RESUMO

O presente estudo pretende discutir a importância do treinamento físico e a relação com as doenças cardiovasculares, onde é abordada a preocupação com essa doença, os tipos de doenças cardiovasculares, o treinamento físico e a reabilitação de pacientes com doença cardíaca, bem como o risco de ataque cardíaco durante o exercício. Uma vasta documentação científica que atualmente vem ganhando a atenção dos grandes veículos de comunicação e de todas as esferas da sociedade mostra a importância da prática de atividade física em conjunto com a adoção de hábitos alimentares saudáveis, como forma de promoção da saúde e prevenção de diversas doenças crônico-degenerativas. Entretanto, uma análise mais atenciosa mostra que ainda é visível uma relativa confusão de termos e uma falta de consenso quanto à prescrição adequada de atividade física com essa finalidade. Nessa perspectiva, esse estudo de revisão buscou organizar conceitos, terminologias e recomendações de intervenção do profissional de Educação Física relacionada a tais doenças, como forma de unificar os termos e possibilitar uma melhor comunicação dos diversos profissionais da área de saúde. As características de abordagem multi e interdisciplinar no tratamento e prevenção das doenças crônico-degenerativas exigem que os profissionais de saúde detenham conhecimentos básicos sobre os termos e níveis de intervenção através da adoção de um estilo de vida ativo.

Palavras-chave: Treinamento Físico. DoençasCardiovasculares. Prevenção.Reabilitação.

1 INTRODUÇÃO

Todo ser humano é um complexo biopsicossocial, ou seja, possui potencialidades biológicas, psicológicas, emocionais e sociais que respondem simultaneamente às condições de vida. Tais respostas apresentam variadas combinações e intensidades nesses três níveis e podem ser mais visíveis em um deles, embora eles sejam sempre interdependentes.

Segundo Nahas (1995), essa visão biopsicossocial fundamenta-se da seguinte forma: dimensão biológica, que se refere às características físicas herdadas ou adquiridas ao nascer e durante a vida. Inclui metabolismo, resistências e vulnerabilidades dos órgãos ou sistemas. A dimensão psicológica, que se refere aos processos afetivos, emocionais e de raciocínio, conscientes ou inconscientes, que formam a personalidade de cada pessoa e seu modo de perceber e de posicionar-se diante das demais pessoas e das circunstâncias que vivencia. E a dimensão social, que revela os valores socioeconômicos, a cultura e as crenças, o papel da família e as outras formas de organização social, no trabalho e fora dele, os sistemas de representação e a organização da comunidade a que cada pessoa pertence e da qual participa. O meio ambiente e a localização geográfica também formam a dimensão social.

Essa conceituação resgata uma visão mais ampla do conceito de saúde que tem sido uma tendência nas últimas décadas. A saúde humana não seria apenas a ausência de doença, mas também o completo bem-estar biológico, psicológico, emocional e social.

Nahas (1995) define qualidade de vida como consequência da percepção das condições de saúde, capacidade funcional e outros aspectos da vida pessoal e familiar. O autor também salienta que é difícil estabelecer um conceito preciso de qualidade de vida, mas é importante procurar defini-la como resultante de um conjunto de parâmetros individuais, socioculturais e ambientais, que caracterizam as condições em que vive o ser humano.

A compreensão do ser humano, em que o indivíduo é seu corpo, revela condições de vida e marcas das experiências vividas e desejadas. O homem não pode ser repartido; ele deve ser entendido de forma holística que se desenvolve de forma harmônica. Historicamente, a mortalidade e a morbidade caíram quando melhoraram a qualidade da água, o tratamento dos esgotos, a disponibilidade permanente de alimentos, o controle de endemias e a higiene em geral. Os fatores associados à qualidade de vida humana, que decidem entre a vida e a morte de grande parte da população mundial acontecem predominantemente fora dos hospitais e clínicas, em hábitos e estilos de vida.

