Ufa!!!

 

 

Que dor doída se sentir,

Que dor doída de engolir,

Que dor doída de doer...

 

 

Será mesmo que terei que me contentar com o efeito placebo, para que ela, a dor, se vá? Essa dor que é vista subjetivamente como um dos mais primitivos sentimentos do ser humano, que o acompanha do nascimento à morte. Será, que ela em mim vai permanecer para sempre, fazendo com que eu me sinta deitada em uma cama de pregos... Será que terei que ser como os iogues, para aprender a controlar as batidas de meu coração, que são tão teimosas, tão desastradas, que se fazem ouvir, por quem tiver sensibilidade para tal?

Como negar, que dói pela perda, pelo remorso, traição, injustiça, ingratidão, que não existe e não machuca...  Como negar?

A dor nos mostra o quão frágeis somos, quando percebemos que a dor dói, seja ela da alma, do amor, seja lá do que for. Dor é dor.

Eu estou metade de mim. Já não me pertenço na totalidade. Sinto-me meio viva, meio morta...

Meus sonhos esvaindo-se, minhas ilusões fragmentando-se em pedaços tão pequenos, que jamais poderei juntá-los novamente... Nem que eu queira, nem que queiram...

Volto a jogar tudo para minha sombra, para meu porão, para o saco imenso que carrego nas costas e arrasto pela vida...

Um saco já tão lotado de coisas estranhas à minhas entranhas, que pesa cada vez mais e que mesmo tendo tudo trancafiado, com pouco espaço, crescem e crescem e mais... E pesa... Pesa tanto...Trazem uma dor intensa... Que aperta. Que dói. A dor doída de doer.                                   

Ah, como eu queria esvaziar esse lixo...

 Mas não consigo... Porque em minha insanidade, acumulo sempre mais e quando me atrevo a olhar para trás, sinto uma dor tão doída de sentir e que compartilharei sempre e cada vez mais comigo. Comigo mesma.

Tudo que é meu, no meu pequeno e insignificante mundo, a mim pertence.

 É o vergonhoso, o errado,o que eu não devia e fazer, o imundo, o pecaminoso... Tudo aquilo que quero e devo ocultar... Até de mim. Como se possível fosse.  Isso tudo me constrange, me faz querer de mim, aceitação. A minha...

Faz com que eu deseje um olhar terno, um toque atenuante, um querer que minh’alma se aquiete, para que assim eu possa justificar-me dessa inquietação que acionou o gatilho para minha fragmentação.

O sentir a alma sufocar, o fazer de mim um boneco meio estranho e que por ser assim, faz com que eu caia tanto, que a mim parece ser eu mesma a empurrar-me sem dó, com força...

Como a querer mostrar-me que algo está errado, não pode e não deve ser. Será que é o retornar do que por tanto tempo oprimi sem perceber, sem querer?

O ar torna-se irrespirável, imobiliza, acusa, mostra que algo tem que ser aceito e muito aceito e tudo deve durar muito, para sempre, desgraçado, amém.

E que tudo seja assim até que a morte chegue. Para mim ou para o outro.

 Melhor que seja para quem a deseja mais, pois assim, certamente será feliz.

Encontros, desencontros, pressa, querer muito, usar uns dialetos próprios,maneiras  diferentes de se comunicar a cada hora, para melhor conseguir aquilo que se quer.

Preciso aprender a falar/escrever menos, expor-me só o suficiente, procurar transmitir através do olhar, que diz tudo ou nada de mim, que é alegre ou triste, que é o espelho da minha alma, que mostra totalmente o meu interior tão difícil de esconder.

 Só é preciso que me olhem e que eu me permita ser olhada, entendendo como é que cada um faz sua leitura.

 Cada olhar vê como que ver e como seu coração pensa, ou imagina pensar, a respeito da individualidade tão dividida, tão fragmentada.

Oscilando sempre... O tempo todo,  sem que para isso eu precise ou queira dar atenção para aquilo, que quase nunca existe, em dois.

Só existe em um. E olhe lá. .

E, se assim não for, deixa encoberta a facilitação que a dor provoca, no sentido de nunca conseguirmos esconder nada, nem de nós, que queremos nada em nós perceber e que, apesar de tudo, continua inflexível e mostra aos outros e a nós mesmos, nossa ineficabilidade perante a arte de bem viver.

 

 

Heloisa