Imagine que você seja alérgico a determinado alimento. Você irá evitar comê-lo, pois sabe que a partir do momento que o ingerir, você irá passar mal. Por mais saboroso que ele seja, o prazer do sabor não pode superar a dor que o alimento causa. Mas certo dia você resolve sair, dar umas voltas, e de repente vê aquele alimento à mostra. Você está com fome. Ou você sai com seus amigos, e no local todos resolvem comer justamente aquilo que te faz mal. Nesse segundo caso, além do desejo interno, ainda há a pressão externa dos seus amigos. Começa uma luta interna. De um lado, a fome e o prazer da degustação daquela comida. Do outro, as consequências que a ingestão irá trazer depois. Você decide comer o alimento. Se deixa levar pelo sabor e pela pressão. Mastiga, engole com prazer. Curte o momento. Mas, após o seu término, as consequências veem a mente, e você pensa mais seriamente no erro cometido. As consequências que antes eram potenciais, agora serão inevitáveis. Você percebe que o prazer da degustação não compensava ao sofrimento que havia de vir. E o pior, essa não foi a primeira vez que a decisão errada foi tomada. O arrependimento, a tristeza após um erro vem não somente pelas consequências negativas resultantes do ato, mas também pelo fato de tal ato ser errado. Claro que ingerir um alimento que irá produzir uma reação alérgica em seu corpo não é algo moralmente errado, mas algumas atitudes cometidas diante de Deus são. Vai além do dano em si, você fere também um outro agente; um Ente que está além de nós, cujo Ser excede e muito o nosso. Quando estamos prestes a pecar, a luta interior entre fazer o que irá dar prazer momentâneo, e fazer aquilo que é certo acontece. O pecado não é algo ruim para nossa natureza. Ele é saboroso, atraente. Ele dá a sensação de que o prazer adquirido irá ser algo nunca antes experimentado. Mas a partir do momento em que você o experimenta pela primeira vez, as demais podem até variar em nível de intensidade, mas nada que irá fazer tal atitude valer a pena. A tristeza vinda após o pecado é algo que mostra quão verdadeiro é a conclusão acima (por melhor que seja o pecado, seu prazer não supera a dor da culpa). Sentimo-nos tristes por pecar contra Deus, nosso criador e salvador? Sim. Mas também por vermos que fomos enganados, que nossas expectativas foram frustradas. Esperamos algo a mais, que não vem. Anseiamos por um momento apoteótico que não aconteceu. Há prazer? Há. Mas aquém do desejado. Por mais que tentemos sucessivas vezes, por mais que a intensidade seja maior, o prazer acaba. E assim como num incêndio, onde aquilo que foi alvo do fogo vira cinzas e escombros, após à chama do pecado, o que sobra é tristeza e culpa. Não somos alérgicos ao pecado, porém quem habita em nós não compactua com ele, pois é totalmente santo. Que na força do Espírito Santo possamos não somente deixar de viver no pecado, mas também possamos agradar a Deus com algo além da renúncia; a prática daquilo que é certo e bom.