TUDO É POESIA - PARTE 2
Se um pedreiro pobre,
Levanta casa de nobre,
Se enquanto ele trabalha
Vem o nobre e atrapalha,
No seu grandioso trabalho.
O pedreiro no alto da casa
Trabalhando com perfeição,
Pensando nas brigas de galos,
No seu galo pedrez,
Enquanto seu nobre patrão
Bebe uísque escocês,
Desprezando a bebida nacional.
O pedreiro na sua miséria
Bebe a cachaça nativa
Valorizando o que é nosso.
O pedreiro trabalha no esgoto.
Ouve-se uma descarga
Que é recebida no rosto.
É o patrão defecando
Caviar e uísque escocês,
Misturado com cigarro americano.
Enquanto o pedreiro amassa
O seu cigarro de palha,
Dá um trago e sai andando
Pensando na sua miséria.
Enquanto o poeta
Anda na sua nostalgia,
Só em pensar que tudo aquilo
É motivo para poesia.
Um andarilho incansável
Caminha pela estrada
Negra e infinita,
Sob o luar prateado
Como rosas brancas,
Como a própria prata,
Como a própria lua,

Seu destino é infinito,
Suas forças são infindáveis,
Seus gestos são amáveis,
Seu rosto é bonito
Clareado pela lua,
Queimado pelo sol
Curtido pelo vento,
Sua linda mulher
Anda semi-nua
Como a própria lua.
A lua com sua claridade
Semelhante a um lençol,
Lençol claro e ciumento
Ilumina o monte até o sopé,
E fazendo o poeta chorar
Inspirando-o de alegria.
A lua, o andarilho e o poeta,
Todos observando a cada um.
O andarilho segue seu caminho,
Sendo observado pelo poeta e pela lua
E, sem observar para nenhum.
Ele vai para onde suas pernas o leva.
Ele anda de mansinho,
Sem destino, pela estrada e pela rua,
Pelas pedras e pela selva.
No pensamento um riso de passarinho,
Um riso puro e confiante,
Como um sorriso de alegria.
O poeta olha o viandante
Porque é motivo para poesia.
O poeta olha a vida
E conhece todas as suas partes.
Ele sabe que é uma parte dela.
Ele sabe que nada mais existe
A não ser a própria vida.
Ele sabe que cada um de nós

É feito na medida do possível,
Ou talvez do anti-possivel-impossivel.
Ele sabe que o materialismo
É uma anti-impossibilidade.
Ele é materialista científico,
Ele é anti-impossivel.
Ele, o poeta e o materialismo.
O poeta cientificamente materialista,
Com seu materialismo poético.
Ele valoriza a tudo que é possível.
Ele despreza a tudo que é improvável.
Ele despreza o dogma religioso,
Ele, o poeta materialista
Ou o materialismo poético.
Ele despreza o diabo,
Também despreza as portas do céu.
Ele pensa em Jesus
Porque talvez tenha existido.
Porque talvez tenha sido negro.
Porque talvez tenha sido poeta
Ou talvez filósofo,
Ou mesmo materialista.
Uma coisa o poeta tem certeza;
Se é que ele existiu,
Ele, foi o primeiro comunista.
Ele foi o fundador.
Ele dividiu o pão para seu povo.
Todos comeram partes iguais
E não deixou um ser humano
Dizer que sentia fome.
O poeta conhece a vida
De extremidade a extremidade,
De continente a continente,
De cidade a cidade.
Ele é um ídolo,
Ele é um poeta.

Ele considera a poesia
Como um motivo para poesia.
Se o poeta vê um homem
Com uma baioneta no corpo,
Ele pensa com ódio.
Foram eles! Foram eles!
E tira as conclusões poéticas
Que se transformam em poesia,
De forma contundente,
Versos sem principio e sem fim,
Versos abjetos
Mas, de qualquer maneira
São versos.
Ele vive para a poesia,
À poesia ele está preso,
Pela poesia ele é amado,
Pela poesia ele está armado.
Se o poeta vê uma criança
Com um braço no gesso,
Ele se compadece profundamente.
Como foi que aquela criança
Foi parar com o braço no gesso?
O poeta é compassivo
Quando se trata de criança,
Ou de gente pobre
Mas, seu único defeito
É que ele transforma tudo aquilo,
Toda a miséria
Em ricos versos
Pois, é motivo para poesia.
Se o poeta entra na igreja
Ele se compadece da religião,
Que é tão pobre em conteúdo
E tão rica em fantasia.
É o mesmo que ver o homem
Que nada faz e que tudo ganha,

Em comparação com o homem
Que tudo faz e que nada ganha.
É a religião comparada ao operário.
E o pior disso tudo
É quando o operário
É assíduo religioso.
O que é que ele ganha
Em ser religioso
Se sua mesa não tem pão?
O poeta que vive e interpreta,
Escreve de forma certa,
Que é motivo para poesia.
Se no caminho de um poeta
Surge uma mulher perfumada,
O poeta abraça-a
Com os braços e o coração,
Ele se torna estético.
O que era muito pouco,
Mas é esteta,
Que na lua da madrugada,
Com um beijo nos lábios prende-a,
Num símbolo de união,
Num beijo patético.
O poeta fica louco
E cria mais uma poesia.