Teoria Da Literatura
Por Wagner Torlezi | 20/05/2008 | LiteraturaA Estética Medieval
A Era Medieval começa em 476 com a queda do Império Romano e estende-se até 1453 com a Tomada de Constantinopla. Nesse período, desenvolveram-se duas teorias básicas: a Patrística, de Santo Agostinho e a Escolástica, de Santo Tomás de Aquino.
Segundo Santo Agostinho, o Belo é o caminho para a sabedoria, para a verdade e para Deus. Existe em função do Feio, que tem o papel de realçá-lo. Já Santo Tomás de Aquino interliga o Bem ao Belo. Este está ligado ao Conhecimento e aquele, ao desejo. O homem capta a Beleza pela visão de forma a lhe agradar a vista e a Beleza não se manifesta de forma isolada, é o esplendor da Verdade.
Nesse período, o pensamento, de doutrina teológica, colocava o homem e a natureza como criação divina, conseqüentemente a obra de arte também era vista como criação de Deus. As produções literárias desse período eram chamadas de obras de “elevação moral”, baseadas na vida de santos e sua visão de mundo da época.
Por isso, é compreensível o declínio da literatura na Idade Média, pois era vista como um “perigo”, limitando-se, apenas, à vida de Cristo ou a histórias moralistas. Para o pensamento medieval, a arte ensina, aperfeiçoa, corrige, eleva e sublima, perdendo, assim, o seu prazer estético.
Esse pensamento permitiu que a mulher fosse elevada, idealizada, desprovida de sensualidade e reproduzia sob o código do “amor cortês”. Elevava-se, também, a figura do cavaleiro medieval, idealizado, fiel, religioso e casto. Curiosamente, coube à Idade Média o papel de preservar os textos antigos, de natureza pagã, tarefa executada nos conventos, através da cópia de escritos gregos e romanos.
Por outro lado, na Itália, destacavam-se dois grandes autores: Dante (1265 – 1321) e Petrarca (1304 – 1374), que extrapolaram os limites do pensamento medieval, sendo os precursores da Renascença. O primeiro, através de sua obra prima A Divina Comédia, abordou a história humana sob os três enfoques da ótica religiosa: inferno, purgatório e paraíso. O segundo criou o soneto lírico, mundialmente imitado por outros poetas, influenciando a produção literária dos séculos seguintes.
Merecem destaque, também, dois outros autores medievais: Boccaccio (1313 – 1375) e Chaucer (1340 – 1400), que contrariaram a ideologia medieval em suas obras. O primeiro, autor de Decameron, declamou o amor à vida e ao prazer, em tom irônico, pois foi durante uma peste. O segundo, autor de Contos de Cantuária, narra histórias picantes durante uma peregrinação a um lugar sagrado.
Podemos, portanto, reduzir toda a produção artística da Era Medieval a uma célebre frase de Horácio: a poesia tem o papel de instruir de forma prazerosa. Assim, notamos, de um lado, a didática religiosa de ordem moral e de outro, a superação dessas limitações através da criação de obras imortais no tempo e no espaço.
Produção literária da Era Medieval
Como exemplos das teorias desenvolvidas durante essa época, temos, abaixo, dois textos: uma cantiga de amor, de autoria de D.Dinis, em que se nota a idealização da mulher e sua elevação divina, com a explicitação de que ela é uma criação de Deus; e um comentário de uma famosa novela de cavalaria, A Demanda do Santo Graal, onde notamos os ideais dos cavaleiros: fidelidade, religiosidade e castidade. É notório o poder que a Igreja detinha sobre todas as ações e pensamentos humanos, os homens eram guiados pela Igreja Católica, como se fosse a única representante da Verdade.
Cantiga de Amor
Quero à moda provençal
fazer agora um cantar de amor
e quererei muito aí louvar minha senhora
a quem honra nem formosura faltam
nem bondade, e mais vos direi sobre ela
Deus a fez tão cheia de qualidades
que ela vale mais que todas as do mundo.
(...)
Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal
mas pôs nela honra e beleza e mérito
e capacidade de falar bem, e de rir melhor
que outra mulher, também, é muito leal
e por isto não sei hoje quem
possa cabalmente falar no seu próprio bem
pois não há outro bem, para além do seu.
