Por Ludmilla Paniago Nogueira, Maria Zilda da Silva Barbosa e Simone Batista Campos
Como o objetivo central desta pesquisa é analisar o desenvolvimento da aprendizagem da criança em relação ao seu pensamento e a sua linguagem nada mais útil foi desenvolver um panorama geral sobre o desenvolvimento humano, pois afinal, a linguagem se desenvolve conforme a criança vai se evoluindo.
No século XX várias tendências foram sendo notadas em relação ao desenvolvimento humano, pois havia uma grande diferença entre os estudos iniciais e os modernos. Sendo assim, houve uma necessidade de se ultrapassar a descrição de normas do comportamento e interessar-se pelo como/por que ocorrem mudanças entre cada faixa etária.
Várias foram às tendências sobre o desenvolvimento humano, sendo que cada uma objetiva um fator especifico, como:

- Os fatores hereditários;

- Fatores ambientais;

- O ser humano é considerado essencialmente racional;

- Ou é dominado pelos apetites e emoções postulados pelas teorias psicanalíticas.
Nesse sentido, o desenvolvimento humano tem sido caracterizado por várias questões controversas, no entanto, existem as principais teorias que ora atribui importância a fatores ambientais e ora aos fatores sócio-históricos. Sendo elas:

- Fatores ambientais: Como as behavioristas de Watson, Skinner, Bandura, Kendler e as Antropológicas de Margareth Mead e Ruth Benedict;

- Fatores orgânicos: Como o naturalismo de Rousseau;

- Fatores cognitivos e interacionistas: Como de Piaget, o humanismo de Carl Rogers, Maslow e Charlote Buhler, bem como a etológica de John Bowlby;

- Fatores emocionais: Como as perspectivas psicanalíticas de S. Freud, Anna Freud, Klein e Erik Erikson;

- Teoria Sócio-histórica: De L. Vygotsky;

- A Psicogenética: De Henry Wallon.
Entretanto, nessa pesquisa irei me deter aos estudos de Piaget.
1.Teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget:
A teoria de Jean Piaget é considerada uma das mais amplas, pois seus estudos se basearam na aceitação da existência de um forte paralelo entre o funcionamento biológico e psicológico. Nesse sentido, a atividade intelectual constitui um exemplo particular de adaptação biológica ao ambiente.
Portanto, a teoria piagetiana é constituída pela afirmação de que a aquisição do conhecimento só acontece através interação entre o organismo e o meio. Com isso, as estruturas cognitivas começam a se desenvolver desde o momento em que a criança inicia suas experiências com o ambiente.
Por essa razão a teoria piagetiana preocupa-se com a pesquisa do desenvolvimento das estruturas que possibilitam a aquisição e expansão da experiência.
Para Piaget o desenvolvimento intelectual se faz através de estágios ou períodos rigidamente seqüenciados. Que são eles:

- Sensório-motor: De 0 a 2 anos;

- Pré-operacional: De 2 a 6 anos;

- Operações concretas: De 7 a 11 anos;

- Operações formais: De 12 anos em diante.
Como está pesquisa busca estudar crianças de 0 a 3 anos, vou me deter ao estágio Sensório-motor e Pré-operacional.
Sensório-motor:
Segundo Piaget (1999), o primeiro estágio sensório-motor se introduz com um conceito chave que é: "o pensamento se inicia pela ação, que para ele é a forma inicial de pensar e resolver problemas" (SALVADOR, et. al., p. 88).
Durante este estágio, desde a fase do nascimento, as estruturas físicas vão sendo modificadas como resultado das interações ambientais. Dessa maneira, a criança vai se adaptando, assimilando e organizando o mundo através de novas experiências que no futuro acomodará o seu comportamento conforme o ambiente.
Piaget, considerando a evolução dos esquemas, subdividiu o estágio sensório-motor nos seis seguintes sub-estágios:

* Estágio dos reflexos (0-4 meses):
1° Sub-estágio (0 a 1 mês): Nessa fase o bebê faz uso dos reflexos, isto é, ele assimila todos os estímulos recebidos através dos reflexos.
Oliveira (2002, p. 42) afirma sobre isso que
Os atos reflexos, inatos e casuais, observáveis durante o primeiro período sensório-motor, experimentam modificações como resultado do seu uso repetitivo e da interação com o meio [...]. Desde o início, estão presentes atos de assimilação e acomodação.


Com isso, podemos observar que todo o conceito de objeto, nesse período, são desenvolvidos e não inatos, ou seja, o bebê é incapaz de diferenciar-se entre si mesmo e o meio que o cerca, pois ele ainda não adquiriu o conceito de objeto. Nesse caso, qualquer elemento que lhe é mostrado é meramente só para chupar, agarrar ou para olhar.
Nesse sentido, a criança aqui não apresenta nenhuma noção de causalidade, pois são egocêntricas, e tão pouco possuem sentimento, pois o afeto é associado aos reflexos e aos instintos elementares como a nutrição.
2° Sub-estágio (1 a 4 meses): Nesse período as primeiras adaptações são adquiridas, ou seja, a criança faz diferenciações sensório-motoras rudimentares e adquire coordenação sensório-motora limita.
Durante este período, vários comportamentos novos aparecem. Chupar o dedo polegar freqüentemente torna-se habitual e reflete o desenvolvimento de alguma coordenação mão boca; o movimento dos objetos começa a ser seguido pelos olhos (coordenação da visão); e a cabeça movimenta-se em direção aos sons (coordenação da visão-audição). (OLIVEIRA, 2002, p. 43)


Sendo assim, esses reflexos levam a generalizações das atividades, pois o bebê não suga só quando mama, mas suga também no vazio e suga o próprio corpo (dedos, quando os encontra), e qualquer objeto que lhes sejam apresentados.
Tais exercícios são o prenúncio da assimilação metal, isto é, dos esquemas assimilativos. Com isso, a criança manifesta uma consciência de objeto, ou seja, ela já consegue olhar para objetos que emitem sons indicando uma coordenação entre visão e audição e acompanham com o olhar os objetos mostrados indicando uma coordenação da visão.
Com isso, nesse estágio, o bebê na questão afetiva permanece totalmente votado ao próprio corpo, pois o eu e o ambiente são um só em sua visão, sendo que o seu corpo é o foco de toda a atividade e afeto.

