Tutor Kabbalístico

X” recebeu uma incumbência. Seu tutor de muitos anos disse-lhe que deve deixar o grupo atual e formar o seu próprio grupo para conduzir a Linha e aumentar o campo da escola a que ele se associa. Esta instrução parece suficientemente simples, e muitas pessoas menos experientes ficariam excitadas pela perspectiva. Mas não é assim para aqueles que conhecem o que está envolvido. Alguns, novos no Trabalho, apreciariam a oportunidade de dirigir, ensinar e conduzir as diversas operações de um grupo. Para eles existe o atrativo de estar no centro, tendo poder para influenciar uma situação. Mesmo os bem-informados são tentados por isto. À primeira vista, dirigir um grupo parece uma operação fascinante e direta. A teoria da Kabbalah é bem-estruturada, e as várias práticas explicadas. Um grupo pode ser disciplinado se houver um interesse comum, e existem precedentes para os problemas que ocorrem de tempos em tempos. As regras sobre o que um grupo pode ou não fazer são simples. Por exemplo, a invocação feita no começo de cada reunião não pode ser dita se menos de sete pessoas estiverem presentes. Esta e outras regras são claras, porém, como sabe qualquer líder de grupo, nada segue as regras por completo.

X” foi preparado para este momento durante muito tempo. Na verdade, desde que entrou no antigo grupo como candidato, ele vem sendo treinado apenas para esta tarefa, embora possa não ter percebido. Após aprender a teoria da Árvore sefirótica e executar os vários exercícios, passou muitos anos aprofundando sua compreensão e aperfeiçoando seu desempenho tanto no grupo como na vida. Durante este período, que se estendeu por uma década, cresceu em seu Ser e em conhecimento, e isto foi observado pelos seus superiores, que o selecionaram para ser um tutor, pois nem todos que permanecem no processo são selecionados para assumir um grupo. Algumas pessoas podem estar na Kabbalah por vinte anos, e ainda assim não perceberam os princípios da Árvore, e algumas, embora saibam a teoria completamente, não têm a menor idéia de como transmiti-la a outros. Embora em algumas ocasiões tais pessoas possam ser convidadas a assumir o grupo como um exercício em comunicações mútuas, a responsabilidade de se formar uma nova turma de trabalho requer habilidade e temperamento especiais.

A qualidade mais importante que os superiores procurarão é confiabilidade. Uma pessoa pode ser rápida ou lenta, sarcástica ou mesmo bem-humorada, sutil ou franca. Isto não é tão importante quanto a consistência da meta. Não significa obstinação ou rigidez, tenacidade ou até idéia fixa, mas a habilidade de estar sempre consciente do propósito da Kabbalah. Muitos grupos murcharam mesmo antes de florescer porque o tutor em potencial acreditava que a autoridade da cadeira vinha antes do Ensinamento. Muitas das grandes religiões do mundo sofreram a influência maligna do dogma e do poder, e não há diferença na comunidade menor de um grupo esotérico. A constância a que nos referimos aqui é a habilidade em se adaptar às condições mutáveis, e ainda assim manter a finalidade da operação. Um exemplo disto é quando o estudo teórico da Árvore deve ser abandonado e uma nova forma de trabalho é proposta para ilustrar os princípios. É exigida uma capacidade criativa, que pode transformar qualquer situação em benefício kabbalístico. Tal dom teria sido reconhecido e desenvolvido enquanto “X” era estudante no antigo grupo ao confiar-lhe certos projetos, como dar uma palestra sobre templos.

Outra qualidade para um líder de grupo é uma certa experiência de vida. De acordo com a fórmula tradicional, uma pessoa deveria ter, pelo menos, trinta, ou até mesmo quarenta anos. Com isto acredita-se que eles devam ser maduros. Supunha-se também que a pessoa fosse casada e educada. Estas condições foram delineadas em uma época e lugar muito diferentes do mundo ocidental moderno. As pessoas não vivem mais em uma sociedade medieval ou do Oriente Médio, onde todos possuem papéis definidos. Hoje tudo flui socialmente, e, assim sendo, referimo-nos agora aos princípios. Assim a questão do casamento é vista como sendo capaz de manter um relacionamento real, e “educação” como simplesmente ser informado de maneira inteligente sobre a vida em geral. Devemos também lembrar que hoje muitas pessoas são melhor educadas e possuem bibliotecas mais seletas do que possuíam muitos antigos eruditos. O critério é que “possamos falar de tais coisas a uma pessoa que conhece a si mesma”, isto é, que já possua um conhecimento interno e esteja ciente de assuntos superiores. A experiência de vida de um tutor em potencial deve ser suficientemente ampla para que ele seja capaz de lidar não apenas com seus próprios problemas, mas também com os dos outros, que podem ter origens e propósitos muito diferentes. O fato de uma pessoa vir de um determinado lugar ou classe não deveria, neste Trabalho, ter um peso maior, embora evidentemente influenciará a abordagem. A pessoa de Lages não terá os mesmos valores culturais de outra de Curitiba ou São Paulo. Não obstante, quando se trata de Kabbalah certos valores têm uma importância universal: integridade intelectual, coragem emocional e ação correta(Janaína Paschoal). Tais critérios internos devem fazer parte do Ser de um tutor em perspectiva, pois este deve tentar demonstrar o que está sendo ensinado, mesmo sob pressões internas ou externas. Por instinto, um indivíduo pode não achar conveniente executar tais princípios, e assim, muitos testes são planejados para determinar se um tutor em perspectiva é de confiança para manter as operações de rotina e lidar com emergências. Por exemplo, o estudante brilhante, porém instável, pode entrar em pânico numa crise e perder um bom grupo, ou o esforçado, mas estúpido, pode enfadar as pessoas com seu formalismo a ponto de elas se retirarem. Tais pessoas têm o seu lugar e a sua ocasião para servir, seja uma simples exposição de levar alguém para o aeroporto. Um desses estudantes ajudou o Trabalho mais que a maioria transportando o seu tutor. Aprendeu pelo simples fato de estar ali, que cada pessoa tem a sua função e a sua retribuição espiritual.