(D.Dinis. In Elsa Gonçalves, Op. Cit. P. 284)
A Demanda do Santo Graal
Segundo a lenda, José de Arimatéia teria recolhido no 'Cálice usado na Última Ceia (o Cálice Sagrado), o sangue que jorrou de Cristo quando ele recebeu o golpe de misericórdia, dado pelo soldado romano Longinus, usando uma lança, depois da crucificação. O Cálice permaneceu perdido durante muito tempo, embora haja controvérsias se o que é reconhecido hoje pela Igreja seja o verdadeiro ou apenas uma imitação.
Em outra versão da lenda, teria sido a própria Maria Madalena, segundo a Bíblia a única mulher além de Maria (a mãe de Jesus) presente na crucificação de Jesus, que teria ficado com a guarda do cálice e o teria levado para a França, onde passou o resto de sua vida.
A lenda tornou-se popular na Europa nos séculos XII e XIII por meio dos romances de Chrétien de Troyes, particularmente através do livro "Le Conte du Graal" publicado por volta de 1190, e que conta a busca de Perceval pelo cálice.
Mais tarde, o poeta francês Robert de Boron publicou Roman de L'Estoire du Graal, escrito entre 1200 e 1210, e que tornou-se a versão mais popular da história, e já tem todos os elementos da lenda como a conhecemos hoje.
Na literatura medieval, a procura do Graal representava a tentativa por parte do cavaleiro de alcançar a perfeição. Em torno dele criou-se um complexo conjunto de histórias relacionadas com o reinado de Artur na Inglaterra, e da busca que os cavaleiros da Távola Redonda fizeram para obtê-lo e devolver a paz ao reino. Nas histórias misturam-se elementos cristãos e pagãos relacionados com a cultura Celta.
A presença do Graal na Inglaterra é justificada por ter sido José de Arimatéia o fundador da Igreja inglesa, para onde foi ao sair da Palestina.
Segundo algumas histórias, o Santo Graal teria ficado sob a tutela da Ordem do Templo, também conhecida como Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, instituição militar-religiosa criada para defender as conquistas nas Cruzadas e os peregrinos na Terra Santa. Alguns associam aos templários a irmandade que Wolfram cita em "Parzifal".
Segundo uma das versões da lenda, os Templários teriam levado o cálice para a aldeia francesa de Rennes-Le-Château. Em outra versão, o cálice teria sido levado de Constantinopla para Troyes, na França, onde ele desapareceu durante a Revolução francesa.
Em um país de maioria católica como o Brasil, a figura do Graal é tida, comumente, como a da taça que serviu Jesus durante a Última Ceia e na qual José de Arimatéia teria recolhido o sangue do Salvador crucificado proveniente da ferida no flanco provocada pela lança do centurião romano Longino ("Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados perfurou-Lhe o lado com uma lança e logo saiu sangue e água" - João19:33-34).
A Igreja Católica não dá ao cálice mais do que um valor simbólico e acredita que o Graal não passa de literatura medieval, apesar de reconhecer que alguns personagens possam realmente haver existido. É provável que as origens pagãs do cálice tenham causado descontentamento à Igreja. Em "Os mistérios do Rei Artur", Elizabeth Jenkins ressalta que "no mundo do romance, a história era acrescida de vida e de significado emocional, mas a Igreja, apesar do encorajamento que dava às outras histórias de milagres, a esta não deu nenhum apoio, embora esta lenda seja a mais surpreendente do ponto de vista pictórico. Nas representações de José de Arimatéia em vitrais de igrejas, ele aparece segurando não um cálice, mas dois frascos ou galheteiros". Alguns tomam o cálice de ágata que está na igreja de Valência, na Espanha, como aquele que teria servido Cristo mas, aparentemente, a peça data do século XIV.
Independente da veneração popular, esta referência é fundamental para o entendimento do simbolismo do Santo Graal já que, como explica a própria Igreja em relação à ferida causada por Longino, "do peito de Cristo adormecido na cruz, sai a água viva do batismo e o sangue vivo da Eucaristia; deste modo, Ele é o cordeiro Pascal imolado".
