TESOURO CAIÇARA

Por LEANDRO SILVEIRA TAVARES | 29/09/2010 | Sociedade

O caboclo era morador de uma casa simples e singela, a simplicidade não pode ser confundida com pobreza ou desleixo.
Sempre tive medo de que esse conceito de miséria fosse embutido como algo da cultura caiçara, o que não é verdade uma vês que o caiçara tinha a casa que mais lhe agradava e atendia as suas necessidades, assim como moveis e apetrechos de modo geral.
Deve-se lembrar que a cultura caiçara, mais especificamente a Matinhense é uma mescla da cultura Portuguesa com a cultura dos índios que aqui habitaram em outras épocas, sendo evidente nos apetrechos de caça e pesca típicos da cultura indígena, como o covo e jequi, armadilhas primitivas para a caça de peixes de água doce.
A moraria do caiçara, na maioria de pau a pique (as casas de barro) ou de tronco de madeiras nativas ou raramente de tabuas, diz-se ainda que essas tabuas eram recolhidas na beira mar, talvez descartada por algum navio ou por algum morador de uma praia distante.
Na cozinha, o fogão era a lenha, geralmente esse tipo de fogão ficava no canto da casa, sobre ele o fumeiro onde era preparada a carne defumada, peixe, caças em geral, pequenos bancos ao redor do cômodo, cada morador da casa tinha seu banquinho, e a refeição, quando não havia mesa era feito com o prato nos joelhos.
Colher de pau, gamela, panela de ferro ou barro, lampião e lamparina, a cozinha era funcional, tinha tudo para servir dignamente nosso caboclo.
A casinha típica sempre tinha um ou mais pé de bananas nos fundos, próximo ao galinheiro, frutas como goiaba e mamão também poderiam ser encontrados no quintal, assim como pés de aipim, muito comum na alimentação do caiçara, a gaiola na parede da frente, um bonito lindo cantando muito fazendo festa entre um pulo e outro entre os puleiros, o cachorro tinha nomes típicos como Dick, marujo, entre outros que me foram contados por meu pai e tios, memória de suas infâncias, o cão é uma historia a parte na vida cotidiana do Matinhense, sendo ele o companheiro das grandes caçadas, amigo de todas as horas, contam os mais antigos que na noite que morria o dono da casa o cachorro anunciava com seus uivos que a morte rondava.
De construção simples, tomada de grande simplicidade, a casa, moradia do antigo Matinhense era rica em alegria e amor, nunca faltava um carinho de mãe ou um conselho de pai, um franguinho na panela ou um bagre no fumeiro, a simplicidade que nem de longe era sinal de miséria ou necessidade, o caiçara era rico em fartura, a alimentação da mais variada, aperto não passava.
A riqueza estava na simplicidade, no sorriso, no olhar puro, nos papos ao pé do fogo, a riqueza era maior, sem comparação, o caiçara era rico de alma, de coração.