TRANSTORNOS EMOCIONAIS NA ESCOLA: DA ACEITAÇÃO AO TRATAMENTO

 

 

    DEL BARCO, Silvana de Ávila[1]

[email protected]

PIRES, Sonia Aparecida da S. de L.[2]

[email protected]

 

 

RESUMO

 

O presente artigo pretende realizar  reflexões teórico-práticas sobre problemas emocionais (transtornos) que afetam em alguns momentos a permanência com qualidade de crianças e adolescentes nas escolas de Educação Básica. Partimos de uma pesquisa bibliográfica onde alguns autores discutem a temática com propriedade e nos advertem sobre a necessidade de se conhecer mais sobre o assunto, no intuito de auxiliar as crianças, adolescentes, suas famílias e principalmente a escola.

 

Palavras chave: Transtorno. Escola. Aceitação. Tratamento

 

ABSTRACT

The present article intends to carry out theoretical-practical reflections on emotional problems (disorders) that affect in some moments the permanence with quality of children and adolescents in schools of Basic Education. We start from a bibliographical research where some authors discuss the subject with property and warn us about the need to know more about the subject, in order to help children, adolescents, their families and especially the school.

 

Keywords: Disorder. School. Acceptance. Treatment

 

Introdução

 

            Ao falarmos de transtornos emocionais na escola poderíamos partir desde as crianças e adolescentes que sofreram abuso físico e/ou psicológico (o famoso Bullying ), negligência familiar, falta de proteção, situação vexatória frente aos colegas de classe, enfim são inúmeros os casos que podem levar as crianças menores ou mais velhas se sentirem ameaçadas ou ridicularizadas.

Baseados nessa preocupação, pretendemos discorrer bibliograficamente sobre o assunto, tendo como parâmetro as questões que auxiliam os docentes e familiares a aceitarem os transtornos e consequentemente os tratamentos necessários para a sua erradicação.

  1. OS TRANSTORNOS COMO CAUSADORES DO FRACASSO ESCOLAR

            BRITO (1999, p.9), discutindo a questão do fracasso escolar esclarece que,

Até hoje, existe uma tendência a atribuir o fracasso escolar exclusivamente ao aluno. Desse modo, a escola fica isenta da responsabilidade pela aprendizagem, cabendo a profissionais diversos a identificação dos problemas inerentes a serem encaminhados e solucionados fora da escola.

            De acordo com Britto (1999) as causas desse fracasso, é explicado sob diversas denominações distúrbios, disfunções, problemas, dificuldades, carência, desnutrição, família desestruturada, dentre outras. Não se podem negar os condicionantes orgânicos, socioculturais e psíquicos que estão associados a vários tipos de deficiências ou a influencia que esses fatores podem exercer no sucesso ou insucesso escolar. Mas não se pode afirmar que a hegemonia desses fatores seja determinante na casualidade do fracasso escolar ou justificativa para uma ação pouco eficaz.

            Pode – se observar que a educação em todos os níveis vem passando por momentos de reflexão e mudanças, preocupados em formar cidadãos mais críticos, consciente de seus papeis a serem desempenhados na sociedade, dentro de uma ética humana.

            A fim de acompanhar o processo de mudança, o ensino de 1º e 2º graus também vem buscando se adequar aos novos paradigmas, conforme diz o ministro da educação Paulo Renato (1999, p.2).

A educação brasileira está passando por uma revolução silenciosa com resultados extremamente promissores para as redes de ensino. A mudanças que imprimimos no modo de concebe – ló se expressam em uma série de ações consequentes, reconhecidas como tal pelo poder público, por organismos nacionais e internacionais, pela imprensa. Entre elas, destacam – se os parâmetros curriculares nacionais – PCN. (p.2)

            Entretanto, não basta só ser discutido na LDB ou PCNS, conforme coloca Pedro Benjamim Garcia, e até mesmo o ministro da educação Paulo Renato, a presença constante de alunos com transtorno emocionais oriundos de abuso físico ou psicológico, passando por uma vasta gama de disfunções orgânicas e dramas pessoais, até a perda de familiares ou colegas, chegando a quase imponderável morte de um aluno, o cotidiano escolar é pontilhado por ocasiões nas quais o trabalho pedagógico rende – se a perplexidade e a frustração.

            Como observamos, trata – se de um universo paralelo de circunstâncias pontuais, mas que requerem, do educador (professor, dirigente, coordenador ou psicopedagogo), ao menos uma boa dose de consenso, quando não uma abordagem direta com os outros alunos envolvidos, que acabam demandando um posicionamento mínimo por parte do educador. Não basta ser apenas preocupação de organismos internacionais, UNESCO, UNICEF ou estar presente na LDB, é preciso que a sociedade em geral conscientize que precisamos de uma sociedade mais justa, mais igualitária mais humana.