Renascimento e Neoclassicismo
O Renascimento, já prenunciado pelos autores citados no capitulo anterior, marca um momento importante na produção literária, tendo em vista as descobertas marítimas, que propiciaram condições tecnológicas, e o trânsito do livro tornou-se mais fácil por entre os letrados. As obras literárias dessa época resgatam a Antiguidade Clássica como forma de imitação, já que se considerava um período rico em idéias e de rara beleza e perfeição.
Os renascentistas, recheados de excessos e exageros, acreditavam que as obras da Antiguidade Clássica poderiam definir e fixar as regras de composição, mais fáceis, portanto, de serem ensinadas. A rigidez na obediência a essas regras variou durante a Era Moderna e nas diferentes culturas. A tragédia grega é o ponto alto, mas autores como Shakespeare e Molière, procuraram inovar. O primeiro, embora com seu teatro influenciado pelas composições clássicas, tentou realizá-lo de uma forma inovadora, com temas próprios, o que lhe proporcionou uma certa desconsideração por algum tempo. Assim, a literatura inglesa começou a dar os primeiros passos na produção do romance, por isso essa literatura ficou mais livre da rigidez dos modelos antigos.
A teoria neoclássica, baseada nos conceitos aristotélicos, defendia a idéia da Literatura como imitação da natureza e a doutrina da justiça poética, segundo a qual os personagens teriam os prêmios ou castigos merecidos. Essa teoria também propiciou o aparecimento de modalidades novas nos gêneros já existentes, como o romance, citado acima.
A excessiva rigidez passou a ser entendida como um princípio de fidelidade do autor ao período em que estava inserido, cujo objetivo era a perfeição. Exemplo disso é Boileau, o mais fiel seguidor dessa teoria. O neoclassicismo francês também se destacou por fazer renascer o teatro grego, através de Racine, Corneille e Molière.
Nessa época, merece destaque também, a criação de Miguel de Cervantes, Dom Quixote, e a criação do herói picaresco, através das obras de Gil Blas de Santillana, Daniel Defoe e Choderlos de Laclos. Este último inovou ao usar cartas no processo narrativo, já que se trata de um romance epistolar, como forma de simular a veracidade dos fatos narrados.
Produção literária do Renascimento e do Neoclassicismo
Como exemplos das teorias desenvolvidas durante essa época, temos, abaixo, um comentário de MacBeth, peça shakespeareana, que mostra a chamada “doutrina da justiça poética”, em que os personagens maus são castigados por seus erros, levando-os a um final trágico.
MacBeth
É,, talvez, a obra mais característica da segunda época e apresenta, de maneira muito viva, a degradação da natureza humana, o homem frente ao mal, o lado escuro da alma humana, as conseqüências últimas da entrega total ao pecado. Fixemo-nos na fina descrição psicológica da tentação ao largo de toda a obra.
A peça começa já numa atmosfera tenebrosa, e umas bruxas planejam semear a tentação no coração de Macbeth, nobre que volta vitorioso e cheio de honra da batalha. As primeiras palavras das bruxas já anunciam essa contradição e dissolução extrema a que levará o pecado: “Fair is foul, and foul is fair”, “bom é mau e mau é bom”. As bruxas, ao se encontrarem com Macbeth, predizem que, sendo já duque de Glamis, será também de Cawdor e, enfim, rei. O primeiro (ser duque de Cawdor) cumpre-se em seguida, e aí reside a primeira tática do tentador, como observa Banquo, “os instrumentos das trevas nos dizem verdades, nos ganham com insignificâncias, para nos trair depois mais profundamente”.
A idéia de ser rei fica como uma tentação latente no coração de Macbeth, para a qual teria de matar o rei atual, Duncan. Seus solilóquios revelam uma intensa luta interior: os avisos da consciência contra os sentimentos de ambição que o inflamam. Macbeth chega a rechaçar a idéia quando diz à esposa: “Não insistiremos mais neste assunto (de matar o rei)”, mas a vontade não está suficientemente determinada e cede às instâncias de Lady Macbeth, que faz o papel do tentador. Segue, então, o ato trágico: o assassinato do rei, depois do que, como se estivesse descendo por uma espiral, seguem-se uma série de crimes para encobrir o inicial.
