Nestes tempos conturbados, quando proliferam as crises políticas e a corrupção evidencia o calibre da moralidade da nação, vejo-me a contemplar minhas memórias de estudante.

Não estou querendo afirmar nem insinuar que meus professores me tenham ensinado a ser corrupto, nem que minha vida escolar estivesse envolvida nas crises do meu tempo. É claro que a gente se envolvia nos movimentos estudantis, mas nada que implicasse em quebra do sistema. Pelo contrário. Nossa vida estudantil foi de vítima ... eram tempos de ditadura!

Lembro de alguns colegas que desapareceram. Não sei se voltaram para suas cidades no interior ou se foram abatidos pala dita linha dura da ditadura...

Mas as minhas memórias, neste momento, não estão vinculadas à política, nem à corrupção. Talvez tenha algo a ver com as aulas de ética.

Na verdade o motor primeiro foi uma aula sobre Tomás de Aquino.

Aconteceu que naquela tarde não fui às aulas.

E isso não é imoral. Mesmo porque o professor iria retomar a explicação de como Tomas de Aquino se apropria das quatro causas, de Aristóteles para provar a existência de Deus.

Mas não foi por isso que não fui à aula, naquela tarde. Tinha um trabalho pra fazer, sobre a filosofia Tomista.

E fui à biblioteca procurar uns livros pra preparar o tal trabalho. Ainda não tinha internet!

Minha amiga também não foi à aula. E, casualmente, nos encontramos na porta da biblioteca central da universidade. Ela já estava saindo com os livros que eu buscava. Decidimos tomar um sorvete.

Escolhemos uma sorveteria no centro da cidade, perto da quitinete onde ela morava.

O sorvete ainda estava pela metade:

- Minha filha não está em casa. Vamos subir!

Mas antes terminamos o sorvete.

O elevador já estava parando, no sétimo andar.

Ela me bijou o pescoço e deu uma mordida na orelha.

Enquanto ela trancava a porta eu tirei a camisa!

Ela me arrastou para o sofá!!!

Daí pra frente não me lembro direito a ordem dos acontecimento.

Não sei se eu ou ela, acordou primeiro. A campainha tocava com insistência.

Depois do segundo toque, já mais longo. Nervoso? bateram na porta:

- Mãe! Cê tá em casa? Abra a porta!

Nem sei como percebi os detalhes, mas ela pegou suas roupas esparramadas pelo chão e correu para o quarto.

Eu catei as minhas e me tranquei no banheiro. No frenesi inicial, havíamos espalhado nosso material escolar pelo chão e na mesinha da sala.

Não sei quanto tempo ela demorou para vestir o short e a camiseta. Mas ouvi o barulho do ferrolho de segurança.

- Que demora pra abrir a porta!

- A gente estava estudando. Mas tava com muita dor de cabeça e fui deitar um pouquinho. Acho que peguei no sono. São aqueles comprimidos. Toda vez que tomo me dá sono.

- É, tô vendo sua carinha de dodói. Quem tá estudando com você?

A pergunta foi seguida do estalo do beijo da filha no rosto da mãe.

- E um trabalho sobre Tomás de Aquino, que estamos fazendo.

Foi minha deixa. Dei descarga e saí do banheiro, já vestido. E me dirigi à filha da minha amiga.

- Viu só que bela parceira de trabalho tua mão está se saindo! Me deixou estudando e foi dormir. Pura desculpa pra não ler a Suma Teológica.

Neri de Paula Carneiro

Rolim de Moura - RO