19 Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco. 20 E, dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor. 21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. 22 E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. (João 20:19-22).

INTRODUÇÃO: Durante o ministério terreno do Senhor Jesus Cristo, por várias vezes, deixou transparecer para os seus discípulos, que eles estavam sendo preparados para levar avante a obra da evangelização após sua morte e ressureição. Todavia, o avanço da obra corria risco de fracassar. Isto por que na tarde do primeiro dia da semana, os discípulos, dez deles, estavam reunidos em uma sala, talvez o lugar da Última Ceia, com as portas trancadas com medo dos judeus. Tinham medo; conheciam o rancor amargo dos judeus, que tinham planejado a morte de Jesus e os discípulos temiam que o fizessem com eles. De maneira que se reuniam com temor, ouviam com atenção para descobrir um passo na escada ou um golpe na porta pensando que os emissários do sinédrio pudessem ir prendê-los. No entanto, no lugar do medo, devia ter júbilo de alegria entre eles, pois, Jesus havia ressuscitado. Ressurreto, o Senhor agiu para trocar o sentimento de medo para coragem.

Vejamos as 6 ações de Jesus que resultou na transição do medo para coragem na vida dos discípulos. 

I. JESUS TIROU OS DISCÍPULOS DA INÉRCIA.

Inercia significa falta de reação, de iniciativa; imobilismo, estagnação; apatia, prostração. “cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus”. Os discípulos ficaram inerte, paralisados pelo medo dos judeus. O medo é uma emoção comum que é sentida por todas as pessoas, em diferentes momentos da vida. Existem dois tipos de medo: os medos reais, que nos protegem dos perigos, e os medos irreais, que são criados pela mente e impedem que o indivíduo explore todo seu potencial.

Considero o medo dos discípulos irreal, afinal, era o terceiro dia, havia a promessa de o Senhor ressuscitar.  Desde então começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia (Mateus 16:21). Neste dia, eram para eles estarem em festa, e não com medo. Era para estarem em pleno movimento e não tomados pela inércia. A semelhança dos discípulos, muitos estão impedidos de explorar todo seu potencial, por causa do medo. Medo de fracassar, de morrer, de se frustrar ao se relacionar com o próximo, de ser criticado, perseguido e abandonado.

Pelo fato de Jesus nunca ter chamado alguém para viver aprisionado pelo medo, foi ter com os discípulos estando as portas cerradas. Nosso Senhor não precisa de portas abertas para operar, ele passa por onde não têm portas para libertar os seus discípulos do imobilismo provocado pelo medo.  Chegou Jesus (v. 19): Não só entrou na sala, mas também no coração dos discípulos libertando-os do medo e do desalento. Através desta mensagem Jesus veio ter com você para liberta-lo do medo e da inércia.

II. JESUS POSICIONOU-SE AO ALCANCE DOS DISCÍPULOS.

Para o medo, a derrota, e a inércia sair, além de ter ido ter com os discípulos, foi necessário Jesus,” ... pôs-se no meio...” deles. Equivale dizer que Jesus ficou posicionado em um lugar em que todos podiam vê-lo e tocá-lo. Jesus continua posicionando-se em lugares que você pode senti-lo e tocá-lo pela fé. De acordo com a profecia, Jesus, o Servo Sofredor, seria "contado com os transgressores (Is 53:12; Lc 22:37), e dois ladrões (Mt 27:38).

Foi um ato providencial Jesus ter sido crucificado entre os dois ladrões, pois desse modo, ambos tiveram o mesmo acesso ao Salvador e, puderam vê-lo dar a vida pelos pecados do mundo. Bendito seja o Senhor que se posiciona no meio de sua igreja.

Em Mateus 18:20 Jesus afirma: Pois onde dois ou três se reúnem em meu nome, ali estou no meio deles. A igreja local é uma comunidade de adoração que reconhece a presença do Senhor em seu meio. Jesus se posicionou ao alcance dos discípulos para resgatá-los. Esta mensagem é o meio que Jesus está usando para resgatar sua vida do medo, do pecado, e das trevas para Sua maravilhosa presença.

III. JESUS TRANSMITIU PAZ PARA OS DISCÍPULOS.

Jesus "não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas íniqüidades" (SI 103:10). Jesus poderia ter repreendido os discípulos pela infidelidade e covardia que haviam demonstrado no final da semana anterior (Mt 26:56), mas não o fez. Após Jesus posicionar-se no meio, suas primeiras palavras foram a saudação tradicional: "Shalom - Paz seja convosco!"  Que significa muito mais do que a simples ausência de guerra ou de perigo. Significa integridade, plenitude, saúde, segurança e até mesmo prosperidade, em seu melhor sentido. Quando desfrutamos a paz de Deus, temos alegria e contentamento.

No primeiro reencontro, Aquele que foi abandonado pelos discípulos, negado por Simão Pedro, não possui nada mais que paz e amor e salvação para os seus. Jesus é o príncipe da Paz (Is 9:6), e, portanto, transmite paz ao coração desesperado. “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”. (João 14:27). A “paz” de Deus não é como a "paz" que o mundo oferece. O mundo baseia sua paz em seus recursos, enquanto a paz de Deus depende de relacionamento com Ele. Estar em ordem com Deus significa desfrutar de Sua “paz”.

