UM BREVE ESTUDO SOBRE O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

Por alessandra aparecida avelino dos santos custodio | 29/07/2023 | Educação

UM BREVE ESTUDO SOBRE O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 

O processo de alfabetização e letramento é fundamental na vida da criança, pois é por meio dele que ela adquire as habilidades básicas de leitura e escrita, que são fundamentais para a sua inserção na sociedade e para o desenvolvimento de outras competências cognitivas.

A alfabetização e letramento contribuem para a ampliação do universo cultural da criança, permitindo que ela tenha acesso a diferentes tipos de informação e conhecimento, além de desenvolver a capacidade de compreender e se expressar de forma adequada em diferentes situações comunicativas.

Logo, letramento sem a alfabetização também pode ser insuficiente. A compreensão e a produção de textos escritos dependem do domínio das regras gramaticais e do conhecimento do sistema de escrita. O desenvolvimento de uma escrita clara e coesa só é possível a partir do conhecimento da estruturação e organização dos textos.

Em resumo, a alfabetização e o letramento são conceitos complementares e essenciais para o desenvolvimento da competência comunicativa dos indivíduos. É preciso que a escola e os educadores atuem de forma integrada no processo de ensino e aprendizagem da língua.

Emília Ferreiro, uma renomada psicóloga e pesquisadora argentina que se destacou por seus estudos sobre a aquisição da linguagem escrita pelas crianças. Em suas pesquisas, a autora questiona a ideia de que a alfabetização é um processo linear e mecânico, no qual a criança aprende a associar símbolos gráficos aos sons da fala de forma automática.

Em vez disso, ela argumenta que a aquisição da escrita é um processo complexo, que envolve a construção gradual de conhecimentos sobre a linguagem escrita e a sua relação com a linguagem oral.

Os estudos de Ferreiro foram dedicados ao estudo da psicogênese da língua escrita, onde foi analisado como as crianças aprendem a ler e escrever e propôs uma teoria da alfabetização que contrasta com a ideia tradicional de que as crianças aprendem a ler e escrever de maneira linear, começando pelo reconhecimento das letras e sílabas isoladas, passando pelo reconhecimento de palavras e, finalmente, pela leitura e escrita de textos completos.

Assim, a autora, iniciou pesquisas sobre os trabalhos realizados acerca do processo alfabetização na década de 1970, mais precisamente em 1974, quando começou a estudar as hipóteses que as crianças desenvolviam sobre a escrita, onde seu primeiro livro, "Los Sistemas de Escritura en el Desarrollo del Niño", que em português seria, “Compreensão e produção da escrita: um processo sócio cognitivo, sendo publicado em 1979 e teve grande impacto na área da educação, onde desde então, tem se dedicado à pesquisa e reflexão sobre a alfabetização e o processo de letramento, juntamente com outros autores acerca do tema.

Logo, surge uma nova visão sobre a alfabetização e o letramento, argumentada pela aprendizagem da língua escrita não é um processo natural e espontâneo, mas sim um processo complexo que envolve a construção de significados e a atribuição de valores sociais à escrita (FERREIRO, 1979).

A autora ainda destaca que a alfabetização não deve ser vista apenas como o domínio do código linguístico, ou seja, o aprendizado das letras e sons, mas também como um processo de compreensão e produção de textos, enfatizando que a alfabetização deve estar integrada ao letramento, ou seja, a capacidade de usar a escrita para se comunicar e interagir com o mundo.

Além disso, Ferreiro (1979), propõe que o processo de alfabetização não ocorre de forma linear, em que o aluno primeiro aprende as letras, depois as palavras e, por fim, as frases e textos completos. Ela argumenta que as crianças constroem hipóteses sobre a língua escrita desde o início do processo, e que essas hipóteses são influenciadas por suas experiências e conhecimentos prévios.

Diante desse contexto, Ferreiro (1979), afirmou que a alfabetização e o letramento são processos complexos e inter-relacionados, que não ocorrem de forma linear e que envolvem a construção de significados e a atribuição de valores sociais à escrita.