A entrega para o mal segue in crescendo, passando por tentativas de sufocar a consciência, até o ponto de legitimar o pecado: “Pelos piores meios, os piores, para meu próprio bem, todas as outras coisas devem ceder lugar”, diz Macbeth.
Isso leva ao patético solilóquio da última cena, em que Macbeth expressa a visão da vida de um homem totalmente entregue ao mal, um homem que chegou ao fundo do poço de degradação da natureza humana: “Apaga vela! A vida é só uma sombra: um mau ator que grita e se debate pelo palco, depois é esquecido; é uma história que conta o idiota, toda som e fúria, sem querer dizer nada”.
O clima de desolação é extremo: Lady Macbeth se suicida sem que ninguém se importe ou se ocupe dela; a sociedade está em caos pela insegurança gerada pelo reinado do tirano.
Tudo isso contrasta fortemente com a visão “hollywoodiana” da escória cinematográfica que predomina em nossos dias, que apresenta uma visão totalmente ilusória e ignara da psicologia humana, em que os piores crimes e baixezas são cometidos, aparentemente sem conseqüências significativas, terminando tudo habitualmente num irreal “happy end”.
É preciso dar-se conta do quanto nossa cultura moderna está impregnada de valores antinaturais. Vivemos o culto do feio. E o homem, em sua formação integral, necessita de uma cultura sã, que o permita contemplar a beleza em todos seus aspectos, “para que o homem se volte a Deus pelos mesmos vestígios que o afastaram d´Ele; de modo tal que, se por amar a beleza da criatura privou-se da forma do Criador, sirva-se da mesma beleza terrena para elevar-se novamente à beleza divina.”
(Iesus Christus, revista do Distrito da América do Sul da FSSX – Ano XV – no. 96)
O século XIX
Esse século é marcado pelo espantoso avanço científico, com autonomia das ciências, antes reunidas sob o item “Filosofia”, agora vão ganhando individualidade, como por exemplo a Sociologia, a Psicologia, entre outras. A epopéia, gênero tão em baixa, vai ser substituída pelo romance, que ganha maior incremento. A literatura começa a se voltar, também, para as novas descobertas cientificas e para o homem, individualizado ou em grupo. Este, através de suas características psicológicas e sociais, passa a ser a preocupação básica do romance que, como vimos, ganha grande destaque no cenário literário e tem enfoque especial nesse homem.
A produção romanesca do período é extremamente fértil, difícil dizer quem mais se destacou dentre tantos nomes importantes: Victor Hugo, Gustave Flaubert, Emile Zola, Jane Austen, Charles Dickens, Emily Bronte, Goethe, Tolstoi, Dostoiewski, Alexandre Herculano, Eça de Queirós e, no Brasil, José de Alencar, Machado de Assis, Aluísio Azevedo, entre tantos outros.
Não só o romance floresceu nesse século, a poesia lírica é de primeira qualidade, desde as criações românticas até as “descobertas” simbolistas, e o teatro recebeu inúmeras contribuições do século anterior, através de William Shakespeare.
Romantismo
Primeiro período literário de destaque, o Romantismo surge não só como oposição ao neoclássico, mas principalmente como um marco, a partir do qual surgiram todas as escolas posteriores a ele. Segundo Oscar Lopes, a visão romântica de mundo não é nada homogênea, pois baseia-se nas condições culturais que o levaram à ruptura com o passado.
Os românticos produziram vários textos de natureza teórica, que são princípios, já que eles sentiam a necessidade de instituir uma nova estética. Worksworth, por exemplo, foi criticado por outros românticos por defender a utilização da linguagem comum como sendo a única verdadeiramente poética, baseado na teoria de Aristóteles. Na verdade, o poeta é aquele que observa a realidade à sua volta, compreendendo-a através de seu efeito emocional. Por isso, o que diferencia o poeta das pessoas comuns é sua sensibilidade. Retomando Horácio, os românticos acreditavam que a poesia deve provocar prazer no leitor, e para isso o poeta deve senti-lo para poder passar ao leitor, num transbordamento de emoções espontâneo.
