Tropa de Elite é o filme do momento. Momento do cinema brasileiro que mais uma vez renasce das cinzas com uma bilheteria que foge a regra. Um filme de ação da Zazen Produções, com duração de 118 minutos. Segue roteiro de Rodrigo Pimentel, Bráulio Mantovani e José Padilha e é distribuído pela Universal Pictures do Brasil.

O filme ganhou notoriedade a partir de cópias piratas que invadiram o mercado e caiu no gosto do povo. Retrata o dia-a-dia de um grupo de policiais, bem como de seu capitão, que busca um substituto para que possa deixar a corporação. No filme, dois amigos de infância do capitão do BOPE, interpretado por Wagner Moura, se tornam policiais e se destacam pela honestidade e honra ao realizar suas funções, ao tempo em que também se indignam com a corrupção que começam a perceber no batalhão em que atuam.

O que está em jogo no filme são os métodos e a imagem do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), o que já levou a uma ação cautelar por parte de alguns de seus integrantes com o fito de tirá-lo de exibição. A juíza Flávia de Almeida Viveiros de Castro, da 1ª Vara Cível do Rio de Janeiro, indeferiu os pedidos de liminar alegando que “não existem ataques às instituições” como insinuavam os autores, e concluiu: “As críticas feitas são ao sistema”. Embora tenha recebido a colaboração do ex-capitão do BOPE, Rodrigo Pimentel, o roteirista Padilha afirma que o filme não é uma mera adaptação do livro “Elite da Tropa”, escrito por ele em parceria com o sociólogo Luis Eduardo Soares. A ação provocou um racha entre os oficiais do BOPE, já que 25% deles não aderiram à mesma.

Uma outra tropa de elite


Não quero comentar o filme, mesmo porque muitos já o fizeram. Abstenho-me de tecer comentários sobre seu conteúdo, apenas indignando-me quanto ao endeusamento do lixo, da corrupção, da violência e das palavras torpes praticado por grande massa de brasileiros que aplaude a exaltação do achincalhe e do desvio. Meu propósito com este artigo é falar de outra tropa de elite, a Tropa de Elite de Deus. Já falei demais da outra e espero compensar isto falando mais desta, que, a meu ver, é a que interessa e a que pode mudar o caos reinante neste país chamado Brasil.

O título do filme em epígrafe fez-me lembrar uma pequena tropa arregimentada por Gideão, um dos juízes de Israel. Aquela sim foi uma verdadeira tropa de elite. O relato está nos capítulos 6-8 do livro de Juízes, no Antigo Testamento. Israel vivia um período crítico que antecedeu a Monarquia. O período dos juízes foi um tempo cíclico em que se alternavam bons e maus momentos. Naquela época, carente de lideranças, Deus levantava homens e mulheres que conduziam o povo em batalhas contra seus inimigos, dando uma unidade ao povo embrionário.

Gideão, também conhecido como Jerubaal (apelido recebido por ocasião da contenda contra os seguidores de Baal), era filho de Joás, e viveu num tempo em que os midianitas prevaleciam contra Israel, impondo pesados encargos sobre o povo, destruindo suas plantações, seus animais, e matando sua gente, de modo que Israel se enfraqueceu muito (Jz 6.6). Isto ocorreu porque “os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor” (cf. Jz 6.1), já que o período governado por Débora, quarenta anos, foi de sossego (Jz 5.32). Gideão, então, foi convocado por Deus para libertar o seu povo. Para tanto precisava de um exército, não um exército numeroso e poderoso, mas uma tropa de elite usada por Deus. Vamos conhecer esta história...

A tropa de elite de Gideão


A tropa de elite de Gideão narrada no capítulo 7 do livro de Juízes era para ser composta inicialmente por 32 mil homens, mas 22 mil foram dispensados (v. 3). Depois, os 10 mil restantes foram submetidos a um teste, e somente 300 foram aprovados (vv. 4-6). Menos de 1% do exército original. Como poderia Deus tornar vitorioso um exército tão pequeno, principalmente levando-se em consideração que o exército dos midianitas era portentoso? Lembremos que estamos nos referindo à tropa de elite de Deus. Se for de Deus, há a vitória garantida, mesmo que ela não signifique exatamente o que estamos imaginando ou querendo. Quer conhecer a tropa de elite de Deus? Vamos estudá-la!

