TRAIRAM-TE, PATRIA AMADA

"Adiaram tanto o corte das árvores mortas, que elas começaram a cair de podres".

Em uma noite de límpidas estrelas, ao passar pelo Parque Internacional, contemplei, tremulando, embalada por uma leve brisa, como a saudar-me no silêncio da madrugada, a mais linda das bandeiras, símbolo de uma das mais notáveis nações deste planeta, o Brasil. Minha memória viajou pelo túnel do tempo. Lembrei que no passado a vi tremular também nos mais distantes recantos de nossa Pátria; nas longínquas regiões de fronteiras, nas barcaças nos rios da Amazônia, nas extensões do rio São Francisco, nas delegações brasileiras no exterior, em lugares por onde outrora andei. Foi a mesma que desde cedo aprendi a amar nos bancos escolares e com a qual por algum tempo convivi diariamente durante o serviço militar aqui nas gélidas guarnições destes limites extremos de nossa pátria. Símbolo cujo significado mais profundo lhe damos nós, os habitantes das fronteiras, nada tendo a ver com o nacionalismo cego e fanático que leva os povos à estupidez das guerras, mas sim a um amor pela pátria como a nossa sagrada casa. Hoje, assistindo ao horror da degradação moral que acontece em nosso País, fico pensando em todos aqueles que o traíram. Mesmo não sendo esta política de vendilhões da pátria uma regra natural, é em parte um padrão de conduta de uma sociedade descontrolada, atualmente manipulada pelos interesses escusos daqueles que nenhum comprometimento têm com os mais elementares princípios de moral e valores humanos. Segundo o escritor australiano Morris West: "Em política, de qualquer forma, não há moral. A natureza do jogo o impede. A carreira de um político depende dos ventos caprichosos da opinião pública. Ele é obrigado a manobrar sua consciência para aproveitar a mudança de cada brisa". Já Albert Camus é mais incisivo ainda: "A política e os destinos da humanidade são forjados por homens sem ideais nem grandeza. Aqueles que têm grandeza interior não se encaminham para a política."
A nação estarrecida assiste diariamente a esse festival de corrupção e impunidade, esperando que ao menos a maioria dessa escória humana que chafurda em um mar de lama seja algum dia varrida da cena política pelos ventos de uma nova era.
Devemos assumir a responsabilidade por tudo isso. Que cada um de nós se olhe no espelho e aí certamente encontrará o culpado. A maioria dos brasileiros não lembra mais em quem votou nas eleições passadas. Somos um dos povos mais alienados do mundo, totalmente influenciados pelo sistema vigente, o qual comanda nossos atos, os mais simples.
Todos os dias e a cada momento, funciona o circo da alienação em nosso país. Por gostarmos de circo, nos fizeram de palhaços.
Vivemos em uma sociedade de contracultura, voltada ao culto do individualismo, onde os valores pessoais são sacrificados por questões de dinheiro e poder.
Em um sistema assim, é preocupante o futuro de nossa nação. Segundo Bolívar Lamounier, cientista político, o Brasil não produziu nos últimos anos lideranças capazes de assumir sua condução, e isso se reflete na crise ética e política do País. Muitos integrantes destas últimas gerações não conheceram limites, pois tudo lhes foi permitido em nome de uma falsa liberdade, na qual só se conhece a lei da vantagem e dos próprios interesses.
O resultado dessa falsa definição de valores é a atual perda de autenticidade, a qual ocorre também a nível social. Enquanto isso, canalhas e criminosos da pior espécie, verdadeiros traidores da pátria, responsáveis pela miséria e desespero de milhões de brasileiros continuam atuando na vida política do país, na mais absoluta certeza da impunidade.
Geraldo Mastella
Escritor santanense.