Samuel Taylor Colerige (1772 – 1834) defendeu em sua Biographia Literaria que o poeta deve se preocupar com o problema do funcionamento da mente humana, tão ao gosto romântico. Alegou que o mais importante na obra é a criação literária, sem se preocupar com o que se passa na mente do poeta. Ele afirmou que o poeta precisa ter “gênio” e não o simples ”talento”. Com isso, ele quis dizer que o poeta precisa priorizar as faculdades humanas em detrimento das faculdades intelectuais. A capacidade de sentir as coisas novas como antigas e o traço mais significativo do “gênio”. Colerige também considerava o sobrenatural como um objeto apropriado à poesia, devido ao seu grande interesse por elementos misteriosos e mágicos.
Colerige distingue “fantasia” de “imaginação”. Esta é a faculadde de criar coisas novas, enquanto aquela permite apenas ao autor apresentar as coisas num arranjo novo. É, portanto, a imaginação a responsável pela criação poética, pois o poeta é capaz de criar um mundo novo, ter uma existência própria e não uma simples reproduçao de coisas já existentes.
Diante de teorias diversas e antagônicas desenvolvidas na época, seria difícil resumi-las a apenas uma a ser seguida pelos poetas românticos. O que é certo é que o “subjetivismo” está presente em todas essas teorias, o que confere um caráter espontâneo de sentimentos na produção poética dessa fase. Portanto, a “liberdade de expressão” foi a tônica da maioria dos românticos. Se fosse possível resumir o movimento romântico num conceito simples, poderíamos dizer que foi uma revolta contra o Neoclassicismo e contra a sociedade e seu mundo objetivo.
Produção literária do Romantismo
Como exemplos práticos das teorias românticas, podemos apontar o romance Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe. Romance introdutor do Romantismo alemão, tem uma narrativa centralizada na mente do protagonista e em seus estados de espírito, num transbordamento de subjetivismo e sentimentalismo que o leva às últimas conseqüências do sofrimento amoroso: o suicídio. Temos também a poesia ultra-romântica de Lord Byron entitulada Versos inscritos numa taça feita de crânio em que o poeta atinge o auge da imaginação, proposta defendida por Colerige.
Os sentimentos do Jovem Werther
A primeira obra romântica conta o dilema do jovem Werther e sua paixão pela fascinante Charlotte, comprometida e posteriormente casada com Alberto. Werther, culpando-se do amor que sente pela jovem Charlotte, muda-se para outra região, mas não consegue esquecer a amada. Charlotte casa-se com Alberto, que passa a ter ciúmes de Werther, este percebendo o embaraço que causa ao casal, continua nutrindo um amor platônico por Charlotte. Werther promete não mais visitá-la e no último encontro com a moça, lê em voz alta, os Cantos de Ossain. Ambos se comovem, choram, se abraçam e se beijam; mas em seguida Charlotte repele-o, dizendo que nunca mais quer vê-lo. O jovem Werther parte, acreditando que é amado, mas ciente de que é um amor impossível. Resolve então suicidar-se, mandando pedir as pistolas de Alberto. Charlotte com o coração despedaçado, envia-lhe as armas. Werther dispara um tiro em sua própria cabeça e morre. Sua morte é a prova da intensidade do amor romântico e doentio. A história de Werther retrata a paixão exacerbada e infeliz que culmina com o suicídio, o escapismo do romântico.
O romance de Goethe, quando publicado na Europa causou grande impacto entre os jovens, cansando uma crescente onda de suicídio, tamanha foi a repercussão que alguns governos tentaram impedir a circulação da obra.
Versos Inscritos numa taça feita de crânio
Não, não te assustes: não fugiu o meu espírito
Vê em mim um crânio, o único que existe
Do qual, muito ao contrário de uma fronte viva,
Tudo aquilo que flui jamais é triste.
Vivi, amei, bebi, tal como tu; morri;
Que renuncie e terra aos ossos meus
Enche! Não podes injuriarme; tem o verme
Lábios mais repugnantes do que os teus.
Onde outrora brilhou, talvez, minha razão,
Para ajudar os outros brilhe agora e;
Substituto haverá mais nobre que o vinho
Se o nosso cérebro já se perdeu?
Bebe enquanto puderes; quando tu e os teus
Já tiverdes partido, uma outra gente
Possa te redimir da terra que abraçar-te,
E festeje com o morto e a própria rima tente.
