TRAPACEIROS, OTÁRIOS E MASOQUISTAS

Se você quiser saber se um determinado tipo de mel é puro ou falso, mergulhe no pote a ponta de um palito de fósforo. Depois risque o fósforo na caixa. Se o fósforo acender o mel é puro. Se ele não acender o mel é impuro e contém água.

Outra forma de identificar a pureza ou a falsidade do mel é colocar o pote na geladeira. Se de um dia para o outro o mel cristalizar ele é puro. Se permanecer líquido é falso.

Hoje vivemos na era da falsidade, com grande parte dos indivíduos, nas diversas áreas de atividade, querendo enganar ou passar os outros para trás, seja através da mentira ou de outros meios de tapeação ao seu dispor. Por exemplo, lemos uma manchete: "Pavoroso crime no centro da cidade". Todos correm para comprar o jornal. Mas afinal descobrem que o crime aconteceu em Londres, no século passado. A isto se denomina, na imprensa, de sensacionalismo, uma forma desonesta de chamar a atenção.

Mas assim como na escala alimentar animal existem as vítimas e seus respectivos predadores, assim também nas relações humanas existem os trouxas e seus respectivos trapaceiros.

Os antigos, que nos legaram os meios acima descritos para identificar um mel puro ou falsificado, também costumavam dizer que ? o diabo sabe por diabo porém mais sabe por velho ?. Ou seja, que a sabedoria é determinada pela vivência e pela experiência de cada um.

No entanto cada vez mais se desobedece este aviso: "Deixar-se enganar pela primeira ou segunda vez é desculpável, mas na terceira é burrice".

Quer dizer, algumas pessoas gostam de ser enganadas ou de sofrer, mais do que pela própria burrice, por uma espécie de vício, birra ou prazer.

Os eleitores sabem, por exemplo, que o seu candidato é um reconhecido demagogo e trapaceiro, mas tornam a votar nele; sabe a mulher que o seu companheiro é violento e a maltrata, mas ela o defende e continua com ele; sabem as pessoas que determinados indivíduos são falsários e costumam vender ?gato por lebre?, mas continuam comprando seus ?produtos?, e assim por diante.

Há no fato de as pessoas se deixarem enganar, e também no ato de buscarem o castigo e o sofrimento, uma espécie de vício doentio que só a psicologia ou a psicanálise conseguem explicar.

Em 1870 o escritor Leopoldo Masoch escreveu um romance autobiográfico denominado "A Vênus de Peles" onde um dos seus personagens (ele próprio, no papel de falso criado) faz questão de ser chicoteado pelo amante de sua mulher. Daí se originou o termo ?masoquismo?, ou seja, a tara daqueles que gostam de ser enganados, de ser castigados e de sofrer.

Luciano Machado