 

  1. A CRIANÇA E/OU ADOLESCENTE COM TRANSTORNOS EMOCIONAIS, PODE APRESENTAR DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM?

 

Discutiremos sobre a relação implícita ou explicita dos transtornos emocionais com as inúmeras dificuldades de aprendizagem. É necessário recordar que este trabalho baseia – se em uma pesquisa bibliográfica, onde o tema em voga está num campo infinito. Sendo assim apresentaremos teses de autores que nos levam a crer que a resposta para a pergunta que intitula este item seja sim, pois é rara a pesquisa sobre a dificuldade de aprendizagem que não cita a relação existente entre dificuldade para aprender a ler e escrever a fatores emocionais. Essa preocupação em avaliar a extensão que os problemas emocionais acarretam a aprendizagem, segundo SCHOZ (1994),

.... Surgiu por volta dos séculos 18 e 19, com o grande desenvolvimento das ciências médicas e biológicas, especialmente da psiquiatria... chegou – se a atribuir as crianças que não acompanhavam seus colegas na aprendizagem de anormais escolares, já que seus fracasso era atribuído a alguma anormalidade orgânica (p.19).

            Estes estudos neurológicos e psicanalíticos dominou a versão de que não só as influências ambientais sobre o desenvolvimento da personalidade nos primeiros anos de vida, mas também a dimensão afetiva e emocional determinam alguns desvios de comportamento que, provocando uma mudança terminológica na aprendizagem escolar. No Brasil, o grande pesquisador defensor destas teorias foi o médico psicanalista Arthur Ramos que durante muitos anos foi referência nacional para quem quisesse saber mais sobre o assunto. Ramos agitou cenários médicos com suas ideias psicanalíticas, chamando atenção para as relações interpessoais vividas pelas crianças, até então ignoradas pelos estudiosos da época que explicavam os problemas de aprendizagem com explicações hereditárias do desenvolvimento humano.

 Pouco se avançou no Brasil até que momento, pois a explicação de que os problemas de aprendizagem tinham como responsável a dimensão orgânica, ainda era muito grande.

            Esta dimensão até hoje persiste nos meios educacionais, haja vista que a maioria dos profissionais que tratam de crianças com problemas de aprendizagem possuem sua formação nos estudos com estudos com testes psicológicos europeus, como por exemplo, a escala Binet de inteligência.

            MARTINELLI (1998) em seu livro Aulas de transformação, nos chama a atenção de como as emoções e questões emocionais estão intimamente ligadas à rigidez do corpo. Consequentemente qualquer criança que esteja vivendo sob fortes pressões emocionais estará revelando através do corpo e/ou comportamento, estes problemas. Talvez este seja um dos fatores que levam os estudiosos a considerarem o problema de origem orgânica.

            A educação das emoções passa pelo auto reconhecimento que permite reconhecer as próprias ações e as ações dos outros indivíduos. Saber estabelecer juízo sobre coisas e pessoas e desenvolver a maturação das emoções e as motivação e curiosidade pelo aprendizado. O caráter formado pelo encontro com o mundo, ou seja, o confronto com as situações, o meio ambiente e as pessoas em geral. No dia – a – dia escolar é comum o aluno trazer para a sala de aula seus conflitos emocionais cujas consequências, sem duvida, se manifestam tanto no comportamento como no desempenho escolar. Essas questões exigem não só a educação como trabalho multidisciplinar, a que amálgama fatores orgânicos cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais. A criança com problemas emocionais provavelmente será portadora de problemas de aprendizagem se esta dinâmica não for realizada.

 

  1. COMO A COMUNIDADE ESCOLAR DEVE AGIR EM CASOS DE CRIANÇAS E/OU ADOLESCENTES COM ESTE PROBLEMA?

 

Trabalharemos a psicopedagogia não só como uma ciência a mais na realidade escolar, mais abordaremos a sua importância na realidade escolar como ajuda eficaz na problemática de reais problemas de aprendizagem que necessitam de atuação especifica da escola.

É importante salientar neste momento que a escola em uma prática individualista jamais conseguirá dar cabo a esta problemática, tampouco professores despreparados e cheios de boa intenção. É necessário que através dos transtornos materializados nas condutas desviantes, anômalas, a clientela escolar constitua uma excelente oportunidade para uma reflexão consistente e honesta acerca de muitos limites, bem como das tantas possibilidades da prática escolar na contemporaneidade. É hora de sairmos do campo das ideias e partirmos para o campo das ações. Em um primeiro momento devemos refletir sobre o que entendemos como infância hoje.