E por que não? Se as fontes geram tal tristeza
Através da existência-curto dia-,
Redimidas dos vermes e da argila
Ao menos possam ter alguma serventia.
Realismo, Naturalismo, Parnasianismo
Em meados do século XIX, há um surto de estudos científicos e filosóficos, levando a uma eclosão de idéias mecanicistas, em que o homem passa a ser visto como um objeto dentro desse universo controlado e passa a ser encarado como um produto da sua hereditariedade. O ponto culminante dessa reflexão surgiu com Taine, quando ele caracteriza o homem como produto da raça, do momento e do meio. Quanto à raça, seu comportamento associa-se à sua hereditariedade. Em relação ao momento, podemos considerar o contexto sócio-político-econômico-cultural num determinado ponto da evolução humana. E quanto ao meio, o homem é produto das condições físicas e sociais em que vive.
Assim, o romance, como gênero, desenvolve-se na fase de ascensão da burguesia e é fruto das experiências vividas pelo artista em determinado contexto social. É desenvolvido em duas estéticas: o Realismo e o Naturalismo. O primeiro volta-se para o tipo humano dentro de uma determinada sociedade e de uma determinada situação histórica, enfatizando todas as suas relações com seu criador e suas características psicológicas. Já o segundo apresenta as relações genéticas entre autor e obra, enfatizando o contexto social em detrimento ao individual e psicológico, regidas pelas leis naturais.
Já o Parnasianismo, desenvolvido exclusivamente na poesia, apresenta traços do Realismo e do Naturalismo, impulsionados pela lógica e pela descrição objetiva de obras de arte ou elementos da natureza. Retoma tendências neoclássicas de apuro formal, racionalismo e objetivismo.
Assim, pode-se perceber que, desde o Classicismo até o Naturalismo, passando pelo Romantismo, não existiram formas absolutas de predominância e nem existiram de forma isolada. Há, por exemplo, no Romantismo, traços objetivos, enquanto que os autores naturalistas deixaram-se levar por uma concepção subjetiva em alguns momentos.
Produção literária do Realismo, Naturalismo e do Parnasianismo
Como exemplos das teorias expostas, temos o romance inaugural do Realismo universal, Madame Bovary, de Gustave Flaubert, que se preocupa em analisar a psicologia da personagem central que, na ociosidade do dia-a-dia, deixa-se levar por impulsos naturais e passa à cometer o adultério. Temos, também, uma síntese da teoria do Humanitismo, desenvolvida por Machado de Assis, que atribui a autoria ao personagem-filósofo Quincas Borba, na obra Memórias Póstumas de Brás Cubas. Essa teoria busca mostrar o poder das leis naturais, em que o mais forte vence o mais fraco, garantindo-lhe a sobrevivência. Aqui salienta-se o caráter social, econômico e histórico das teorias desenvolvidas na época.
Madame Bovary
Madame Bovary é com certeza um dos mais belos romances de lingua francesa, ou porque não dizer, um dos mais belos e elaborados romances escritos durante a história da humanidade.Escrito por Gustave Flaubert em?? a narração parte de uma experiência do escritor, médico de profissão, escritor por vocação que estando em Rouen, perto de Paris, toma conhecimento do suicídio de uma jovem senhora, que depois de ter levado o marido à ruina ingere arcênico e falece. Flaubert este durante oito anos pesquisando a vida desta senhora e como requer o romance realista, em posse de dados muito próximos da realidade escree o romance, que lhe custou um processo por ultraje à moral do qual se livrou alegando ter escrito o livro como forma de mostrar qual deve ser o fim de uma mulher adúltera. O livro narra a história de Ema Bovary, esposa do médico Charles Bovary, um homem fracassado e medíocre que desperta na mulher todos os sentimentos contrários aquilo a que havia idealizado durante a mocidade. Ema fora criada em um convento e por não apresentar sinais verdadeiros de que tivesse vocação para ser freira volta à casa do pai e ali vive uma vida pacata no campo, lendo os romances românticos idealizados de Walter Scott. Charles fora desde menino tímido e sem iniciativa, tendo um pai omisso fora sempre controlado pela mãe e acaba por tornar-se médico. A mãe então indica-lhe uma viúva de posses com quem o rapaz se casa e vive uma vida morna de sentimentos. Certa ocasião o pai de Ema quebra a perna e então Charles vai prestar atendimento ao pai da jovem, ocasião esta em que acabam se conhecendo.
