TEORIA CRÍTICA, HERMENÊUTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: CONTRIBUIÇÕES DE MARIO OSORIO MARQUES

Ludmilla Paniago Nogueira 

Neide Figueiredo de Souza             

Kuhn e Callai (2020) propõem uma reflexão teórica e bibliográfica sobre a contradição entre teoria e prática encontrada na formação de professores, apoiando-se no diálogo da teoria crítica (de Jürgen Habermas) e da hermenêutica (de Hans-Georg Gadamer) sob a visão de Mário Osório Marques, no sentido de expor suas contribuições à formação de professores e à docência. Essa reflexão estrutura-se em três movimentos, conforme destacamos no próximo item. A proposta de Kuhn e Callai (2020) é uma reflexão teórica e bibliográfica acerca da contradição entre teoria e prática que ao longo do tempo é motivo de estudos que tratam da formação de professores e sua prática. A reflexão tem como base o diálogo da teoria crítica de Habermas e a hermenêutica Gadamer, e discute as contribuições de Mário Osório Marques em relação à formação de professores e à docência.

A proposta desse artigo foi realizar uma reflexão acerca das contribuições de Mário Osório Marques à formação de professores e à docência, considerando o diálogo reflexivo advindo da teoria da ação comunicativa de Habermas e da hermenêutica de Gadamer. Esse diálogo se pauta a compreensão da educação e da formação dos educadores e da docência, partindo-se da necessidade de aliar teoria e prática e diminuir as contradições que ao longo tempo influem a prática do professor.

O principal objetivo desta obra foi apresentar as contribuições à formação de professores e à docência propostas por Marques a partir do diálogo teoria da ação comunicativa de Habermas e a hermenêutica de Gadamer. Kuhn e Callai (2020) defendem que o diálogo entre os dois horizontes reflexivos constitui possibilidade razoável de compreender a educação e a formação dos educadores à docência.

A reflexão proposta por Kuhn e Callai (2020) baseia-se no diálogo entre duas teorias: da ação comunicativa de Habermas e da hermenêutica de Gadamer. A reflexão sobre teoria crítica e hermenêutica parte de dois campos teóricos: a transformação via mediação proposta por Marx e a dialética, que trata a relação entre teoria e prática a partir de suas contradições para transformá-la. Habermas defende que a comunicação é primordial à interação e ao entendimento entre aqueles que dela participam, mediante a racionalidade, suas capacidades argumentativas e as circunstâncias as quais a prática comunicativa (prática, concreta) acontece. A comunicação (o diálogo) permite aos atores colocarem-se um “no horizonte o outro, o compromisso, a responsabilidade e a sensibilidade com a palavra e a escuta das proposições e dos argumentos.” (p. 6-7). Quanto à hermenêutica de Gadamer, a compreensão prende-se numa projeção do passado e presente, como parte de um processo histórico, inscrita e marcada pela temporalidade (p. 9). Sobre o diálogo entre teoria crítica, hermenêutica e educação, os Autores expõem que a dialética e a hermenêutica se compreendem têm em comum a temporalidade, e a compreensão da realidade pelos atores não a distanciam da teoria que certamente a embasa. “No caso da educação e da formação de professores, a hermenêutica permite interrogar os diversos sentidos que ela assumiu ao longo do tempo e mesmo os muitos sentidos expressos nelas.” (p. 11-12). Em relação à formação de professores no contexto das contribuições de Mário Osório Marques, segundo os Autores, ampara-se em três saberes imprescindíveis à formação do educador, a pedagogia, enquanto: hermenêutica; crítico-dialética e, racionalidade epistêmico-instrumental. O primeiro saber afirma que pra interpretar a realidade presente é preciso recorrer aos saberes do passado (tradição acumulada). O professor em formação (sempre!), deve “conhecer em profundidade a pedagogia, sua tradição” (p. 14), para pensar nos desafios que vivencia no presente, pois, é todo o contexto histórico da educação que lhe auxiliará a vencê-los (processo histórico). A exigência epistêmico-instrumental defende que tudo que se refere ao processo de ensino e aprendizagem (conhecimento, valores, procedimentos e outros), precedem e sustentam a prática pedagógica. Kuhn e Callai (2020) concluem que as três exigências são cruciais à todas as ações dos professores, e estes, se colocando a serviço da educação tendo-o como um fenômeno vivo e histórico.

Kuhn e Callai (2020) debatem o diálogo entre a teoria da ação comunicativa de Habermas e a teoria hermenêutica de Gadamer. A teoria crítico/dialética aponta a necessidade de se compreender o fenômeno a partir das contradições que o envolve para poder transformá-lo. E isso é um processo sempre em movimento. Habermas propõe sustenta a teoria da ação comunicativa, sendo o diálogo entre os participantes mediado pela força dos argumentos que os levam a expor e compreender suas exigências e desafios, e compreendê-las e como resultado, o acordo entre eles (os participantes), como sugere Habermas. A dialética auxilia na real compreensão das contradições presentes nos discursos e nas práticas educativas no tempo para transformá-las. Desse modo, segundo Marques, a “verdade” é resultado do encontro de múltiplas vozes. Da hermenêutica entende-se que toda verdade deve sempre ser revista, pois, é considerada parcial, provisória, ou seja, não existe verdade absoluta. A hermenêutica e dialética têm em comum o caráter provisório do fenômeno, que não pode ser compreendido como isolado do sujeito que o lê / interpreta – trata-se de processos interpretativos e reflexivos complementares que permitem “Olhar para um fenômeno concreto, educação e formação de professores, a partir da crítica e da hermenêutica facilita o entendimento dos contrastes e da identidade ao longo do tempo.” (p. 11). Marques defende três saberes indispensáveis à formação do educador: a pedagogia enquanto hermenêutica (a tradição acumulada, já esclarecida, pode auxiliar a interpretar a realidade do presente ponderando as questões e desafios do passado); a pedagogia enquanto crítico-dialética (revela as contradições argumentando seus fins - processo emancipatório - passar “daquilo que é”, para “o que deve ser”); a pedagogia enquanto racionalidade epistêmico-instrumental (a prática pedagógica atual não é desprendida: dos conhecimentos acumulados; de normas, valores e crenças que a orientam; dos procedimentos didáticos, das tecnologias desenvolvidas, dos materiais do ensino/aprendizagem nela utilizados). A contribuição de Marques está em levar a compreender que a transformação da prática só acontece quando o professor conhece a teoria que deve sustentá-la, e a formação (continuada) é uma necessidade que lhe permitirá compreender e encontrar soluções para os desafios do presente sem desconsiderar o passado.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

KUHN, Martin; CALLAI, Helena Copetti. Teoria crítica, hermenêutica e formação de professores: contribuições de Mario Osório Marques. Revista Pedagógica, Chapecó, v. 22, p. 1-19, 2020. DOI: .