Transporte público de Manaus: necessidade de mudanças e opções modais.

Vinicius de Moura Oliveira

Paulo Ricardo de Souza Rodrigues

Universidade Federal do Amazonas

Faculdade Metropolitana de Manaus

Resumo

Por anos, as cidades vêm preparando estruturas urbanas que consolidaram apenas um único meio de transporte, o carro. No entanto, o principal agente da mobilidade urbana é o pedestre. As várias formas de se locomover na cidade, precisam obedecer uma escala linear, na ordem, pedestre, transporte público e transporte motorizado privado. O transporte público deve ser priorizado, sobretudo com a integração com outros meios modais, interligando zonas em regiões afastadas e, facilitando o pedestre e sua acessibilidade. O sistema público de transporte em Manaus já apresenta sinais de estar saturado de defasado. As linhas convencionais de ônibus distribuídas na cidade, junto com os terminais de integração apresentam um volume e fluxo de passageiros além de seus limites, uma vez que, pelo menos um terço das linhas estão se dirigindo para o centro da cidade. Daí a necessidade se se pensar outros modais de transporte para a cidade em constante expansão. 

1. INTRODUÇÃO

Por tantos anos, as infraestruturas e planejamento urbano das cidades foram adaptadas para atender e priorizar os veículos motorizados, tendo como foco, o automóvel. Nas novas tendências, a necessidade de buscar uma estrutura urbana de transporte igual e satisfatória nos espaços públicos nas grandes metrópoles mundiais é um dos maiores desafios da Engenharia. Estudiosos dessa nova tendência preocupam–se em agrupar diferentes formas de se locomover nas áreas urbanas da melhor maneira possível, levando em conta vários fatores, tais como os sociais, econômicos e produtivos de cada localidade. Neste cenário, a priorização dos transportes motorizados particulares aconteceu de forma expansiva e cruel nas cidades, desprezando aspectos ambientais e sociais. O transporte urbano não pode ser desmembrado do planejamento urbano. Ambas as decisões, políticas e técnicas, devem satisfazer a necessidade de um crescimento da malha urbana, não descartando a natureza ambiental e sustentável.

O modal de transporte de cada cidade varia para cada região/distrito/bairro. No entanto, por questões de rapidez no trajeto, pontualidade do serviço, volume de passageiros e principalmente custos, o metrô, é um dos transportes mais visados nas regiões metropolitanas. Atualmente, na cidade de Xangai e Londres possuem as maiores redes de distribuição, seja em número de estações ou quilometragem de trilhos. A de Xangai é a de maior extensão (420 km), seguida de perto pela de Nova York (418 km); a de Londres é a terceira mais extensa (408 km). (ENOCK, 2012. p. 7)

No Brasil, Curitiba se destaca por ter uma rede de integração modal (bicicletas/carros/ônibus) eficiente para os seus usuários. Em Curitiba, o sistema de transporte urbano BRT – Bus Rapid Transit (sistema em que o ônibus circula em pistas separadas de outros veículos), mostrou-se tão interessante a população que o sistema hoje está saturado e torna-se necessário investimento em outros modais. O crescimento da cidade se ele elevou em função do BRT na década de 70 “o crescimento urbano foi ordenado em torno de cinco ruas largas, implantadas como os dedos de uma mão a partir do centro da cidade.” (GEHL, 2013 p. 220), caracterizando-se assim como ponto crucial para integração de outros veículos. Tomando como exemplo a rede de transportes de Curitiba, Manaus ainda não se destaca por apresentar um transporte coletivo urbano satisfatório, seguro e eficiente aos seus cidadãos.

O sistema de mobilidade urbana na cidade de Manaus é uma questão delicada, política e complexa. Até o final da década de 60 existiam bondes que circulavam na pequena Manaus. Com o crescimento desordenado da cidade e uma frota crescente de carros, Manaus ainda apresenta aspectos do transito do século XX desorganizado, violento e caótico. Hoje, o sistema público de transporte manauara fundamenta-se em sua frota de ônibus e micro-ônibus, desta feita, a cidade ainda não possui ainda uma rede de transporte coletivo digno de uma metrópole.

Para garantirmos uma malha de transporte consistente, temos que entender os diferentes tipos de transporte de massa. Destacam–se nesta modalidade o ônibus urbano, o metrô, o VLT (Veículo Leve sobre Trilho), o BRT e o Monotrilho.

Este último foi objeto de estudo por parte do governo estadual à época da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Esperava-se que esta modalidade de transporte público de massa contribuísse com o deslocamento populacional durante os jogos e ficasse como legado após o mundial.

Dada à necessidade de mudanças no cenário do sistema de transporte urbano de Manaus, pergunta-se: Quais as possibilidades de organizar uma rede de transportes eficiente em uma cidade com crescimento rápido e desordenado?

Se desejamos um transporte eficiente em nossas cidades devemos perceber que “somos pedestres. Estamos motoristas, estamos passageiros” (DUARTE et al., 2012, p. 17). Só pautando nosso pensamento desta forma poderemos desenvolver um transporte humanizado.