Posteriormente as visitas à casa de Ema se intensificam em virtude da saúde seu pai. Logo Charles fica viúvo e daí ás núpcias é um curto intervalo de tempo.
Ao casar a moça sente que ascenderá socialmente, que viverá a vida dos salões, em contato com os nobres, mas logo entra num estado de profunda nostalgia ao perceber que o casamento constitui de uma vida monótona, cercada aos afazeres do lar.
O casal então decide mudar-se para Roeun e quando isto ocorre Ema está grávida de Berthe. Instalando-se na nova cidade, Charles de certa forma ameaça com sua presença o farmacêutico Romais que executa as funções de médico no local. Surge entre as duas famílias um clima de inveja, que não se deixa transparecer totalmente. Ema conhece Leon , um jovem com quem trava amizade e um amor platônico, no entanto logo o rapaz se dirige a Paris para estudar Direito o que desencadeia na Senhora Bovary uma incrível sensação de solidão que é superada pelo aparecimento de Rodolfo, fidalgo decaído que vive de aparências com quem Ema vive um intenso caso de amor e com quem planeja fugir, no entanto na data marcada, Rodolfo lhe envia um bilhete alegando que não iria levá-la para o seu próprio bem, a jovem Senhora então entra em crise de depressão profunda, tempo em que se recolhe a religiosidade e se dedica ao marido.
Com a volta de Leon de Paris, Ema novamente se lança às suas aventuras amorosas e perde todos os limites do bom senso, envolvendo-se cada vez mais em dívidas, assina muitas notas notas promissórias, dominada pelo consumismo e pela personalidade ansiosa que a conduz finalmente ao fundo do poço. Sem saída para as dívidas e tendo perdido mais uma vez o amante, ela resolve tomar arcênico, depois de um perído agonizante ela falece. Charles não suporta a ausência da esposa e acaba morrendo de ataque cardíaco fulminante, na condição mais degradante que um ser humano é capaz de alcançar. Berthe depois da morte da tia com quem ficara depois da morte dos pais, vai trabalhar em uma tecelegem como operária e assim se dá o desfecho da trágica história da Senhora Bovary.
A Filosofia do Humanitismo
Seguindo a trajetória do Humanitismo, a filosofia inventada por Quincas Borba, de que a vida é um campo de batalha onde só os mais fortes sobrevivem.
Os fracos e ingênuos, como Rubião, são manipulados e aniquilados pelos mais fortes e mais espertos, como Palha e Sofia, que no final, estão vivos e ricos, tal como dizia a teoria do Humanitismo.
Esse Principio de Quincas Borba: nunca há morte, há encontro de duas expansões, ou expansão de duas formas.
Explicando de uma melhor maneira, criou a frase: 'Ao vencedor às Batatas!', principio este, que marcou e é o enfoque principal do enredo.
- 'Supõe-se em um campo e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentam somente uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutri-se suficientemente e morrerão de inanição. A paz, neste caso, é a destruição; a guerra, é a esperança. Uma das tribos extermina a outra recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, as aclamações. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se.
Ao vencido, o ódio ou compaixão... Ao vencedor, as batatas !'
Simbolismo
Surgiu nas últimas décadas do século XIX e marcou a reação contra a visão mecanicista e científica dos meados do século. Desse período, dois grandes autores merecem destaque por suas obras e teorias: o francês Charles Baudelaire e o britânico Edgard Alan Poe. Esses dois autores se completam em suas teorias. Baudelaire sentiu uma nova literatura e Poe a formulou. A essência dessa nova literatura estava no vago, na sugestão, na mistura do real com o imaginário, na indefinição, daí a proximidade com a música.
As tendências simbolistas pendiam não só para uma nova concepção poética, marcada pela sugestão, mas também para uma nova linguagem, já que para os simbolistas não se faz poesia com idéias, mas sim com palavras. Contrário ao Parnasianismo, que segundo os simbolistas destruía o mistério da poesia, o Simbolismo acreditava nas dificuldades que uma pessoa tem em se comunicar através das sensações. Por isso, a linguagem não poderia ficar presa à denotação, dever-se-ia recorrer aos símbolos para se criar a imagem do subconsciente do poeta.