Somente ao finalizar a idade média, por volta do Séc. XVI, com o aparecimento dos comerciantes como segmento social importante é que foi considerada a infância e adolescência como fases diferentes da fase adulta:

Segundo CAVALCANTE apud VITIELLO (1988)

A história da infância está intimamente relacionada á historia da burguesia (...), quando entre camponeses e nobres surgiram os burgos (...); a classe social burguesa caracterizou a infância como um período de nítida diferenciação. Isto ocorre quando os burgueses acumularam recursos econômicos suficientes para prescindir do trabalho dos filhos e propiciar a eles melhor educação e uma melhor supervisão e proteção (p.9).

            Até então, crianças e adolescentes podiam partilhar e era até mesmo possível terem certos direitos iguais aos dos adultos.

            Segundo MONROE apud BECKER (1970), a educação das crianças desde a antiguidade havia uma grande preocupação, sendo dada uma maior ênfase na sedução moral e intelectual.

Mal deixava os cuidados da ama, o menino grego ficava a cargo de um pedagogo – escravo ou servo a quem era confiada a responsabilidade do zelo moral e do cuidado geral sobre a criança. Muitas vezes escolhia – se para esse cargo alguém que, em virtude da idade, de aleijão, ou de outros defeitos, fosse incapaz para os serviços domésticos (p.141)

            Aproximadamente com 16 anos de idade, ficava o rapaz livre do cuidado do pedagogo, interrompia o estudo literário e musical; e a educação da palestra era substituída pela do ginásio. Aí ele convivia mais livremente com jovens de sua própria idade e com adultos. O rapaz era ensinado e treinado numa variedade de exercícios, por um funcionário do estado, o pedótrofa, e ficava sob a orientação do sofronista ou zelador moral.

            Fica claro que o processo de educação em principalmente Atenas não cessava nunca, tendo em vista que a vida do cidadão ateniense, não era nem de trabalhos privados, nem de prazeres, pelo contrario, o estado exigia tantos serviços do cidadão que uma vida de atividade econômica para fins pessoais era dificilmente possível, e certamente nunca poderia alcançar a extensão comum aos tempos modernos. Era dado uma maior ênfase no desenvolvimento moral e intelectual, apesar de o esforço físico para a perfeição física não ser negligenciado.

            Dessa forma, pode – se perceber que desde o século V a C, os gregos já tinham grande preocupação com a formação do cidadão, com sua preparação para a vida em cidadania, com a preparação moral. A partir dos gregos, surge outra imagem ideal e consequentemente outro conceito do processo educativo. Este visa o homem como ser livre e responsável como àquele que constrói o seu próprio presente sem, no entanto negar o seu passado; o homem que pode até desafiar o próprio destino.

            Na constituição de 1988 há uma grande preocupação com as questões sociais, no artigo citado na REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano II - nº 2, o Vice – Presidente da República Marco Maciel reconhece o grande déficit ainda existente no campo social.

A democracia, contudo não se esgota nas conquistas nos planos político e econômico, ambos de muita visibilidade. O maior desafio com que defrontam as democracias, amadurecidas ou emergentes é o déficit social. A falta de mecanismos que proporcionem igualdade de oportunidades para todos e a erradicação da pobreza são requisitos sem os quais continuaremos a ter instituições democráticas, mas dificilmente verdadeiras democracias (p. A3).

            Em 1995, ao completarmos o terceiro ano de comemorações do Dia internacional pela erradicação da pobreza, um relatório do banco mundial registrou que a concentração da riqueza nos últimos cem anos tornara o mundo mais injusto de que no século anterior. Já em 1996, o PNUD revelou que, nos dez anos anteriores, piorara a condição de vida de mais de 1 bilhão  de habitantes do planeta, num quadro como este, conclui o Vice – Presidente, é um grande desafio tanto na questão da governança ou da governabilidade quanto para as democracias.

            A democracia, como se sabe, filosófica e ética, busca a conciliação entre liberdade e igualdade. O governo republicano também justifica essa aspiração, por entender que todos devem ser iguais oportunidades e que não deve haver distinção entre qualquer parte dos cidadãos e o todo da sociedade. Por isso a política precisa voltar a ser definida como o “campo dos interesses coletivos”, conclui Marco Maciel.

            Entretanto é interessante questionar que o Vice – Presidente Marco Maciel quer dizer por interesses coletivos, quando após 7 anos os servidores públicos permanecerem sem ajuste salarial, com seus salários totalmente defasados, e somente agora em 2001 ser aprovado um aumento salarial em torno de 3%. É bom salientar que entre os servidores públicos estão incluídos os professores, estes que formam os filósofos, os políticos e até mesmo o presidente da republica.