Segundo Duarte et al.(2012), o principal personagem da mobilidade urbana é o pedestre, pois todas as pessoas em algum momento assumem esta posição. Para ele, “(...), podemos passar de ser pedestres, a estar motoristas ou a estar passageiros do serviço coletivo, determinando-se uma hierarquia que espelha prioritariamente um meio de transporte.” (DUARTE et al., 2012, p. 17).

Sendo assim, toda política pública para transporte urbano deve ser pautada primeiramente privilegiando o acesso, segurança e conforto do pedestre. Neste ponto devemos ressaltar a necessidade de calçadas amplas e seguras e um meio de transporte coletivo que seja de qualidade em todos os seus aspectos.

A necessidade de deslocamento surge da necessidade de comunicação e busca do sustento próprio. Assim os primeiros homens buscavam em suas migrações encontrar alimento e abrigo seguro. A cidade moderna não difere muito desta necessidade básica. Todos nós nos deslocamos para de alguma forma buscar nosso sustento ou nosso abrigo. “Dentro desta dinâmica, é fundamental perceber o conceito da cidade enquanto produção coletiva. Ninguém a faz sozinha.” (VASCONCELLOS, 2012, p. 9) Sendo uma construção coletiva, é necessário entender quais são os personagens construtores desta realidade.

Vasconcellos (2012) elenca nove “agentes e fatores” responsáveis pela construção do urbano e sua relação com o transporte. Dentre estes ressaltamos três, o Estado, a indústria automotiva, e os sistemas de transportes e trânsito, como agentes mais atuantes na construção das relações do pedestre com o sistema viário.

O Estado é o agente regulador das políticas públicas relacionadas à administração geral das cidades. Sendo assim é responsável por ações de desenvolvimento do transporte público urbano. Como tal espera-se que fiscalize e puna irregularidades do transporte público, mas também ofereça suporte para o constante melhoramento da oferta de serviços de transporte coletivo.

A indústria automotiva busca sempre ampliar seus lucros a partir da venda de novos veículos e para tanto busca apoio junto ao Estado na forma de incentivos fiscais e infraestruturas que permitam a ampliação da frota de carros.

Os sistemas de transporte e trânsito que são condicionados pelo Estado em suas políticas públicas, condiciona o pedestre a decisões que são pautadas pela disponibilidade e variabilidade de serviços, ou seja, quanto mais opções de deslocamento maior o poder de decisão do pedestre.

Considerando que a população em geral pouco poder exerce sobre a indústria, resta pressionar o poder público a tomar iniciativas favoráveis ao bem comum. Como ação prática, criar políticas que favoreçam a população no sistema de transporte e trânsito. Este posicionamento do estado já é previsto em lei (12.587, de 3/1/2012), onde cabe ao estado entre outras coisas priorizar as pessoas de forma democrática e igual, bem como priorizar os “modos de transportes não motorizados sobre os motorizados e dos serviços de transporte público coletivo sobre o transporte individual motorizado” (Seção II, art. 6, §2.).

2.HISTÓRICO DO TRANSPORTE PÚBLICO DE MANAUS.

Até o início da década de 50 o transporte público na cidade de Manaus era realizado por bondes elétricos, mas a necessidade de maior número de veículos para atender a demanda da população por transporte público levou a implantação gradativa do sistema de ônibus (MAGALHAES, 2011, p. 112).

Apesar desse quadro de dificuldades, o ramo dos transportes desde o princípio atraiu investidores, começando a se delinear, desde os anos 1950, os primeiros contornos empresariais para o segmento de transporte de passageiros em Manaus, com pequenas viações que se formavam por meio de um agrupamento de pouco mais de três veículos. (MAGALHAES, 2011, p. 111)

Diante destes fatores, a iniciativa por melhorias no transporte coletivo da população no momento, resultou na criação de linhas de ônibus que circulavam na periferia da cidade. Sem estudo prévio sobre a circulação dessas linhas, os motoristas ou próprios proprietários dessas pequenas empresas baseavam os percursos de acordo com a quantidade de passageiros presente de um local a outro. No início não havia intervenção do poder público sobre a circulação de ônibus, esta só veio a ocorrer em 1957 com a criação da Empresa Transportamazon, quando surgiram os primeiros ônibus com carroceria metálica.

Com a implantação da Zona Franca de Manaus (ZFM) em 1967, a cidade tem novo boom de crescimento desordenado. Juntamente com a população, amplia-se a oferta de transporte público, porém a qualidade do serviço não acompanha o crescimento da frota, o que ocasiona grandes e violentas revoltas populares.

Com as transformações sociais e físicas que ocorreram na cidade até os anos 10 do século XXI, o sistema de transporte público ainda é insatisfatório e contrastante com o crescimento da cidade. Dessa forma, a criação e construção de uma rede de transporte para a cidade é necessariamente vital para o funcionamento de uma grande metrópole, uma vez que, de acordo com os últimos dados (IBGE, 2010), Manaus já passa de seus 2 milhões de habitantes e com uma frota de 1620 ônibus (SMTU, 2015), no qual ainda é muito pouco para atender os deslocamentos da população.

3.TRANSPORTE PÚBLICO

O transporte público merece uma análise especial, dada a sua importância para a maioria da população nas grandes cidades.

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