Os simbolistas rejeitavam os valores clássicos da poesia, como a clareza e a objetividade e propunham valores sonoros a ela, como a musicalidade, cujo aspecto prioritário é o elemento fonético em detrimento ao conteúdo. Acreditavam os simbolistas no poder da palavra e atribuíam a ela um significado fora do seu sentido mais comum, mais usual. Para eles, a linguagem não é o meio, mas o fim. Daí o caráter abstracionista adquirido por essa estética, cujos efeitos ainda se fizeram sentir no século XX.
A produção literária do Simbolismo
Como exemplo dessa teoria, não poderíamos deixar de citar a poesia de Charles Baudelaire. Apresentamos duas bastante significativas: A um passante e O vampiro. É importante notar a multiplicidade de sentidos que a palavra assume no contexto, o poeta não oferece a poesia pronta ao leitor, mas inacabada, cabendo a este a habilidade e o poder de perceber o sentimento do eu-lírico.
A Uma Passante
A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa
Erguendo e balançando a barra alva da saia;
Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.
Eu bebia, como um basbaque extravagante,
No tempestuoso céu do seu olhar distante,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.
Brilho... e a noite depois! - Fugitiva beldade
Não mais te hei de rever senão na eternidade?
O Vampiro
Tu que, como uma punhalada,
Entraste em meu coração triste;
Tu que, forte como manada
De demônios, louca surgiste,
Para no espírito humilhado
Encontrar o leito e o ascendente;
- Infame a que eu estou atado
Tal como o forçado à corrente,
Como ao baralho o jogador,
Como à garrafa o borrachão,
Como os vermes a podridão,
- Maldita sejas, como for!
Implorei ao punhal veloz
Que me concedesse a alforria,
Disse após ao veneno atroz
Que me amparasse a covardia.
Ah! pobre! o veneno e o punhal
Disseram-me de ar zombeteiro:
"Ninguém te livrará afinal
De teu maldito cativeiro.
Ah! imbecil - de teu retiro
Se te livrássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!"
COMENTÁRIO CRÍTICO
Para que existem tantas teorias? Será que a preocupação do homem ao longo do tempo foi apenas com a sua produção teórica? Muito embora seja inadequado dissociar a teoria da produção prática, elas nos remetem, muitas vezes, a pensamentos obsoletos, como se fossem impostos e não propostos em suas respectivas épocas. Um teórico deveria ter a preocupação em analisar a obra literária e encontrar nela as características marcantes dentro dos contextos sociais, políticos e culturais em que estão inseridos. Mas podemos perceber, por parte de alguns teóricos, em especial os românticos, uma postura de imposição clara de seus ideais, num paradoxo enorme com a nova estética que surgia pregando a liberdade. Ora, se a poesia, a partir do fim do clássico, deveria ser livre, por que impor regras de composição? Se já se havia abandonado a rigidez formal, por que seguir uma “receita” conteudista? Vimos que Horácio teorizava que a arte deve dar prazer, então por que os artistas não fixavam suas preocupações nesse preceito?
Outra coisa a se observar é que os teóricos que procuravam defender suas teses em seu tempo, provavelmente, não teriam a mesma concepção se vivessem em épocas distantes da sua. Basta ver o que pensavam os medievalistas. Com certeza, no século XIX não teriam a mesma concepção. Então, por que não deixar que as teorias fossem sendo desenvolvidas após a produção, como forma de análise e não antes, como forma de imposição?
O que se salva nisso tudo é a enorme capacidade de criação, originalidade e imaginação de alguns grandes autores da literatura universal durante essa época. A sensibilidade dos medievais, a objetividade e a pureza dos clássicos, o sentimentalismo do romântico e seu grande poder de fantasiar, a análise objetiva do realista e, por fim, o devaneio do simbolista.
Mas, apesar disso, essas teorias são, até certo ponto, válidas, pois, afinal, o que seriam dos teóricos e dos estudiosos de teorias sem elas?