"Tira bom de tiro"
Publicado em 11 de novembro de 2011 por Edson Terto da Silva
Tem dia que Delegacia de Polícia em cidade grande está mais movimentada que estádio em decisão de campeonato. A imprensa chega para trabalhar e não sabe por onde começar,visto o número de ocorrências. Dá até para escolher qual fato será mais trabalhado, seja para o próprio dia, no caso das rádios e TVs ou para o outro dia, no caso de jornais. Histórias de tiroteios entre policiais e criminosos sempre chamam a atenção, às vezes pelo desenrolar violento e outras por fatos inusitados e que depois viram motivos de brincadeira entre os policiais, como é o "causo" de hoje.
O Plantão Policial está agitado naquela manhã... Tinha ocorrido uma troca de tiros entre investigadores e suspeitos de serem ladrões de teipes de carros. Um dos acusados foi preso e um experiente policial baleado, mas sem gravidade, o tiro acertou na perna. O estranho era que os colegas de corporação não estavam revoltados. Ao contrário, alguns formavam grupinhos e riam da situação, mas mudavam de assunto quando algum repórter se aproximava.
Podem acreditar, mas até há uns 15 anos, mesmo nas grandes cidades, como a Capital ou Campinas, era possível fazer uma reportagem policial com mais romantismo, bem diferente das cenas de violência pura e explícita muito exploradas nos dias de hoje. Estranhei o fato de um policial admirado pelos demais ter sido baleado e mesmo assim seus amigos não demonstrarem revolta e quis saber mais da história.
Pergunto daqui, pergunto dali, escuto uma versão aqui e outra ali e então fico sabendo que o policial tinha sido atingido na parte de trás da perna durante a perseguição aos suspeitos. Imagino que ele foi pego de surpresa, ou seja, teria outro suspeito na cobertura. Mas isso não seria motivo para revoltar os colegas do "polícia" baleado?
É então que fico sabendo que o parceiro da vítima, um policial mais jovem, que também estava na perseguição, foi quem atirou para tentar acertar os suspeitos e acertou acidentalmente seu colega. Entendi então que, por certo, a turma do "deixa disso" procurava uma forma de não prejudicar o policial menos experiente, mesmo porque a situação dos fatos apontava para um lamentável acidente.
Esse espírito de corpo existe mesmo e não é apenas na Polícia, mas na maioria das categorias. Na verdade, os demais policiais estavam preocupados com a forma que o caso repercutiria na imprensa, já que o único baleado no tiroteio era policial e foi ferido pelo próprio colega de profissão.
Passada a tensão da ocorrência e com o policial ferido restabelecido, alguns amigos deles e outros, diria eu, "mui amigos", dariam uma versão piada para o caso. Segundo eles, o tira baleado e seu parceiro realmente estavam correndo atrás dos suspeitos, mas estavam ficando para trás quando um terceiro policial teria falado ao mais jovem: "atira no ladrão, atira no ladrão..." e pimba, ele atirou no parceiro...
Mais tarde, o jovem policial se justificaria dizendo: "como eu não conhecia os outros caras, atirei em que eu já conhecia e que sei ser ladrão... nos jogos de truco, ué?!...". Maldade pura... mas é assim, os tiras mais antigos podem até perder alguns velhos amigos, mas dificilmente perdem a chance de fazerem uma nova piada...