1º) A tropa de elite de Deus não é caracterizada pela quantidade, mas pela qualidade – Existe um erro crasso de achar que a quantidade é sinônimo de supremacia. A quantidade, porém, não se resume a valores materiais, valores numéricos, ou mesmo aqueles que sejam mensuráveis, mas a valores muitas vezes subjetivos ou não palpáveis como o são os valores espirituais e, também, os estratégicos. Em contraponto a estratégia que Deus estava montando para Israel através de Gideão, os midianitas arrojavam-se sobre Israel “em multidão, como gafanhotos; tanto eles como os seus camelos eram inumeráveis; e entravam na terra, para a destruir” (Jz 6.5; 7.12).

O contingente disponível por Gideão, em princípio, poderia fazer frente ao avanço midianita. Mas, para Deus, era gente demais. Deus não queria que a vitória fosse requerida pelo povo como ato bélico. Deus queria gente capaz de reconhecer a manifestação do seu poder e não vangloriar-se de seus próprios feitos. Nas palavras bíblicas: “não seja caso que Israel se glorie contra mim, dizendo: Foi a minha própria mão que me livrou” (Jz 7.2). Daí, o processo, já comentado, de depuração do quantitativo de homens disponíveis para a batalha, reduzindo-o a apenas 300 soldados. Era uma medida preventiva contra uma possível soberba.

Esta tropa de elite de Deus que é caracterizada pela qualidade e não pela quantidade deveria constar de homens valorosos. Por isso, não poderia ser constituída por gente medrosa e tímida como o próprio Deus orientara. Os medrosos e tímidos deveriam se retirar imediatamente do monte Gileade. E foi o que fizeram 22 mil homens. Já ouviu falar de tamanha reunião de homens medrosos num só lugar? (Jz 7. 3). Pois foi o que se verificou em Gileade.

Pensando em nossos dias, e no Povo de Deus que é reconhecido pelo seu nome, qual é a tropa de elite que Deus usa? O exército de Deus é composto de homens e mulheres que buscam a qualidade em suas vidas. E a qualidade, do ponto de vista espiritual, se chama santidade. Desde a década de 80 passada, houve uma explosão do evangelicalismo brasileiro. Muitas correntes religiosas surgiram propondo novidades. A mais avassaladora delas, a daninha teologia da prosperidade. Pois este contingente que ganha a nomenclatura de “evangélicos” nos censos do IBGE não constitui a tropa de elite de Deus. Ela é bem menor. É composta dos verdadeiros cristãos que zelam pela Palavra de Deus e vive um cristianismo não meramente teórico, de fachada, mas um cristianismo bíblico, puro e humilde. Aliste-se na tropa de elite de Deus e ajude a transformar o mundo pela experiência e vivência de um cristianismo de qualidade.

2º) A tropa de elite de Deus precisa ter sentido de urgência – Uma descoberta muito interessante que este texto nos apresenta diz respeito ao teste que Deus orientara Gideão realizar. Ele precisava identificar quantos, dos remanescentes 10 mil que não eram nem medrosos nem tímidos, poderiam permanecer no seu exército e constituir a tropa de elite que Deus usa para vencer suas batalhas. Nem sempre homens valentes são o suficiente para vencer uma batalha. Além da valentia, a tropa de elite de Deus deveria se caracterizar pelo sentido de urgência. Se o inimigo está à porta, espreitando, cheio de vontade de dar o bote, é preciso a valentia e também a urgência do ataque.

Mas, como identificar isto? O teste proposto por Deus foi inusitado. Os 10 mil deveriam ser separados em dois grupos. O primeiro, composto dos que bebiam as águas do rio, com a língua, como faz o cão. O segundo, dos que se ajoelhavam para beber. Somente 300 trouxeram a água à boca com as mãos em forma de concha. Estes foram selecionados para constituírem a tropa de elite de Deus que seria usada por Gideão na grande batalha contra os midianitas (Jz 7. 4-7).