            CONSIDERAÇÕES FINAIS

             Chegamos os finalmente entendendo que não é suficiente que nossos parlamentares reconheçam a realidade e seus problemas, pois, reconhecer, está bastante distante do fazer, é necessário que na prática, nossos parlamentares busquem realmente preocupar com as questões sociais, caso contrario nossas crianças não poderão prescindir de estarem nos sinaleiros como pedintes, trabalhando como flanelinhas, etc, não há ONG, CNBB, Betinho ou qualquer outra organização que mude o caótico, enquanto realmente não tivermos a coragem de perceber que somente através da valorização da educação reverteremos este quadro social tão caótico no qual o Brasil se encontra.

            O presidente Fernando Henrique Cardoso na sua proposta quando se recandidatou ao cargo de mandatário maior da nação, apresentou os cinco dedos da mão e em cada dedo estava uma proposta de melhoria para o nosso país, não era necessário ficar com a mão levantada, causando certo cansaço, bastava levantar um dedo com propostas efetivas para a educação, sem a qual nosso pais jamais saíra desse quadro de desigualdade social.

            Entretanto na questão da educação, é necessário que se verifique o que efetivamente se tem feito na questão da capacitação dos professores para entender os reais problemas da educação.

            Com o quadro cada vez mais agravante de desigualdade social, a todo instante somos surpreendidos com relatos de trabalho escravo infantil, normalmente os responsáveis quando inquirido pela imprensa insistem em dizer que eles não são mais crianças e precisam trabalhar para ajudar os pais. Com este pensamento os pais dificultam ainda mais o trabalho da escola em incluir esses alunos em uma vida normal e digna.

            Essa forma de entendimento da ordenação do universo infantil, comparando a criança ou adulto, propicia também a necessidade dos tantos discursos sobre criança e adolescente que hoje presenciamos á exaustão, nos círculos acadêmicos, na mídia, nas escolas, em nossos lares. Um bom exemplo dessa otimização sócio – histórica em torno da infância pode ser encontrado também nas teorias psicológicas acerca do desenvolvimento infantil em suas vertentes motoras, cognitivas, afetivas, sociais e assim por diante. Vivemos de o fato o século da criança! Há crianças que estão sujeitas a máculas da vida adulta (separação dos pais, abusos, depressão, drogas, álcool, etc.).

            É muito importante e útil para elaboração de um plano comum para diminuir o estresse sobre o qual a criança pode estar. No caso de um aluno portador de transtornos emocionais – TE, o mais importante é descobrir formas de ajuda-lo a sentir – se bem em relação a si mesmo e não as atividades associadas ao controle e resolução da problemática que o cerca. Os professores e a família podem ser particularmente importantes para ajudar a criança a encontrar novas experiências no sentido de alcançar novos objetivos. É comum a recuperação ser desencadeada com o objetivo de um novo interesse de vida, ou quando a criança inicia um novo relacionamento com alguém.

            É imprescindível que professores, pais e responsáveis sejam honestos e receptivos com a criança que sofre de transtornos emocionais, quando possível; e que ninguém lhe diga coisas que possam aumentar suas preocupações quando todos estão tentando diminui – lãs e sim utilizem impressões que sugerem que os jovens devem, na verdade, ser capazes de grandes conquistas e de abrir o seu próprio caminho no mundo.

            Apesar de vários estudos levantarem sérias críticas ao sistema educacional brasileiro poucos oferecem alternativas viáveis de ação. Os altos índices de fracasso escolar persistem em plano século XXI e têm se revelado imunes às tentativas de reverte – los.

            Por ouro lado percebe – se a crescente expansão da psicopedagogia, definida atualmente como uma área que estuda o processo de aprendizagem, e também atua frente aos problemas dele decorrentes.

            Numa concepção atual, a psicopedagogia entende o ato de aprender a partir das articulações mais amplas da sociedade da sociedade.

 

Referências Bibliográficas

 

BEKER, idel. Pequenas histórias da civilização ocidental. 6 ed. São Paulo, Companhia editora Nacional, 1969.

BRITO Mota. Um novo olhar sobre o Papel da escola no fracasso escolar. Jornal do MEC. Brasilia, DF, set/99

CAVALCANTE, Ricardo da Cunha. Adolescência in: Vitello, Nelson et al. Adolescência hoje. São Paulo, Roca 1988.

MARTINELLI, Marilu. Aulas de transformação: o programa da educação em valores humanos. São Paulo, Petrópolis, 1998.

REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano II - nº 2. 2005 In: MACIEL, Marco. “Democracia e desigualdade social”.

SCHOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: O problema escolar e de aprendizagem. Rio de Janeiro, Vozes, 1994.

 

[1] Posgraduanda em Educação Infantil e Especial com ênfase em Alfabetização das Faculdades Integradas de Diamantino-MT

[2] Mestre em Educação pela UFMT