Estava na rodoviária esperando o ônibus. Na rodoviária ou em qualquer lugar onde tem muita gente e a espera é longa, sempre sai um colóquio. Comecei a prestar atenção na conversa de uma senhora que estava ao meu lado. Não fazia segredo do teor e, com o seu olhar simpático, também logo me chamou para dialogar com ela. Contava sobre os seus longos passeios, com um grupo, pelas paisagens bucólicas de nossa cidade. Realmente, os cenários verdes, banhados de cachoeiras límpidas e coloridos com variados matizes de plantas e flores, são muitos. Logo, um senhor, já de idade avançada, que estava sentado perto também veio animar o papo, colocando-se de pé. Morava num desses lugarejos em que o barulho dos carros e numerosas casas não existem. E convidou-a para que, se por um acaso fosse passear naquelas bandas, chegasse até à sua casa, para tomar um café. Apontou para uma senhora que estava sentada no banco, identificando-a como a sua terceira esposa. Ela até tentou falar, mas o discurso do marido era intenso e ininterrupto e ela preferiu ficar quieta. Torceu a boca para o lado e olhou, de rabo do olho, a senhora que tinha toda atenção do marido.  Ele descreveu assim o seu relacionamento:

____ Eu fiquei viúvo e ela é lá de Itaocara, também viúva. Aí, nós resolvemos ficar juntos. Ela tem muito cuidado comigo. Tem cuidado com minhas roupas, cozinha muito bem. Precisa ver como ela tem cuidado quando os meus filhos. Cozinha pra eles, pros netos. A gente se dá muito bem. É muito cuidadosa.

E continuou a conversa, falando como era bonito o lugar, reafirmando o convite para que a senhora não esquecesse de ir tomar aquele café. Ela ainda redarguiu:

____ Não precisa café, não, só uma água está bom!

____ Não! respondeu com veemência. Um café sim, a gente não leva nada desse mundo! E abriu o seu embornal e mostrou um fardo de mortadela, dizendo:

____ Olha só o que estou levando! E soltou um sorriso vasto.

Nesse momento, a esposa levantou-se num movimento brusco e o chamou para irem esperar o ônibus mais à frente e não se despediu de ninguém. Todos ficaram em silêncio e foram seguindo, com o olhar, aquele senhor falante e a sua esposa cuidadosa.




Estava na rodoviária esperando o ônibus. Na rodoviária ou em qualquer lugar onde tem muita gente e a espera é longa, sempre sai um colóquio. Comecei a prestar atenção na conversa de uma senhora que estava ao meu lado. Não fazia segredo do teor e, com o seu olhar simpático, também logo me chamou para dialogar com ela. Contava sobre os seus longos passeios, com um grupo, pelas paisagens bucólicas de nossa cidade. Realmente, os cenários verdes, banhados de cachoeiras límpidas e coloridos com variados matizes de plantas e flores, são muitos. Logo, um senhor, já de idade avançada, que estava sentado perto também veio animar o papo, colocando-se de pé. Morava num desses lugarejos em que o barulho dos carros e numerosas casas não existem. E convidou-a para que, se por um acaso fosse passear naquelas bandas, chegasse até à sua casa, para tomar um café. Apontou para uma senhora que estava sentada no banco, identificando-a como a sua terceira esposa. Ela até tentou falar, mas o discurso do marido era intenso e ininterrupto e ela preferiu ficar quieta. Torceu a boca para o lado e olhou, de rabo do olho, a senhora que tinha toda atenção do marido.  Ele descreveu assim o seu relacionamento:


____ Eu fiquei viúvo e ela é lá de Itaocara, também viúva. Aí, nós resolvemos ficar juntos. Ela tem muito cuidado comigo. Tem cuidado com minhas roupas, cozinha muito bem. Precisa ver como ela tem cuidado quando os meus filhos. Cozinha pra eles, pros netos. A gente se dá muito bem. É muito cuidadosa.

E continuou a conversa, falando como era bonito o lugar, reafirmando o convite para que a senhora não esquecesse de ir tomar aquele café. Ela ainda redarguiu:


____ Não precisa café, não, só uma água está bom!


____ Não! respondeu com veemência. Um café sim, a gente não leva nada desse mundo! E abriu o seu embornal e mostrou um fardo de mortadela, dizendo:


____ Olha só o que estou levando! E soltou um sorriso vasto.


Nesse momento, a esposa levantou-se num movimento brusco e o chamou para irem esperar o ônibus mais à frente e não se despediu de ninguém. Todos ficaram em silêncio e foram seguindo, com o olhar, aquele senhor falante e a sua esposa cuidadosa.