Tendências em Gestão de Projetos de Tecnologia

Por Silvana Dias dos Santos | 17/11/2025 | Tecnologia

Impacto da Inteligência Artificial e outras tecnologias emergentes na gestão de projetos.

Ao longo da minha trajetória em gestão de projetos de tecnologia, sempre admirei como profissionais da área conseguiam transitar em ambientes altamente técnicos usando a comunicação como principal ferramenta. Mesmo quando não tinham conhecimento profundo sobre construção de códigos ou arquitetura de sistemas, eram capazes de conectar pessoas, traduzir temas complexos e articular prioridades. Os melhores gestores que conheci se destacavam muito mais pela habilidade de gerenciar tempo, recursos e relacionamentos do que pela capacidade de programar. Por isso, não é raro observar profissionais técnicos migrarem para gestão quando percebem que possuem maior afinidade com essas competências humanas, como comunicação, negociação, organização e visão sistêmica. Isso não significa que perfis técnicos não possam ser excelentes gestores; significa apenas que a exposição, a mediação e o diálogo constante são elementos centrais da função, o que nem sempre é o foco ou o interesse de quem atua exclusivamente em desenvolvimento.

Durante muito tempo, era exatamente nesse conjunto de habilidades humanas que a gestão de projetos se diferenciava. Comunicação eficaz era e ainda é a ferramenta que sustenta o compartilhamento de avanços, o alinhamento entre stakeholders, a capacidade de dizer não a temas não prioritários, a prevenção de perdas de foco e a habilidade de influenciar decisões. Porém, surge agora uma dúvida inevitável: em um cenário dominado pela inteligência artificial e pelo aprendizado de máquina, qual será o futuro da gestão de projetos de tecnologia?

Recentemente, durante uma reunião de trabalho, fui surpreendida ao ver um agente de IA assumir o papel de facilitador. Ele acompanhava a conversa, indicava o que já havia sido discutido, o que ainda restava na pauta e retomava pontos essenciais quando necessário. Percebi, ali, que funções tradicionalmente exercidas por um interlocutor humano já estavam sendo automatizadas com precisão impressionante. Além disso, outras atividades típicas da gestão de projetos, como leitura de indicadores, organização e acompanhamento de roadmaps, projeções de prazos e até elaboração de relatórios executivos, também já podem ser executadas ou apoiadas por inteligência artificial.

Esse cenário naturalmente faz surgir a pergunta: o que resta para quem atua na gestão de projetos? No entanto, apesar da provocação inicial, não acredito que estejamos diante de um futuro catastrófico. Pelo contrário, enxergo um período de expansão. A tecnologia está removendo a parte mais repetitiva e operacional do trabalho, abrindo espaço para uma atuação muito mais estratégica. Com IA, diversas barreiras antes consideradas naturais começam a cair. Passamos a acessar informações de forma instantânea, compreender sinais de risco antes que se materializem, detectar padrões que antes passariam despercebidos e adaptar nossos acompanhamentos para diferentes perfis de liderança com mais assertividade e velocidade. Os mesmos conteúdos podem ser apresentados em formatos distintos conforme a necessidade de cada interlocutor. Além disso, o uso intensivo de dados amplia nossa capacidade de antecipar problemas e ajustar rotas antes que um projeto entre em colapso.

Essa evolução também transforma o papel do gestor de projetos. Em vez de ser a pessoa responsável por consolidar manualmente informações dispersas, ele passa a atuar como curador de sentido, alguém que interpreta cenários, conecta dados ao contexto do negócio, avalia nuances organizacionais e toma decisões que equilibram tecnologia, estratégia e impacto humano. A IA pode sugerir caminhos, mas não compreende motivações, cultura, sentimentos das equipes, riscos políticos e camadas subjetivas que influenciam qualquer projeto. Essas dimensões continuam sendo exclusivas do olhar humano.

Com o amadurecimento dessas tecnologias, novos papéis tendem a surgir na área, como gestores especializados em operar com agentes autônomos, profissionais que atuam como intérpretes de dados para decisões de portfólio, e especialistas em integração entre times humanos e sistemas inteligentes. A gestão de projetos passa a exigir ainda mais capacidade de pensamento crítico, análise contextual e sensibilidade humana, porque quanto mais dados e automações tivermos, maior será a necessidade de alguém que saiba interpretá-los com profundidade.

Conclusão

Acredito profundamente na adaptabilidade como uma das competências mais importantes para o presente e o futuro. Eu, como gestora de projetos de tecnologia, também preciso praticar essa habilidade diariamente: observar os cenários, entender as transformações ao meu redor e ajustar minhas práticas com rapidez. E, acima de tudo, usar o tempo economizado pelas automações para ampliar minha capacidade de pensar. Embora a IA execute tarefas com precisão e velocidade, a habilidade de formular boas perguntas, interpretar sentidos, avaliar impactos e tomar decisões humanas permanece única e continuará sendo nossa vantagem mais valiosa.

Silvana Dias

Silvana atua no mercado financeiro desde 2001e contribui com seus conhecimentos de gestão de projetos de tecnologia.

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