciso avaliar o que ocorre de positivo e negativo no pedagógico e no setor administrativo. (P.A)

A coordenadora, ao conceituar a “avaliação”, evidencia que, devido à sua atribuição, a avaliação assume outras funções que vão além do caráter pedagógico. Essa afirmação está em consonância com os estudos de Vasconcellos (2002), que, ao se referir à coordenação, ressalta que [...] a preocupação da coordenação é muito ampla, envolve questões de currículo, construção de conhecimento, aprendizagem, relações interpessoais, ética, disciplina, avaliação da aprendizagem, relacionamento com a comunidade, recursos didáticos, etc. (p.85).
Ao conceituar a “Avaliação”, a professora (C) reforça a importância da observação, mediação e intervenção.  
Na minha opinião avaliar na educação infantil significa observar, mediar e intervir, ou seja, a observação permite ao professor perceber as facilidades e as dificuldades que a criança enfrenta no decorrer do seu desenvolvimento. Dessa forma, é possível o professor mediar ou intervir em algumas situações de aprendizagens, de comportamento e onde o aluno necessite. 
     
A observação é extremamente importante no processo avaliativo realizado com crianças pequenas. É através do ato de observar que o professor fica atento às particularidades de cada criança. A observação das formas de expressão das crianças, de suas capacidades de concentração e envolvimento nas atividades “[...] é um instrumento de acompanhamento do trabalho que poderá ajudar na avaliação e no replanejamento da ação educativa. ”  (BRASIL,1998).
Conforme os apontamentos de Hoffmann (2015), é preciso que essa observação não ocorra em tempos estanques ou delimitados, resultando em reflexão e ação. Essa postura reflexiva da ação parece estar presente quando a (PC) relata que “[...] a observação permite ao professor perceber as facilidades e as dificuldades que a criança enfrenta no decorrer do seu desenvolvimento” e acrescenta que, dessa forma, é possível mediar e intervir.  A intervenção do professor é tomada por Bassedas, Huguet e Solé (1999) como um imprescindível componente da avaliação, pois é um momento no qual é possível modificar determinadas situações.
 Nesse mesmo sentido, Perrenoud (2000) realça a importância de intervir a partir das observações no processo da avaliação, realizando uma pedagogia diferenciada. Ao fazer a mediação, o professor é capaz de se posicionar em um estado de alerta que acompanha e estuda a história da criança, em seu processo de desenvolvimento.
Nas respostas a seguir, oriundas da mesma pergunta, as professoras (B, D e E) evidenciaram que deve ser avaliado se a criança atendeu aos objetivos propostos.
Para a (PB): 
A avaliação é uma maneira de nós avaliarmos como professores, de observar se o objetivo proposto foi realizado. É o momento de avaliar as crianças, seus comportamentos, participações nas atividades diárias, desenvolvimento e observar o grau de aprendizagem de cada aluno. (grifo nosso).  

Para a (PD): 
A avaliação é de fundamental importância na educação infantil, não para dar nota (como no ensino fundamental), mas para avaliar se a criança atendeu os objetivos propostos, para avaliar a participação nas atividades, a interação com o meio que as norteiam. A avaliação também é importante para que eu perceba como posso ajudar meus alunos a evoluírem. (grifo nosso).  

Para a (PE):  
A avaliação é uma maneira de nos avaliar, avaliar se os objetivos foram propostos e bem realizados. Devemos avaliar a criança em seu comportamento, na participação das atividades, observando sempre o grau de aprendizagem de cada aluno. (grifo nosso).

Ao preocupar-se com a avaliação, tendo em vista se a mesma atingiu os objetivos propostos do professor, as professoras vão de encontro aos estudos de Didonet (2006), que ressaltam que o modelo de avaliação deve estar estreitamente articulado com os objetivos que se quer alcançar, ou seja, é preciso haver coerência entre avaliação e finalidades da Educação Infantil.  Dessa maneira, é necessário que os objetivos sejam atentamente elaborados de acordo com a faixa etária da criança, respeitando sua especificidade e seu período de desenvolvimento.
 Nessa mesma concepção, Rosemberg (2001) afirma: 

A avaliação constitui uma forma particular de pesquisa social que tem por finalidade determinar não apenas se os objetivos propostos foram atingidos (conceituação tradicional), mas também se os objetivos propostos respondem às necessidades dos participantes diretamente concernidos pela educação infantil: pais (especialmente as mães), profissionais e crianças. (ROSEMBERG, 2001, p. 23).