O que este teste quis provar? Que existe um grande sentido de urgência para o povo de Deus. Levar o povo de Israel até as águas, possivelmente num dia de sol quente, quando também os midianitas com seu exército gigantesco de cerca de 135 mil soldados, precisava ser dessedentado, significava que não havia muito tempo a perder. Era uma questão de sobrevivência. O exército de Deus não pode ficar andando a esmo, sem saber o que fazer, ou mesmo desorientado. Os que beberam a água sem se abaixar, os 300, foram ágeis, rápidos, objetivos. Cumpriram rapidamente seu papel. Os demais, os que se ajoelharam, estavam com a vida ganha.

Este sentido de urgência mostra para a tropa de elite de Deus hoje, que não podemos nos acomodar enquanto vidas estão caminhando celeremente para o Inferno. Não se prega mais sobre o Inferno hoje. Sobre o pecado, então, nem se fala. É um discurso muito pesado, chato. É melhor fazer do púlpito lugar de ajuda, utilizando-se de um psicologismo fácil para agradar auditórios estressados. Os grandes avivalistas que moldaram a presença protestante no mundo, tinham este sentido de urgência e levaram o povo a refletir sobre sua condição espiritual e a necessidade de um encontro com Deus. Por isso havia arrependimento e choro. Enquanto o ser humano não for confrontado com sua realidade espiritual pela Palavra e no poder do Espírito Santo, não haverá conversão legítima.

3º) A tropa de elite de Deus segue as estratégias de Deus em suas batalhas – O homem pode ter muitas idéias, pensamentos, propósitos; mas, tudo isto, precisa estar subordinado à vontade de Deus. O segredo da vitória é condicionar nossos propósitos pessoais aos interesses divinos. Como diz o provérbio: “O coração do homem planeja o seu caminho, mas o SENHOR lhe dirige os passos” (Pv 16.9). Gideão, desde o princípio de sua chamada para liderar o povo de Israel, condicionou sua empreitada à vontade de Deus.

É reconfortante perceber Deus agindo nos pequenos detalhes da vida. É estimulante perceber que o que nos era impossível, Deus torna possível. O exército que Gideão levaria para a batalha não poderia exceder a 300 homens. Dentro de sua estratégia, Deus planejou contar com apenas estes, os valentes e destemidos, que não se acovardaram, não foram intimidados, e estavam cônscios da urgência do ataque sobre o inimigo para pegá-lo desprevenido.

Além disto, Deus dera ao seu escolhido uma estratégia bem definida: o grupo seria dividido em três companhias iguais de cem homens cada, que se posicionariam estrategicamente em extremidades do arraial dos midianitas de modo a fazerem o cerco; cada indivíduo portando em suas mãos uma trombeta e um cântaro vazio contendo uma tocha acesa. Ao sinal dado por Gideão, na hora aprazada, em que os midianitas haviam acabado de se recolher e as sentinelas estavam tomando seus postos, momento propício para pegá-los desprevenidos, todos deveriam quebrar simultaneamente seu cântaro e com a tocha acesa em uma das mãos, deveriam tocar bem forte, com a outra, a trombeta (Jz 7.16-20).

E assim foi. A tropa de elite de Deus segue as estratégias de Deus em suas batalhas. O grito de guerra que deveria ecoar por todo o arraial era: “Pelo Senhor e por Gideão” (Jz 7.18). E o resultado foi como o planejado e o esperado. O desespero que se seguiu no arraial dos midianitas foi tamanho que, imaginando um grande ataque de Israel, tomaram suas espadas descontroladamente e começaram a lutar cada qual contra o que estava próximo, de tal modo que eles mesmo se derrotaram, destruindo-se e fugindo apavorados de um inimigo imaginário, mas que teve grande poder de fogo contra eles. O maior aliado da tropa de elite de Deus foi o que Deus não queria de modo algum em seu exército: o medo.

