JOSÉ KAIQUE PINHEIRO BARROS

ALEFE DAVI

ÉVERTON PEREIRA DE OLIVEIRA

RESUMO

O presente trabalho, construído a partir da unidade curricular: Projeto Integrador Mídia e Comportamento, componente que contempla a temática: Transtorno Dismórfico Corporal: Vigorexia e a Influencia da Midia.

O Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) é caracterizado por uma preocupação intensa e obsessiva a algum “defeito” que um sujeito acredita ter, em sua aparência física o levando a um sofrimento psíquico, acarretando ao mesmo prejuízo considerável em sua vivência e relações interpessoais. Os sintomas do (TDC) surgem de maneira gradativa ou súbita, variando de acordo com a intensidade, tendem a persistir caso não sejam adequadamente diagnosticados e tratados. Em alguns casos o simples fato de arrumar-se de forma excessiva, ou “cutucar” a própria pele para “remover algo” ou buscar ratificar os supostos defeitos, podem ser indicativos de um (TDC).

De acordo com o manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM 5) alguns dos critérios avaliativos para o diagnóstico são: I - Preocupação com um ou mais defeitos ou falhas percebidas na aparência física que não são observáveis, II - Em algum momento durante o curso do transtorno, o indivíduo executou comportamentos repetitivos (Ex: verificar-se no espelho excessivamente), III - A preocupação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Os (TDC) dentro da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) encontram-se dentro da categoria R46 que refere-se a: sintomas e sinais relativos à aparência e ao comportamento.

Em 22 de agosto de 2016, a repórter da BBC Valeria Perasso, em uma matéria da própria BBC News, apresentou dados relativos a homens que sofrem com transtorno de imagem corporal devido a vigorexia. Segundo a reportagem, uma pesquisa realizada pela Universidade de Sydney demonstra que homens têm até quatro vezes mais chances de ter vigorexia e não serem diagnosticados do que as mulheres, e ainda, um estudo de larga escala sobre a imagem corporal no mundo industrializado, indica que, embora proporcionalmente mais mulheres estejam insatisfeitas com seus corpos do que homens, eles sofrem mais psicologicamente com os transtornos de imagem corporal. (Perasso, Valeria, 2016).

Isto posto, buscar-se-á, promover uma discussão que contemple a relação da mídia, bem como sua influência em vender um padrão de imagem corporal. Percorrendo em um diálogo com a ciência psicológica, e de como ela pode contribuir nesta discussão se utilizando do arcabouço teórico que a mesma ao longo dos anos vem construindo. Trazendo reflexão sobre o sofrimento psíquico dos sujeitos acometidos em transtornos de imagem corporal com foco em homens que sofrem de vigorexia.

O conceito de vigorexia é atribuído ao psiquiatra Harrison Pope (Pope, Katz e Hudson, 1993), a partir de estudos científicos em meados de 1993, no laboratório de psiquiatria biológica do hospital McLean (EEUU) ao estudar o uso de anabolizantes em homens recrutados nas academias de Boston nos Estados Unidos. Pope em seus estudos pode observar que alguns destes homens apresentavam comportamentos psicóticos onde os mesmo se percebiam como “pequenos e fracos” enquanto na realidade eram “grandes e musculosos”, (Pope e Katz, 1994). Este fenômeno foi denominado por Pope em seu primeiro trabalho como: “anorexia reversa” (Pope e Katz, 1994). Para Pope, enquanto a anorexia é um distúrbio alimentar onde o sujeito tem uma visão distorcida de seu corpo, tendo uma obsessão por seu peso, a vigorexia era exatamente o oposto, onde o sujeito acometido de tal transtorno tem uma visão de igual modo distorcida de seu corpo, levando o mesmo a uma obsessão na busca por um corpo musculoso.

A vigorexia nada mais é do que uma percepção distorcida da imagem corporal, caracterizada pela busca incessante de massa corporal, consumo de suplementos vitamínicos, dietas alimentares em excesso e em prática excessiva. Já é possível notar-se sintomas da vigorexia a partir da preocupação exacerbada com o corpo, apesar de a pós-modernidade criar necessidades em se preocupar com o peso na balança e o comprimento do abdômen. A partir desta cultura, muitas coisas se mantêm em cima, em um mercado que instiga a partir da pré-adolescência se dar atenção ao padrão do seu corpo.

A contemporaneidade produziu novos “cuidados de si” manifestos pelo culto à beleza, juventude do corpo e pela ideia de que este pode ser remodelado de acordo com o desejo de cada um. Este culto à forma do corpo tem investido principalmente sob dois aspectos: aumento da musculatura e definição corporal, o que tem levado a diversos transtornos psicológicos, um deles a vigorexia, bem como bulimia e anorexia. (FEITOSA FILHO, 2021)

A visão psicanalítica freudo-lacaniana da vigorexia traz uma discordância entre a imagem ideal e a realidade que faz parte da condição humana, uma vez que a relação de qualquer indivíduo, com a imagem não se achará nunca efetivada. A teorização ministrada por Lacan em 1966 chamada de estádio do espelho, ampliou os estudos sobre o narcisismo, asseverando que o corpo, inicialmente descoordenado, despedaçado e impotente do bebê é reunido numa forma, uma Urbild; essa conquista promove uma satisfação narcísica, resultando desta, uma fascinação na qual o sujeito encontra sua unidade jubilatória onde a forma do corpo é vista como perfeita e amável, havendo aí uma captura da libido no imaginário. Ocorre que a conquista antecipada dessa unidade por meio das percepções é percebida do lado de fora, no Outro, mas de fato, o bebê vivencia ainda um momento de impotência e imperícia discordantes com a perfeição desta unidade jubilatória. O segredo da jubilação é o encobrimento da falta, na medida em que esta imagem aparece como Gestalt completa, levando o sujeito a regozijar-se na completude. (FEITOSA FILHO, ABR. 2014)

"O gozo da imagem dá razão a essa posição subjetiva de fazer-se com seu narcisismo, de objeto de desejo do outro, dando a impressão de não ter falta de nada.” (QUINET, 2002, p. 134). É nesse momento fundante que o indivíduo com sintomas vigoréxicos parece ancorado, no entanto, essa experiência de discordância fundamental – entre a imagem ideal e a realidade – faz parte da condição humana, uma vez que a relação de qualquer indivíduo, vigoréxico ou não, com a imagem não se achará nunca efetivada. (FEITOSA FILHO, ABR. 2014).

REFERÊNCIAS

FEITOSA FILHO, Odimar A.. Um olhar psicanalítico sobre a vigorexia Una mirada psicoanalítica sobre la dismorfia muscular (Vigorexia). Rev. Subj., Fortaleza , v. 14, n. 1, p. 162-171,                   abr.  2014    .