Dessa forma, é primordial que numa proposta construtivista da avaliação, os objetivos devem ser realizados no sentido máximo do desenvolvimento dos alunos, no seu sentido amplo, e alcançados por eles a partir das oportunidades que o meio lhes oferece. Dessa maneira, não podemos definir como objetivos aquilo que a criança ainda não tem maturidade para realizar. (HOFFMANN, 2014).
 Consideramos como de fundamental importância a circunstância das professoras (B) e (E) relatarem que a avaliação serve para avaliar também o professor. Rever o que foi proposto ao aluno e se avaliar está diretamente relacionado às práticas avaliativas formativas, ou seja, o professor é capaz de analisar e perceber, ao longo do processo, como seu trabalho está sendo realizado e se precisa melhorá-lo.  É nessa ótica que Haydt (2000) contempla a relação que há entre a avaliação da aprendizagem do aluno e a avaliação do próprio trabalho do professor, isto é, avaliando a aprendizagem e o desenvolvimento expresso no aluno, o professor avalia igualmente o que conseguiu ensinar.
Em síntese, ao avaliarmos nossa prática, estamos refletindo e melhorando nosso trabalho, através da tomada de consciência clara do nosso próprio papel de educador.   Destacamos que as professoras (B e E,) ao conceituarem a avaliação, apontaram que a mesma deve ser promovida tendo em vista o comportamento da criança. Ambas citaram:
É o momento de avaliar as crianças, seus comportamentos, participações nas atividades diárias, desenvolvimento e observar o grau de aprendizagem de cada aluno. (PB, grifo nosso).  
Devemos avaliar a criança em seu comportamento, na participação das atividades, observando sempre o grau de aprendizagem de cada aluno”. (PE, grifo nosso). 

 Zabalza (1998) assevera que é preciso ter uma atenção privilegiada aos aspectos emocionais, pois eles são a base do desenvolvimento infantil que influencia no desenvolvimento psicomotor, social e cognitivo. Consideramos que a forma comportamental apresentada pela criança é um importante critério para as conhecermos, revelando ainda, na maioria das vezes, o que ela está sentindo, como age, em momentos alegres, tristes, prazerosos e etc. Todavia, acreditamos que é preciso haver um certo cuidado quando a avaliação é realizada, tendo como foco as atitudes comportamentais da criança, para não as rotular. É preciso estar atento às necessidades que a criança apresenta, através do comportamento, e não utilizar julgamentos oriundos de uma avaliação informal sem intencionalidade. 
Estudos de Hoffmann (2014, 2015) dão conta de que não há como observar o desenvolvimento da criança com base no comportamento, numa escala classificatória. “Por mais que os professores tentem encaixar as crianças num rol padronizado de expectativas, encontrarão pela frente o inusitado, o inesperado, diferentes reações das crianças a cada situação vivida por elas. ” (HOFFMANN, 2015, p. 46). Nesse sentido, cada criança apresenta um comportamento diferente diante de uma mesma situação, os comportamentos não são e não devem ser padronizados.
As professoras também relataram que sempre acharam a avaliação na Educação Infantil algo importante, porém pouco aprenderam sobre o assunto e afirmam possuir dificuldades em relatar o progresso das crianças e seu desenvolvimento. Elucidaram que se houvesse um roteiro norteador, provavelmente tal prática se tornaria mais eficaz.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, tendo em vista o referencial teórico, destacamos que os sujeitos da pesquisa possuem conhecimento acerca da avaliação na Educação Infantil. De forma implícita, reconhecem a importância da avaliação formativa e mediadora, de modo que a mesma auxilie as crianças acompanhando suas conquistas, dificuldades e possibilidades, ao longo de seu processo de aprendizagem
Por meio dos relatos das professoras e coordenadoras, foi possível desvelar que estas, consideram que a avaliação possui finalidades importantes e que, para realizar essa avaliação de maneira coerente, faz parte do processo: observar a aprendizagem, conhecer as dificuldades e facilidades da criança, avaliar o comportamento, acompanhar, conhecer, observar se os objetivos propostos foram atingidos, rever as atividades, planejar e outros. Acreditamos que todos esses apontamentos são importantes e necessários e devem estar interligados, pois não é possível avaliar a aprendizagem e o desenvolvimento da criança isoladamente, haja vista, a avaliação da aprendizagem ocorre constantemente.
Cabe destacar que a avaliação também possui uma prerrogativa muito forte em relação ao comportamento da criança, o que nos leva a evidenciar a necessidade que o mesmo seja estudado e refletido com todos os profissionais, assim como também deve haver estudos sobre as concepções de infância, aspectos do desenvolvimento e evolução da aprendizagem para que a avaliação se aprimore.
Concluímos ainda que avaliar na Educação Infantil, se constitui em muitas implicações, visto que se trata de algo novo, sendo primordial que haja reflexões para entender sua finalidade. Essa avaliação não pode mais ser ignorada ou desconhecida, uma vez que está assegurada na LDBEN 9394/96, seção II, art. 31, a qual atesta que a avaliação nessa etapa ocorrerá mediante o acompanhamento de registro do seu desenvolvimento sem o objetivo de promoção, mesmo para o Ensino Fundamental. 
Corroboramos a necessidade de que haja mais pesquisas nessa área, para que possamos ampliar o conhecimento e confrontar como ocorre a avaliação da aprendizagem e desenvolvimento, em outras instituições e destacamos que o referido artigo traz apenas alguns apontamentos da pesquisa realizada.
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