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Era o ano de 1961. Um ano que, curiosamente, pela disposição de seus algarismos, também podia ser lido com o mesmo resultado de cabeça para baixo, e a partir do qual importantes acontecimentos começavam a ocorrer em nosso país e no exterior, como a posse de Jânio Quadros como presidente do Brasil e a de John Kennedy nos Estados Unidos; a frustrada invasão da Baia dos Porcos, em Cuba, por exilados residentes nos Estados Unidos; a crise política no Brasil; a renúncia de Jânio Quadros; a construção do Muro de Berlim; a adoção do parlamentarismo no Brasil como novo sistema (transitório) de governo e a posse de João Goulart com Tancredo Neves assumindo o cargo de Primeiro Ministro.
Eu, naquele final de dia do ano de 1961, com a idade de treze anos, completamente alheio ou alienado a esses acontecimentos, acabara de tomar um banho e o café da tarde, e saía para a frente da minha casa.
Já era de tardezinha. Encaminhei-me para a esquina, a ver se encontrava algum dos guris da vizinhança. Mas não havia ninguém. A tarde estava morna. Sem nenhum vento. Quando cheguei lá, parei, olhei para todos os lados. Tudo estava deserto. Que estranho. Seis horas da tarde e ninguém na rua. O silêncio era total. Foi então que senti algo retinir, como se alguém tivesse jogado uma pedra nos fios de luz acima da minha cabeça. E quando olhei para cima, vi aquele enorme objeto se afastando verticalmente e girando sobre si mesmo, como se fosse um pião gigante, emitindo um som estranho a cada volta e, como se fosse um chafariz luminoso, irradiando luzes de diversas cores.
Fiquei olhando, até ele sumir no céu. Depois, olhei ao redor, a ver se encontrava alguém que pudesse testemunhar o que eu acabara de ver e ouvir.
Mas não havia ninguém. A tarde continuava morna, deserta e silenciosa.
Esta foi a primeira vez que avistei algo parecido a um Disco Voador.
Depois disso passaram-se três décadas. Cresci, estudei, trabalhei no comércio e no setor bancário, casei, tive filhos, fui embora da minha cidade, retornei a ela e escrevi vários livros. E durante todo esse tempo, nenhum daqueles acontecimentos políticos da década de 60 influenciou muito a minha vida. Porém nunca me esqueci daquele confronto, em 1961, com um disco voador.
Trinta e quatro anos depois, em 1995, e já aposentado, estava uma noite de verão tomando mate com o meu amigo poeta, professor, escritor e ambientalista Juca Sampaio, no pátio da minha residência, e observávamos o céu povoado de estrelas, quando vimos um ponto luminoso se deslocando, linearmente, durante um bom tempo, de uma estrela para outra.
E ficamos, eu e o meu amigo professor, cogitando se aquilo sería um satélite artificial descrevendo um pequeno segmento retilíneo de sua trajetória, ou quem sabe uma nave espacial de grandes dimensões, e por isso visível no céu noturno, em tão distante ponto do espaço, numa talvez rotineira, curta e silenciosa viagem.
Seja como for, o mistério continua, e enquanto os governos permanecem em silêncio, o noticiário nos diz que outras pessoas em diferentes épocas e lugares têm avistado esses estranhos objetos voadores não identificados, estimando-se, através do depoimento de alguns estudiosos, que procedem de mais de duzentas origens planetárias, da Via Láctea e de outras galáxias.
Luciano Machado