A criança não aprende a ler e escrever simplesmente decodificando letras e palavras, mas sim construindo seu próprio conhecimento sobre a língua escrita a partir de suas hipóteses e conjecturas. Em outras palavras, a alfabetização é um processo ativo e construtivo, no qual a criança busca compreender o funcionamento da língua escrita a partir de suas próprias experiências (FERREIRO, 1979).

Assim, a autora propõe que, na fase inicial do processo de alfabetização, a criança compreende que a escrita tem uma função comunicativa, mas não compreende que as letras representam sons da fala. Nessa fase, a criança faz uso de uma escrita pré-silábica, que consiste em desenhos ou garatujas sem relação com a linguagem oral.

Em seguida, a criança passa para a fase silábica, na qual já reconhece que a escrita representa a fala, mas ainda não compreende completamente as regras do sistema alfabético, onde nessa fase, a criança começa a representar as palavras por meio de sílabas.

Posteriormente, a criança evolui para a fase alfabética, na qual compreende que as letras representam sons e começa a utilizar essa compreensão para escrever e por fim, na fase ortográfica, a criança compreende e utiliza as regras ortográficas da língua escrita.

Assim, Ferreiro (1979), destaca que o processo de alfabetização não é linear e que a criança passa por diversas fases, cada uma com suas particularidades. Além disso, a autora destaca que o processo de letramento vai além da aquisição do sistema alfabético, incluindo também o uso social da linguagem escrita em contextos diversos.

Após, a realização das pesquisas e análises a autora salienta que as crianças passam por diversas fases muito importantes para entendermos como aprendem a ler e escrever na construção de seu conhecimento sobre a língua escrita, durante o processo de alfabetização e letramento, que podem ser entendidas por meio de fases, sendo:

  1. Pré-silábica: Nesta fase, a criança ainda não compreende a função da escrita e a relação entre letras e sons. Por isso, ela faz rabiscos e desenhos que não se parecem com a escrita convencional. É importante que os professores e pais respeitem essas produções e não as considerem erros, mas sim como um primeiro passo na construção da escrita.
  2. Silábica: Nesta fase, a criança começa a compreender que as letras têm um valor sonoro, mas ainda não consegue relacionar cada letra a um som específico. Por isso, ela escreve as palavras de acordo com as sílabas que ouve, muitas vezes omitindo ou trocando letras. É importante que os professores e pais estimulem a criança a refletir sobre suas escritas, fazendo perguntas que possam ajudá-la a perceber a relação entre as letras e os sons.
  3. Silábico-alfabética: Nesta fase, a criança já compreende que as letras têm valor sonoro e começa a relacionar cada letra a um som específico. Porém, ela ainda não domina completamente as correspondências entre letras e sons, e por isso escreve as palavras com base nas sílabas e nas letras que já conhece. É importante que os professores e pais estimulem a criança a fazer hipóteses e a experimentar diferentes combinações de letras, para que ela vá se apropriando das regras ortográficas da língua escrita.
  4. Alfabética: Nesta fase, a criança já compreende as correspondências entre letras e sons e é capaz de ler e escrever palavras de forma convencional. É importante que os professores e pais estimulem a criança a ler e escrever textos cada vez mais complexos, para que ela possa ampliar seu repertório e desenvolver sua capacidade de compreender e se expressar por meio da escrita.

Diante dos estudos das fases pelas quais a criança percorre, o processo de alfabetização e letramento deve levar em conta as hipóteses e conjecturas que a criança tem sobre a língua escrita, de modo a permitir que ela construa seu próprio conhecimento de forma significativa e autônoma. Isso implica em um processo de ensino que valorize a experimentação, a descoberta e a reflexão sobre a língua escrita, em vez de uma simples transmissão de informações e técnicas (FERREIRO, 1979).

 Compreender as fases da escrita da criança segundo Ferreiro (1979), nos permite entender que a alfabetização é um processo complexo e gradual, no qual a criança vai construindo seu conhecimento sobre a língua escrita de forma autônoma e significativa. Cabe aos professores e pais estimular e orientar esse processo, respeitando as hipóteses e conjecturas das crianças e promovendo um ambiente de aprendizagem rico em experiências e reflexões sobre a língua escrita.

 

REFERÊNCIAS

FERREIRO, E. Compreensão e produção da escrita: um processo sócio-cognitivo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1979.

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