Histórias contadas valem mais pela emoção que transmitem do que pela sua veracidade porque quase sempre carecem de exatidão. Dependendo do envolvimento de quem transmite, da riqueza de  detalhes com que são contadas e pelo número de contadores que a reproduzem como na brincadeira do telefone sem fio, o seu alcance e as várias interpretações merecem uma análise racional dos ouvintes. Para verificar sua autenticidade, é necessário buscar fotos e documentos e ouvir depoimentos que apresentem diferentes  versões  de modo a que o cruzamento dos dados coletados nos aproxime da comprovação dos fatos.

     Ao desenvolvermos uma pesquisa sobre o passado recente de  pessoas ou lugares comuns, sem poder contar com a participação dos principais personagens que vivenciaram os fatos e sem que a sociedade dê valor ao papel de cada um, individual ou coletivamente, na construção de sua história, deparamo-nos com barreiras quase que intransponíveis para obtenção das informações.  É neste momento que nos surpreendemos com a constatação de que  a tecnologia com que convivemos hoje, chegou tarde e o que poderíamos chamar de banalização da fotografia de todos e de tudo, faz falta para que se tenha registros do passado. Por outro lado, a sua utilização no presente é tão efêmera que não sabemos se servirá para os registros futuros.

      A  transmissão oral pode ser deturpada pela interpretação emocionada do contador, mas na atualidade, a transmissão resultante da fotografia ou da documentação escrita também pode ser deturpada pela manipulação intencional da emoção do receptor, com o uso da mesma  tecnologia da qual nos ressentimos na busca de comprovação de fatos do passado.

      Qualquer das formas de transmissão tem relação direta com a ética do transmissor e com o que quer ouvir ou receber o receptor. É mais fácil encontrar transmissores incautos  do que receptores cuidadosos, preferimos falar a ouvir e a transmissão quase sempre é feita  levianamente. Os dedinhos nervosos que competem com as nossas mentes são mais rápidos que os nossos pensamentos.