Acabo de ver a mini-série Gonzaga de pai para filho e posso dizer que o trabalho é um pouco da história de cada um de nós. Apesar de toda dificuldade, a vida tende a amizade e ao perdão, ou pelo menos deveria ser assim. Já citei em outros textos que não sou e não acredito em quem se denomina dono da verdade.

Talvez, até por isso, em quase 30 anos de profissão, um dos espaços que evitei ocupar na imprensa foi ser crítico de eventos. Meu posicionamento é simples: se cada pessoa tem seu gosto, eu não me vejo no direito de que minha opinião, seja positiva ou negativamente, seja determinante para alguém ir ou não ver determinado espetáculo, filme, ler este ou aquele livro.

Diante disso, sempre optei em dar opinião sobre algo que gostei, mas sem esperar que alguém também gostasse e sim para que outras pessoas pudessem desfrutar e formar opinião.  No caso da série televisiva dos Gonzaga (o pai, Rei do Baião e Gonzaguinha), as desavenças familiares e depois ideológicas (até por causa de músicas) entre os dois me emocionou, pois é igual a tantas situações que ocorreram, principalmente no Regime Militar, entre 64 e 85.

No inicio dos anos 80, pai e filho se reconciliam familiar e artisticamente e a situação mostra que falta de diálogo leva aos equívocos.  Uma análise detalhada evidencia que há pouca divergência entre o conteúdo musical de um e do outro, pois ambos denunciavam injustiças sociais e políticas.

Luiz (pai) falando do sofrimento de seu Nordeste e Luiz (filho) narrando opressão política no Sul (Rio e São Paulo). Para exemplificar, trechos da música “A morte do vaqueiro”, de Luiz Gonzaga: “... sacudido numa cova/ desprezado do senhor, só lembrado do cachorro/ que inda chora sua dor...” e de “Comportamento Geral”, de Gonzaguinha: “... você deve rezar pelo bem do patrão e esquecer que está desempregado...” Pai e filho completavam um Brasil, ambos grandes artistas, perdas precoces e tristes partidas.