A saúde requer mudança de estilo de vida. Os piores problemas de saúde pública estão sendo resolvidos graças ao desenvolvimento científico-tecnológico alcançado pelo homem. Contudo, o que influencia a qualidade de vida das pessoas, principalmente no que tange à saúde, são basicamente dois fatores: o comportamento individual, em que cada um é dono de sua longevidade, e os programas públicos de saúde, por meio dos quais a difusão de conhecimentos básicos é realizada.

As doenças cardiovasculares permanecem como a principal causa de morte, tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. De acordo com as projeções para 2020, os óbitos por doença arterial coronariana (DAC) aumentarão em 100% entre homens e 80% entre mulheres. Estes dados epidemiológicos reforçam a necessidade da implantação de medidas imediatas voltadas à diminuição dos fatores de risco.

Para melhor identificação e controle dos fatores de risco, é fundamental o entendimento das suas várias categorias. Temos em primeiro lugar os fatores condicionantes, que são aqueles relacionados ao perfil genético e ao estilo de vida. Nas doenças cardiovasculares, a herança genética tem grande importância na geração de alterações metabólicas como os portadores de hipercolesterolemia familiar homozigótica (dislipidemia de causa genética). Porém, o estilo de vida é o grande fator condicionante, pois favorece o sedentarismo, o tabagismo, o excessivo estresse psicológico e a elevada ingestão de calorias. Em segundo lugar estão os fatores causais, relacionados diretamente ao dano cardiovascular e, em terceiro lugar, estão os fatores predisponentes que são facilitadores do aparecimento dos causais. Apesar de uma série de fatores causais como a elevação da lipoproteína (a), do fibrinogênio e da homocisteína ainda necessitarem de melhores esclarecimentos, alguns despontam como principais, são eles: dislipidemias, hipertensão arterial, intolerância à glicose, diabetes e o tabagismo. Como fatores predisponentes, destacam-se o sobrepeso e obesidade, sedentarismo e excessivo e estresse e psicológico.

A prevenção de doenças cardiovasculares é, atualmente, uma prioridade em termos de saúde pública, principalmente naqueles indivíduos considerados de alto risco cardiovascular. Mais importante do que simplesmente taxar um indivíduo como portador de um fator de risco isolado é classificar seu risco cardiovascular total. A partir dos resultados de grandes estudos de base populacional e revisões sistemáticas, é possível classificar indivíduos de acordo com a intensidade e número de fatores de risco causais ou de acordo com a presença de doença cardiovascular manifesta. O Escore de Framingham, adotado pela IV Diretrizes Brasileiras sobre dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose baseia-se em valores numéricospositivos e negativos, a partir de zero, de acordo com o risco atribuível aos valores da idade, pressão arterial, colesterol total, colesterol das lipoproteínas de alta densidade (HDL-c), tabagismo e diabetes mellitus (DM). A cada escore obtido, correspondem a um percentual da probabilidade de ocorrência de um evento cardiovascular (infarto agudo do miocárdio fatal e não fatal, morte súbita ou angina) nos próximos dez anos. Assim, indivíduos de baixo risco teriam uma probabilidade menor que 10%; médio risco, entre 10% e 20% e alto risco, igual ou maior que 20%.

Outros fatores de risco não avaliados no Escore de Framingham são também extremamente importantes e podem caracterizar a Síndrome Metabólica, cujo termo descreve uma constelação de alterações que se manifestam em um indivíduo e também aumentam as chances de desenvolvimento de doenças cardíacas. Este conjunto de fatores inclui: intolerância à glicose, resistência à insulina, obesidade abdominal, dislipidemias e hipertensão 8,9.

De acordo com o exposto anteriormente, este trabalho considerou a avaliação de todos os fatores de risco de cada paciente, principalmente daqueles que apresentaram baixo risco pelos critérios de Framingham, mas que, por outro lado, tiveram diagnóstico positivo para Síndrome Metabólica. [...]