O mundo depende da capacidade pessoal, mas os cristãos dependem da suficiência espiritual em Cristo. No mundo, a paz é algo pelo que as pessoas esperam e se esforçam; para os cristãos, a paz de Deus é uma dádiva maravilhosa, recebida pela fé. O ser humano havia declarado guerra contra Deus (SI 2; At 4:23-30), mas Deus declararia "Paz!" a todos os que cressem. Os que não são salvos sentem paz quando não há problemas; os cristãos têm paz apesar das dificuldades por causa da presença do Consolador. “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre”; (João 14:16). Jesus chamou o Espírito de "outro Consolador", e a palavra grega traduzida por "outro" significa "outro do mesmo tipo". O Espírito de Deus não é diferente do Filho de Deus. Ambos transmitem paz aos corações aflitos dos filhos de Deus.

IV. JESUS AMPLIOU A VISÃO DOS DISCÍPULOS.

E, dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor (V,20). A palavra de paz aliviou o temor. Agora estava na hora de se identificar, de ampliar a visão dos discípulos. Mostrou-lhes suas mãos e lado feridos e lhes deu a oportunidade de descobrir que era, de fato, o Senhor, não um fantasma.

Muitos cristãos não são portadores de deficiência visual como a que Bartimeu tinha (Mc 10:51), todavia, devem clamar como ele dizendo: Mestre, que eu torne a ver. (Mc 10:51). Torne a ver que em Cristo não há necessidade de temer satanás e os demônios, pois, “... maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo”. (1João 4:4). Quando o moço, servo do profeta Eliseu, estava tremendo de medo do exército inimigo, o profeta acalmou-o dizendo: Não temas, porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles. (2Rs 6:16). 

Após, orou ao Senhor dizendo: peço-te que lhe abras os olhos para que veja. O Senhor abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu. (2Reis 6:17). Ore ao Senhor para ter a visão espiritual ampliada como foi ampliada a visão dos discípulos e, a do moço de Eliseu. Que Deus em Sua infinita Bondade, nos conceda visão para solucionar problemas em nossa vida pessoal, familiar e ministerial. 

V. JESUS COMISSIONOU OS DISCÍPULOS.

Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor (V,20). Quando Jesus viu que o medo dos discípulos havia se transformado em alegria, os comissionou: "Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio" (v,21). Essa comissão não foi a "ordenação formal" de uma ordem eclesiástica, mas sim uma consagração de seus seguidores ao evangelismo mundial. Ao serem enviados, os discípulos são inseridos no poderoso movimento que saiu do coração do Pai e penetrou no mundo pela entrega do Filho e agora deve imergir cada vez mais no mundo por meio dos discípulos.

Não se pode levar essa mensagem aos homens a menos que a Igreja formada pelos discípulos de Jesus o faça. O apóstolo Paulo disse: “... vós sois corpo de Cristo...” (1Co 12:27). Portanto, a Igreja deve ser a boca que fale por Jesus (Mc 16:15); os pés que leve as boas novas até os confins da terra (At 1:8) e, as mãos que cure os enfermos (Mc 16:18c). Seja qual for a tarefa que Deus lhe deu, lembre-se: a sua autoridade vem de Deus e, Jesus demonstrou, por meio de palavras e ações, como realizar a obra que Ele confiou a igreja.

Assim como o Pai enviou Jesus, Ele agora envia os seus seguidores; você faz parte desse grupo. Que o Senhor envia todos nós, vê-se em Ef 4.11-12; que aponta alguns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros como pastores e mestres, para que esses aperfeiçoassem cada membro para cumprir a grande comissão.

VI. JESUS CAPACITOU OS DISCÍPULOS.

Jesus não só comissionou os discípulos, mas também os capacitou pelo Espírito Santo.  Assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo (v.22): Foi somente quando o Senhor soprou nas narinas do homem, que formara do pó da terra, que se tomou alma vivente. Foi só quando Ele soprou sobre os discípulos que receberam o Espírito Santo e o poder de irem ao mundo como Ele tinha ido.

Jesus capacitou os discípulos com o Espirito Santo de uma maneira especial como uma antecipação daquilo que todos os crentes deveriam experimentar a partir do pentecostes (At 2). A essa altura em que foram capacitados, os temores dos discípulos haviam se dissipado. Não tinham dúvidas de que seu Senhor estava vivo e de que estava cuidando deles. Que a esta altura desta mensagem, o medo que vinha atormentando sua vida tenha saído dando lugar a coragem.

CONCLUSÃO: Para que ocorra a transição do medo para coragem, primeiro - Jesus vêm ao nosso encontro para tirar-nos da inércia. Segundo - posiciona-se ao nosso alcance, “i.e.” no meio. Terceiro - transmite-nos paz, que é a maior necessidade de um coração amedrontado. Quarto - amplia–nos a nossa visão. Quinto - envia-nos para anunciar o evangelho e, em sexto, concede-nos poder para vencermos o pecado e realizarmos a Sua obra. 

AUTOR: Pastor Antônio Pacifico