* Estágio da organização/percepção e dos hábitos (4 meses a 12 meses):
3° Sub-estágio (4 a 8 meses): Aqui aparece a repetição de gestos que ao acaso chegaram a produzir interesse nas crianças, ou seja, as reações circulares secundárias e início das adaptações intencionais ou assimilação reprodutiva.
Desse modo, a criança vai progressivamente orientando-se para outros objetos e eventos além do seu próprio corpo. Com isso o comportamento do bebê deixa de ser mera repetição para se tornar um ato intencional.
A criança aqui ainda permanece egocêntrica, no entanto, ela já consegue antecipar as posições pelas quais o objeto irá passar quando está em movimento, desenvolvendo assim, uma noção de permanência do objeto.
4° Sub-estágio (8 a 12 meses): Nessa fase acontece a aquisição do comportamento instrumental e a busca do objeto desaparecido.
Aqui o que a de destaque é a possibilidade da criança sistematizar seus movimentos e percepções de modo a produzir eventos interessantes que lhes são assimiláveis a um esquema anterior. Com isso, o objeto adquire forma e tamanho.
Nesse caso, a criança toma consciência de que além dela outros objetos podem se constituir nas causas das ações.
A afetividade aqui toma três aspectos segundo Piaget (1999):

- Primeiro: os sentimentos começam a ter um papel na determinação dos meios para alcançar determinados fins;

- Segundo: As crianças começam a experimentar sucessos e fracassos;

- Terceiro: Começa a ter um investimento da afetividade para outra pessoa (transferir afeto para).

* O estágio da inteligência prática ou senso-motora (12 meses a 24 meses):
5° Sub-estágio (12 a 18 meses): A criança faz experiências com objetos do meio externo e descobre novas formas para resolver certas situações, isto é, reações circulares terciárias e descoberta de novos meios.
Com isso a criança passa a formar novos esquemas para resolver problemas novos. Piaget (1999, p. 45) fala a respeito disso que "o comportamento passa a ser inteligente quando a criança adquire a capacidade de resolver novos problemas. As habilidades de solução de problemas são nitidamente adaptativas".
O conceito de objeto ainda não é totalmente desenvolvido, ou seja, a criança é capaz de seguir objetos visíveis, mas é incapaz de seguir deslocamentos invisíveis. Entretanto, os elementos passam pela primeira vez a serem percebidos como causa de ações.
6° Sub-estágio (18 a 24 meses): É o estágio que compreende o que chamamos de inteligência prática, ou aquela que se refere à manipulação de objetos e que só utiliza, em vez de palavras e conceitos, percepções e movimentos.
Nesse sentido, dá para se observar que a criança começa a compreender os objetos e suas propriedades através do seu uso, isto é, no esfregar, balançar, olhar, etc.
A capacidade de representar internamente reflete-se em seu conceito de objeto que segundo Oliveira (2002, p. 59) "pode não apenas encontrar objetos quando eles são visivelmente escondidos, mas a representação de possibilidades lhe permite buscar e descobrir os objetos que ela não vê serem escondidos. Isto resulta em grande libertação das percepções imediatas".
Com isso, o sentimento torna-se um fator de escolha entre o que fazer e o que não fazer. Nesse sentido, a criança já consegue representar internamente ações externas.
Salvador (1999, p.88) sintetiza o estágio sensório-motor dizendo que


O estágio sensório motor, é caracterizado basicamente pelo enriquecimento progressivo, pela diversificação e pela coordenação de esquemas de ação física. [...] Durante esse estágio, a pessoa alcança um primeiro nível de elaboração de noções básicas, como o espaço, o tempo ou a causalidade; também pode efetuar um amplo conjunto de atividades inteligentes no âmbito da ação prática. O final desse estágio é marcado por uma aquisição primordial: a função simbólica, que implica de atuar sobre os objetos não só fisicamente, mas mentalmente, por meio de esquemas de ação representativos ou interiorizados.


Pré-operacional:
Este estágio se caracteriza pela emergência da habilidade de representar mentalmente experiências sem a interação física/direta, ou seja, neste momento começa a surgir o uso da linguagem no segundo e terceiro ano de vida.
A criança pré-operacional apresenta um pensamento assistemático, inconsistente e ilógico, isto é, um pensamento transdutivo partiria não do particular para o geral e nem do geral para o particular, mas de situações particulares para situações particulares.
Com isso, existem características que são presentes nessa fase. Sendo elas:

- Relações entre cauda e efeito;

- Animismo: Que é atribuída vida a todas as coisas;

- Artificialismo: Segundo o qual todas as coisas que acontecem devem ter uma razão psicológica (porque as crianças não são capazes de entender as coisas em termos de razões físicas);

- Centração: Que consiste em centralizar-se nos aspectos mais notáveis e ignorar os outros.
Nesse sentido, o pensamento pré-operacional é considerado extremamente egocêntrico, pois a criança vê o mundo através de seu próprio ponto de vista.
Com isso Salvador (1999, p. 89), conclui essas teorias genéticas afirmando que "esses estágios são comuns a todos os indivíduos da espécie e que possuem a mesma ordem de aquisição para todas as pessoas".