Havendo recebido a sua incumbência, “X” agora deve agir. Ele pode, é claro, recusá-la imediatamente, ou apenas não desenvolvê-la. Isto acontece quando a pessoa, de repente, compreende que se entregou a um enorme compromisso. Não se assume um grupo por umas poucas semanas. É trabalho para muitos anos e, às vezes, para bem mais de uma década, se não mais. Liderança de grupo não é coisa a ser tomada levianamente, e depois largada; até certo ponto, o tutor é responsável pelo bem-estar espiritual dos estudantes, em especial dos que apenas iniciam o Caminho. Se estas pessoas se desapontarem durante o período introdutório, estarão, muitas vezes, perdidas por longos anos, se não por toda aquela vida. Alguns podem argumentar que tais pessoas não estão prontas para o Trabalho, mas isto não diminui a responsabilidade do tutor. Agir como ponto entre os mundos interno e externo não é tarefa medíocre. Requer total compreensão do que está envolvido.

Muitas vezes, embora nem sempre, há uma cerimônia de despedida entre o novo tutor e o seu mentor. Trata-se de um ritual formal, no qual o mais jovem torna-se um superior e reconhecido como tal por outros de igual nível de desenvolvimento, ou é uma simples mas comovente conversa na qual o Barakah, ou uma benção, é passado do superior ao novato. Isto pode ser visto como uma espécie de confirmação, mas é mais que isto. Está mais próxima de uma ordenação na qual o fluxo que vem de uma longa cadeia de tutores é transmitido, como um manto, ao próximo da fila. Muitas tradições esotéricas possuem tais cerimônias, embora nunca sejam de modo que se imagina. A maior parte do que vemos ou lemos é apenas um indício do que foi, um dia, uma cerimônia de grande profundidade e que se tornou, através dos séculos, uma fachada externa do simbolismo. A coisa real acontece fora da visão. Um caso é o de um homem esperando sozinho em um quarto alugado, a quem foi dado algo completamente estranho, que entrou e saiu. O objeto simbolizava sua própria força e fraqueza. Este presente havia sido cuidadosamente selecionado pelos seus superiores para imprimir em sua alma e espírito quais eram suas tarefas e tentações. Esses talismãs pessoais podem variar de uma vestimenta simbólica da Ordem, com um pequeno sino para acordar os outros mas não os ensurdecer, até um facão afiado para distribuir o Maná sem se cortar. Um homem recebeu uma flecha para apontar o Caminho, e não para ferir alguém em suas conferências.

Havendo completado seu aprendizado, “X” se torna um operário. Aqui se inicia a fase em que começa a trabalhar de maneira semi-independente. Tendo aprendido o básico da Tradição, é capaz agora de executar um projeto próprio, embora sob supervisão indireta. Assim, mesmo sendo responsável por dirigir o grupo, pode, não obstante, recorrer a um superior caso necessite de conselho. “X” pode conduzir um grupo como operário pelo resto de sua vida, porque alguém se torna um mestre se uma direção completamente nova for solicitada pela Tradição, e esta tarefa não é dada a qualquer um. Tal papel carrega enorme responsabilidade. Ser um mestre requer alto grau de originalidade espiritual, no sentido de que a pessoa está em contato direto com o Mundo da Criação e gera uma formulação completamente nova do Ensinamento. Em geral, isto acontece quando há uma necessidade profunda de reviver a Tradição. Esta incumbência só é dada a certas escolas(USP, AMORC), enquanto a maioria das outras simplesmente ajuda o desdobrar da expressão de um grande impulso. A criatividade espiritual da Escola de Gerona e sua influência na Kabbalah espanhola é um exemplo. Quando a força diminuía e o Ensinamento novamente se tornava um estudo formal e um ritual morto, então era o momento para um novo impulso criativo e para a chegada de um mestre, como o Baal Shem Tov, dos hassídicos. E na política atual brasileira com a queda do PT com sua demagogia e desvio infindável de recursos federais para o bolso de seus militantes e familiares, utilizando republiquetas na América latrina e da África.

Contudo, em nosso caso, não estamos examinando tal situação em sua origem(quando Hélio Bicudo fundou o PT), mas sim, num estágio intermediário onde as idéias tradicionais estão simplesmente sendo relacionadas às condições contemporâneas(morte de Celso Daniel, quebra do BDNES, Petrolão e outras falcatruas que tem como pivô o PT). “X” agora deve considerar como apresentará o Ensinamento nos termos de seus dons. Seu trabalho, contudo, não é inovar, mas tornar acessível o material existente que foi transmitido(Enxugar a Previdência, reduzir os ministérios, demitir funcionários comisionados e pretigiar a Lava-Jato). Para fazer isso, “X” deve ter pessoas para instruir(Henrique Meirelles, José Serra), um problema que até agora não foi abordado(A farra do dinheiro público pelo governo, melhor desgoverno do PT). É aqui que entra a Providência, com aquele notável senso de oportunidade que tantas vezes se dá em tais momentos; de repente(Impeachment), de várias direções começam a aparecer indivíduos buscando orientação espiritual e principalmente monetária. Cabe portanto a “’X” separa o joio do trigo, os petistas mulambentos de um povo honesto e limpo com bom propósitos, pois o que vale é a intenção.