O termo parece um tanto exagerado e mesmo assustador, mas serve para exemplificar o que ocorre quando não temos conhecimento nem controle sobre nossas emoções. Aqui podemos usar o termo também conhecido como paralisia emocional.

Mas para esclarecer, a tetraplegia física é a paralisia dos membros superiores e inferiores, ou seja, a pessoa não se move do pescoço para baixo o que, consequentemente, a torna dependente de outras pessoas quase que integralmente se ela não tiver recursos tecnológicos com os quais possa arcar financeiramente. Quem já viu os filmes "Intocáveis" e "como eu era antes de você" sabe do que estou falando.

Bem, mas o objetivo aqui não é a tetraplegia física e sim o que ela tem em comum com a emocional. Como descrito no parágrafo acima, a tetraplegia paralisa, impossibilitando o sujeito de executar as tarefas mais simples do dia-a-dia além de torná-lo dependente de tudo. Da mesma forma quando não conseguimos controlar nossas emoções, ficamos paralisados diante da vida.

Como assim?

Quando estamos diante de um problema que não conseguimos solucionar, perdemos o foco, nos prendemos a pensamentos obsessivos ora a respeito do passado ou com medo do futuro... "Eu não deveria ter feito aquilo, eu deveria ter dito isso, eu preciso fazer algo, eu preciso falar com fulano..." E nessa não dormimos e não fazemos nada, pois não é em meio à madrugada que resolvemos alguma coisa. Os membros ficam tensos e quando você levanta pela manhã sente vontade de voltar pra cama. A paralisia emocional é algo que também nos impede de realizar muitos dos nossos objetivos. Ela acumula toda a carga de emoções não metabolizadas: medo, raiva, tristeza, insatisfação, ansiedade, angústia, frustração... E tudo isso nos faz perder tempo e oportunidades.

Há uma frase que diz: "pensar demais e nada fazer traz consequências, fazer sem pensar também traz". Bem, ninguém nasce com problemas psicológicos. Na realidade, são muitas informações que vamos armazenando em nós ao longo da vida, inclusive a de que cuidar bem de nós mesmos seria um pecado, um grande egocentrismo. Sabe aquelas frases que cansamos de ouvir: "seja mais generoso, divida seus brinquedos com seus amiguinhos", "pense mais no seu próximo do que em você mesmo", "você não é melhor que ninguém", "sempre diga por favor e peça licença pra falar", " não seja estabanado", "não faça nada errado, Deus castiga", e por aí vai. Não que não precisemos ser educados, porém essas inúmeras informações acabam por levar à insegurança e à dependência de opinião e elogio dos outros. Sem contar a maneira como essas informações são transmitidas. Muitas vezes a criança é constrangida em frente ao adulto, aprendendo de forma dolorosa a ser educada. Quando recebemos um elogio, na maioria das vezes vem aquela frase que dizemos modestamente para não parecermos convencidos: "Eu não mereço. Esse elogio foi só pra me agradar. Não é pra tanto" ou se dizem que somos bonitos: "Acho que você está cego". Essas frases que dizemos aleatoriamente porque queremos mostrar que somos simples e modestos podem esconder sentimentos de rejeição e de baixa autoestima. Por outro lado, essas informações podem ser processadas de maneira inversa levando o sujeito a uma espécie de revolta contra a vida ou a si mesmo. Muitos transtornos podem surgir daí, como narcisismo na idade adulta, exageros em relação à autoimagem e assim por diante.

Vivemos num mundo de padrões preestabelecidos onde tentamos nos encaixar para tudo parecer bom, bonito e perfeito, e ao mesmo tempo, que não seja "tanto assim" para não parecer demais. Perdemos nossas referências, nosso amor próprio, não confiamos em nós mesmos precisando sempre da opinião alheia, nos tornamos inseguros quanto a nosso agir, andar, vestir, falar e ser no mundo. E quando as situações difíceis surgem, como lidar com as emoções que aprendemos a reprimir por serem "feias" e não permitidas? É quando crescemos que a tetraplegia das emoções aparece e com ela o desequilíbrio emocional. Fomos educados a nos comportarmos para agradar a sociedade e não para termos autonomia emocional, cuidarmos de nós mesmos, de nossas emoções nem mesmo a prestar atenção ao que sentimos quando nos comportamos de tal ou tal maneira. Parece que isso nunca foi tão importante. No entanto são exatamente as emoções que nos conduzem e a forma como lidamos através delas com a situações da vida é o que determina nosso rumo e também quem somos.

Daniel Goleman, reconhecido psicólogo, cientista e autor da obra "Inteligência emocional" fala sobre a dificuldade que as pessoas encontram em lidar com as próprias emoções que, para ele, significam impulsos para agir de acordo com as circunstâncias. A raiz da palavra emoção é "movere" (mover em latim) e o prefixo "e" quer dizer "afastar", o que leva a entender que a tendência à ação está implícita em toda emoção. Desenvolver a autoconsciência é uma das primeiras aptidões que se encaixa na definição de inteligência emocional para este autor. Ou seja, ter consciência de si mesmo e de suas emoções, de como elas se manifestam é o primeiro passo para o autocontrole. A partir daí tudo fica mais nítido e a mente mais organizada.

Uma das maneiras mais efetivas de entrarmos em contato com nossas emoções para aprender a lidar com elas é prestando atenção as nossas reações, observando e, dependendo da situação, criando uma forma menos impulsiva de responder a mesma; Outra forma que aliada a anterior auxilia bastante é a terapia. O terapeuta orienta, conduz e ajuda a refletir, a encontrar outras possibilidades que auxiliem na solução do problema.

Quando desenvolvemos a inteligência emocional, nos tornamos realmente protagonistas de nossa própria história, nos responsabilizamos por nosso comportamento, atitudes, pensamentos e emoções, bem como aprimoramos nossa capacidade em manter o foco em nossos objetivos evitando ou eliminando problemas que nos impediriam de alcançá-los.