TRABALHO DÁ TRABALHO

Maria Eunice Gennari Silva

Durante anos ouvi dos meus pais que trabalho dá trabalho. Eles sempre diziam que, ao sair para trabalhar, saia consciente de que lá, no seu trabalho, tem muita coisa para fazer, ou seja, não enrola. Não empurra com a barriga, não faz nada pela metade e, muito menos, mais ou menos.

A boa relação com o trabalho começa no respeito e se estende até o vínculo afetivo que, gradativamente, é estabelecida no exercício das atividades e junto às pessoas envolvidas nele.

Crendo neste princípio, os que compartilham o mesmo tempo e espaço com quem faz do trabalho uma oportunidade de, lá, estar bem, com certeza, deixa na memória de todos uma referência de qualidade. Mesmo porque, por mais que, no trabalho, a tarefa seja individual, em algum momento, todas ou algumas destas tarefas necessitarão da participação do outro, ou de muitos.

No entanto, o desejo de que haja compreensão e aceitação deste princípio, não significa que haverá mudança de conduta nos que não estão nem aí para uma boa relação no trabalho. Porque, simplesmente, eles não querem aprender e ponto final. E mais, não significa, também, que só teremos essa boa relação se trabalharmos com o que e com quem gostamos. Nada a ver. O trabalho vai além destes significados simplórios.

Aprenda que o trabalho só acontece numa visão e disposição de boa relação com ele, porque, nesta perspectiva, ele será visto e sentido a partir de que, trabalhar é bom. E aí sim, se trabalhar é bom, então, seja lá o que se faz e com que se faz, é possível descobrir e investir em alternativas que fazem do trabalho parte de um projeto de vida, que deu trabalho, mas... foi, afinal, uma etapa bem cumprida.

O trabalho, na maioria das vezes, tem tudo a ver com a forma como se começa o dia. Interessante é que, nem todos começam o dia calmamente. Nem sempre há tempo suficiente para um café da manhã mais demorado, para atividades físicas, para meditar ou para um banho mesmo que rapidinho. Mas, é possível se preparar para o trabalho, de forma organizada, planejada e até criativa.

Que tal começar o dia cantando, para exercitar o bom humor e chegar no trabalho de bem com a vida? Sabe por quê?

Porque, independentemente do que acontece antes de se chegar no local de trabalho, é bom começar a pensar nas pessoas com as quais vamos nos relacionar. É bom estar comprometido com o bom dia delas, através de nós.

É aqui que está o x da questão, quando digo que trabalho dá trabalho. Acontece que da nossa relação com o trabalho depende o trabalho nosso de cada dia. Depende do que propomos ser para chegar no fim do dia e ter realizado o melhor, mesmo que não seja tudo. É aqui que o nosso trabalho pode ou não ser bom, ser eficaz ou não, prazeroso ou não, bem resolvido ou não. Uma coisa é certa, sair de casa com o propósito de aprender e ensinar, de ensinar e aprender, sem dúvida, todo e qualquer trabalho será bom, será eficaz, será prazeroso, será bem resolvido.

Durante anos, também, vi muita gente que chegava no trabalho decidida a exercer o seu autoritarismo perverso, para tentar fazer com que o dia de todos fosse o pior possível. Gente que já saía de casa de mal com o mundo. Gente que confundia ansiedade com objetividade. Explico melhor, gente que, na ânsia de encerrar rapidamente um serviço malfeito e para se destacar como alguém muito objetivo, que faz e acontece, mas que na verdade, só revelava a ansiedade de ficar livre do trabalho. De novo, nada a ver com o trabalho e, muito menos, com as relações pela vida afora.

Gente objetiva faz acontecer suas tarefas no trabalho de forma contínua, com calma e criteriosamente, para fazer bem-feito, no tempo que for preciso e terminar com qualidade, porque sabe que no dia seguinte tem mais.

Então, eu pergunto:

- Saímos de casa preparados para trabalhar e compartilhar o nosso trabalho na certeza de não seremos constrangidos pelo que fizemos ou deixamos de fazer? De que nada do que acontece precisa ser escondido por nós mesmos ou acobertado por alguém que, certamente, vai nos lembrar, mais cedo ou mais tarde, do mal resolvido que deixamos para trás?

Infelizmente, sempre há o mau caráter de olho em tudo para tirar proveito de situações que, muitas vezes, nem foram tão graves e que poderiam ter sido bem resolvidas. Apenas elas deixaram de ser compartilhadas com os que veem, no trabalho, a oportunidade de resolver problemas através de boas relações.

Ouvi, ao longo de muitos anos, pessoas contarem como se preparavam para ir trabalhar. Gente que lia poesia, gente que orava, que meditava, que tomava banho frio, que ouvia música enquanto aprontava, que colocava o despertador tocar mais cedo e voltava a dormir mais 10, 15 minutos. Entre hábitos e manias ora sofisticadas, ora simples, havia, também, as boas e criativas ideias. Ouvi de tudo, conforme o gosto e a necessidade de cada um.

Certa vez, ouvi de um atleta profissional que a concentração, antes de entrar numa competição, é fundamental, porque parte do jogo se ganha antes dele começar. Fica evidente, então, que a intencionalidade, a motivação dá um significado especial e direcionado às atividades a serem executadas no trabalho. É por isso que não basta ter uma profissão, um curso técnico, um diploma ou muitos títulos como referência de formação com total qualidade. Estes requisitos não revelam quem somos no trabalho. O que revela quem somos são os princípios, valores e conceitos que demonstramos, durante a nossa atuação no trabalho. Razão pela qual, sair de casa sabendo o que ser, fazer e dizer no trabalho, para as pessoas que lá estão, precisa de um coração alinhado com a missão de cumprir propósitos nobres que vão além de títulos.

As várias situações vivenciadas no trabalho me faz sentir à vontade para finalizar este texto sugerindo, em especial, aos milhares de brasileiros que correm atrás de um emprego. Aproveite o momento e passem a se ocupar e envolver com o trabalho. Ele sempre existe em todo lugar. Ele ensina a chegar no emprego que você busca, como um bom trabalhador.

É o trabalho com princípio pedagógico. É a educação do trabalho e o trabalho da educação. Por isso, trabalho dá trabalho, mas, certamente, pode te fazer gente que sabe amar o que faz e para quem faz.