A tropa de elite de Deus para nossos dias precisa estar também ciente disso. Deixa o medo para o inimigo. Coloque a sua confiança em Deus e será um vencedor. Todas as vezes que a Igreja de Cristo perde uma batalha é porque seguiu seus próprios interesses e vontades e não condicionou isto à vontade soberana de Deus. A obra do Senhor, os propósitos de Deus, a consecução dos seus projetos, a implantação e consolidação do Reino de Deus, a expansão da obra missionária na face da terra precisa ser como Deus quer e não como quer o homem.

4º) A tropa de elite de Deus obedece ao seu líder espiritual escolhido pelo próprio Deus – Neste episódio, envolvendo Gideão e os 300, vamos perceber, também, a relevância da liderança de Gideão sobre sua tropa. Quem era este líder Gideão? Era alguém que não acreditava que poderia fazer o que fez, mas que, em todo momento, esteve aberto às possibilidades de Deus para sua vida. E, à medida que ia percebendo o mover da mão de Deus sobre si, ia acreditando que era capaz de fazer coisas inacreditáveis aos olhos humanos.

Interessante que quando o anjo do Senhor encontrou Gideão, este estava “malhando o trigo no lagar para esconder dos midianitas”, exatamente o povo para o qual Deus o convocava a lutar e vencer (Jz 6. 11). Como vimos, Gideão não se sentia capaz, mas Deus foi fortalecendo-o. Deus via nele valor e seria com ele (Jz 6.12); ele é estimulado a ir com sua força, pois era um enviado de Deus (Jz 6.14); e Deus seria com ele (Jz 6. 16).

Mas Gideão deveria fazer o dever de casa. Seu pai estava envolvido em idolatria. O altar de Baal deveria ser destruído. E ele foi corajoso o suficiente para despedaçar o altar de Baal que pertencia aos próprios pais, construindo, por ocasião de seu chamado, um altar para Deus no lugar (Jz. 6.25-32). Para cumprir seu objetivo, Gideão levou dez homens consigo e cumpriu o mandamento do Senhor naquela mesma noite. Os vizinhos ficaram furiosos, mas o pai de Gideão compreendeu o significado de seu gesto e o defendeu. A verdade é que um "deus" que não consegue se defender contra um grupo de homens não merece que homens o sigam e o defendam.

Em todo o momento Deus foi com Gideão, por conta de sua coragem de enfrentar todos os questionamentos e tornar-se o líder que queria dele fazer. As provas do velo de lã demonstram isso (Jz 6.36-40); a ida ao arraial inimigo junto com o moço Purá e a oportunidade de ouvir o relato do sonho e sua interpretação que representava a mão de Deus sobre ele (Jz 7.9-15), também. E a tropa de elite de Deus seguiu o homem vocacionado por Deus para conduzi-la naquele momento.

Num tempo de desvalorização de liderança, de aparecimento de falsos profetas, de mercenários invadindo os arraiais cristãos, de lobos travestidos de ovelhas, de uma explosão gospel que nada mais é do que um mercadejamento barateado da fé é preciso saber reconhecer o homem de Deus pelo que ele fala, pelo que ele vive, e pela forma como Deus o usa. A Bíblia deve ser nossa única regra de fé para as decisões concernentes aos valores espirituais. A tropa de elite de Deus trabalha debaixo das orientações que o homem de Deus tem para a batalha espiritual que é a grande batalha de nossos dias.

Conclusão


Ética e moralmente o filme Tropa de Elite é muito ruim. Não passa conteúdos que valham à pena ser valorizados, mostrados e seguidos. O Brasil (ainda) tem coisas melhores para serem mostradas, serem apreciadas e servirem de orgulho para esta nação que precisa ser sacudida com o Evangelho da graça de Deus. O Brasil precisa ser liberto da idolatria, da feitiçaria e da opressão política que desgraça nossa gente. Que os servos de Deus conscientes de seu papel neste mundo, alistem-se na tropa de elite de Deus e cumpram com galhardia, honestidade e destemor sua missão de proclamar a paz pelo sangue remidor de Cristo Jesus.