Com o fito de apresentar propostas didáticas para explorar a contação de histórias no processo de alfabetização, esta pesquisa aborda a concepção de alfabetização e de leitura subjacente à BNCC, identificando especialmente possibilidades de trabalho docente nos anos iniciais do Ensino fundamental para o desenvolvimento da alfabetização do educando. Assim, este estudo atende à perspectiva da referenciada linha de pesquisa de “Processos educativos, linguagens e tecnologias” ao propor sequência didática com contação de histórias que poderá servir como base à atuação do professor alfabetizador. Nessa perspectiva, considera-se sequência didática, segundo Zabala (1998):

Uma maneira de encadear e articular as diferentes atividades ao longo de uma unidade didática. Assim, pois, poderemos analisar as diferentes formas de intervenção segundo as atividades que se realizam e, principalmente, pelo sentido que adquirem quanto a uma sequência orientada para a realização de determinados objetivos educativos. As sequências podem indicar a função que tem cada uma das atividades na construção do conhecimento ou da aprendizagem de diferentes conteúdos e, portanto, avaliar a pertinência ou não de cada uma delas, a falta de outras ou a ênfase que devemos lhe atribuir. (ZABALA, 1998, p. 20).

Inserido em um contexto atual, que demanda o desenvolvimento no alunado de várias competências, é incumbência do professor das séries iniciais, sobretudo até o terceiro ano, promover a alfabetização de cada aprendiz. Tal demanda exige do professor habilidade para preparar aulas de leitura e de contação de histórias que possam também ser adequadas a esse objetivo formativo, mas que também despertem no aluno o prazer em ler e sua ampliação de horizonte de expectativas e domínio sobre textos em relação à sua análise e interpretação, já que está sendo criado ou consolidado o hábito de ler.

Dessa forma, este artigo propõe-se a apresentar um roteiro de práticas leitoras amparadas em contação de histórias com vistas à alfabetização. Diante disso, entendemos que o roteiro de práticas leitoras construído neste trabalho deve

estar amparado em três ideias basilares: a) a de que o desenvolvimento da competência leitora deve ser prioridade na medida em que se espera do aluno tal competência para a vida dentro e fora da escola; b) a de que contação de histórias não deve substituir aquilo que singulariza a formação de leitores, que é o contato e a apreciação crítica dos textos, mas é uma formação e aproximar crianças dos textos e da escrita; c) a de que as atividades de contação de histórias promovidas pode promover a “ampliação das possibilidades de participação em práticas de diferentes esferas/ campos de atividades humanas”, segundo a BNCC (MEC, 2019, p. 65). Logo, a proposição do roteiro de proposições didáticas deve propiciar ao estudante experiências novas de construção de significado de textos para sua inserção no mundo da leitura e da escrita no ambiente escolar.

Em função disso, pensar em um roteiro de contação de histórias e alfabetização para essa demanda é um desafio na medida em que ainda não identificamos perspectiva de atividades nessa linha proposta neste trabalho. Assim, a proposição elaborada precisa envolver a presença de atividades de contação de histórias e seguir um roteiro prévio, o qual, neste estudo, foi criado com base na experiência desta pesquisadora como alfabetizadora.

Para organizar as proposições didáticas, tendo-se em vista que cada campo de atuação precisa envolver experiências diferentes de contato com o texto e de compreensão do texto, elegeu-se a apresentação das práticas de contação de histórias por temas que se relacionam ao ser criança, e a abordagem desses temas demanda a seleção de textos para a contação.

Conforme o Quadro , para cada sequência didática, foi eleito um tema, formando-se, ao total, três temas como ilustra o quadro a seguir, que conta também com a indicação de textos basilares para as atividades de contação de histórias. São clássicos da literatura infantil que abordam temas atuais, de criticidade e vivência em todos os meios sociais. Tanto a linguagem como as ilustrações contribuem para que a criança compreenda do que se trata cada narrativa e saiba falar sobre elas.

Assim, a escolha dos temas está na possibilidade de, através das leituras abordar temas, por vezes, polêmicos na vivência da criança no âmbito escolar e/ou familiar, como inclusão e bullying. Valendo-nos da literatura infantil com obras que nos auxiliam nessas abordagens, considerando a contação da história de forma que toda criança compreenda o assunto e dele se aproprie, ponderamos que trabalhar as supracitadas obras na sequência didática nos possibilitará promover o desenvolvimento emocional, social e cognitivo da criança de forma que ela adquira uma postura crítico-reflexiva e assim, esse processo contribua para sua plena formação.

A literatura infantil traz em obras como as três elencadas, um rico conteúdo que permitirá à criança se ver como um ‘sujeito importante e atuante’ na família, na escola e na sociedade, sentir-se como um sujeito que tem seus sentimentos e pensamentos respeitados e prontos a serem discutidos, compreendidos por si mesmo e por aqueles com quem convive. A criança perceberá que características como a cor da pele, formato do corpo e do cabelo não fazem dela uma pessoa menos interessante, por exemplo. Para desenvolver cada sequência didática, a proposição envolveu de forma detalhada na específica sobre o roteiro: tema, objetivos, habilidades e competências, público-alvo, recursos, atividades, avaliação e referências.

Cabe apresentar os autores das obras indicadas das sequências didáticas. A carioca Ana Maria Machado, uma das mais importantes escritoras da literatura infantil, como a obra “Menina bonita dos laços de fita”, formou-se em Letras Neolatinas, em 1964, na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, e fez estudos de pós-graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde posteriormente ministrou Literatura Brasileira e Teoria Literária. Ensinou Língua Portuguesa em colégios brasileiros e também no exterior, incluindo-se a Universidade de Berkeley, Califórnia, onde já havia sido escritora residente. Fez o Doutorado em Linguística e Semiologia, em Paris. Ganhadora de muitos prêmios, tendo publicado mais de cem livros no Brasil, muitos deles traduzidos em cerca de vinte países, no ano 2000 recebeu o Prêmio Hans Christian Andersen, o mais importante prêmio da literatura infantil do mundo.

Daniel Munduruku pertence à etnia indígena Munduruku. É um escritor e professor brasileiro, nascido no Estado do Pará, graduado em Filosofia, História e Psicologia, com Mestrado e Doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo e Pós-Doutorado em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos. Autor de cinquenta e quatro livros publicados no Brasil e no exterior, a maioria pertencente à literatura infanto-juvenil. Tem experiência na área de educação, de modo especial, na educação indígena. Busca em suas obras divulgar a diversidade étnico e cultural indígena e sua contribuição para a constituição de uma identidade brasileira.

O mineiro de Boa Esperança, Rubem Alves, foi teólogo, educador, tradutor, psicanalista e escritor brasileiro. Autor de livros de filosofia, teologia, psicologia e de histórias infantis – estas, iniciadas no ano de 1983, por ele acreditar que os contos e estórias poderiam ajudar a criança a entenderem e enfrentarem temas do cotidiano tornando-as mais sensíveis, mais habilitadas para lidarem com eles.


REFERÊNCIAS 

BRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais. 3. ed. Brasília - DF: MEC, 2001. 

BRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília - DF: MEC, 1997.

MEC. BNCC – Base Nacional Comum Curricular. Ministério de Educação – MEC / Conselho Nacional de Secretários de Educação – CONSED / União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME, 2019. Disponível em:

. Acesso em: 21 mar. 2020. 

 ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre, ArtMed, 1998.