As advertências que Cristo fez as sete igrejas de Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiátira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia, em Apocalipse 1:11, podem também representar os inúmeros estados espirituais da Igreja Cristã, ao longo dos séculos, e revelam como estão os relacionamentos dos homens com Deus e o mundo.

Atualmente, vivemos a fase espiritual da igreja de Laodicéia. O que caracteriza os tempos dessa atual Igreja? É uma situação boa ou má? Sendo a última igreja, ela representa os fins dos tempos?

O que caracteriza a fase espiritual, relativa à igreja de Laodicéia, é a indiferença do atual cristão com os valores apregoados pelo Evangelho de Jesus Cristo. Por que ela se tornou assim? Essa situação pode mudar? E se não mudar, o que acontecerá?

Iniciaremos abordando o próprio Capítulo 3:14-22 das Revelações de Cristo, também conhecidas como Apocalipse, que expõe, em pormenor, o que entendemos como o atual estado espiritual da igreja:

14.Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: 15.Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente! 16.Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca.17. Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;18. aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio, a fim de ungires os teus olhos, para que vejas.19. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê pois zeloso, e arrepende-te.20. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.21.Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono. 22. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.”

Quando se revela que a igreja não é fria nem quente, mas morna se depreende uma indiferença, uma espécie de apatia espiritual, que causa uma imediata consequência: “porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca.” Quem está, portanto, morno demonstra não se encontrar no caminho da salvação de Cristo para integrar o Reino de Deus. Por isso, é vomitado, ou seja, não é digno de ser por Ele chamado porque ainda não faz parte do Livro da Vida.

Não ser quente nem frio pode significar que a pessoa não se decide a que caminho quer seguir ou que pretende servir a Deus e ao mundo ao mesmo tempo: quente é um estado de amor ativo a Deus, e frio é, no mínimo, um estado de amor inativo. Uma pessoa, espiritualmente, fria é aquela sem iniciativa para as boas obras do amor ao próximo e a Deus, embora conheça as palavras do Evangelho. É aquela de coração endurecido pelo orgulho, egoísmo, vaidade ou avareza: Nem todo mundo, embora tenha condições, sente inspiração ou entusiasmo para doar uma esmola a quem lhe pede.

O morno é, portanto, um meio termo e pode, na melhor das hipóteses, representar a falta de boa vontade da pessoa por alimentar a ideia de que já esteja salva ou que deseja servir a Deus no gozo das riquezas e dos prazeres mundanos. A atitude morna já é, por si mesma, um posicionamento contrário à prática do bem a ponto de ficar excluída do Livro da Vida(vomitar-te-ei da minha boca).

É preciso tomar uma direção porque mesmo seguindo o pecado(ser frio), o olhar da misericórdia de Deus estará sobre o pecador(oxalá foras frio ou quente!). O que não é certo, como morno, é julgar-se salvo sem qualquer esforço ou servir a Deus e ao mundo ao mesmo tempo(não é possível servir a dois senhores – Mateus 6:24). Nestes dias, o Reino dos Céus deve ser conquistado com muito esforço(Mateus 11:12) e bom ânimo(João 16:33).

Mas por que a igreja se tornou morna? Segundo a revelação, é porque se apresenta enriquecida de tudo(rico sou, estou enriquecido, e de nada tenho falta). O que quer dizer isso?

A real Laodicéia estava localizada na Ásia Menor e era uma das cidades mais ricas daquela época. Era um importante centro econômico, produtor de tecidos de lã e de medicamentos para tratamento dos olhos. Embora sob o domínio do Império Romano, era autossuficiente e ostentava grandes riquezas, o que contribuiu para elevar o orgulho dos discípulos da sua igreja, que se julgavam fortes e independentes. A referência de ser morna advinha da qualidade da água, colhida num rio que cortava a cidade, nessa condição, e causava enjoo a quem dela tomasse. Ao adverti-la, Jesus revelou a sua real situação espiritual de morna: “porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca.” (não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu).

O atual enriquecimento dessa igreja decorre do fato de existirem inúmeros escritos e produções literárias, televisivas, cinematográficas, audiovisuais e científicas sobre a existência de Deus, do Cristo, dos anjos, dos céus e dos santos bem como sobre os caminhos para a salvação, com previsões proféticas e céus paradisíacos, originados e propalados por diversas correntes doutrinárias ou Escolas religiosas.

A produção e o acervo desse conhecimento tornaram-se, ao longo dos séculos, incomensuráveis e de larga escala mundial, renovando-se constantemente em todos os lugares. Daí surge a riqueza aparente da atual igreja de Cristo, fazendo supor que todos os fieis estão salvos. Isso gera uma falsa sensação ou presunção de que o conhecimento e a leitura dessas obras, a frequência constante ou, de vez em quando, a uma igreja, a pessoa não precisa mais conquistar Deus nem se preocupar com os esforços do dia-a-dia na fé e na prática do bem. 
Mas essa riqueza é ilusória e estimula apenas o intelecto orgulhoso do homem, que aufere a honra e os ganhos econômicos advindos. Todavia, a realidade é que a pessoa está numa situação moral e espiritual de ‘miséria’, ‘cegueira’ e ‘nudez’(não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu).

Não há dúvida de que a posse de relativa riqueza material do mundo contemporâneo também contribui para esse quadro espiritual morno. Quem tem um emprego simples e honesto, com renda mensal ainda que modesta, é seduzido a acumular bens de consumo e a usufruir serviços graças às facilidades creditícias e outras comodidades oferecidas.

Não resistindo, o indivíduo passa a criar uma zona de conforto material, e, sentindo-se um dos poucos privilegiados do mundo, passa a zelar apenas por si e a conviver apenas com aqueles que lhe são afins. Nesse apego material, ele se esquece de Deus e do próximo. Quando estimulado ao evangelho, receia perder a zona de conforto conquistada, ficando morno em suas atitudes.

Nos tempos da segunda besta, quem não renunciar a sua zona de conforto, aceitando o sinal(dinheiro virtual) e adorando a imagem da besta(padrões de comportamentos no gozo dos prazeres terrenos), será excluído do Reino dos Mil anos de Cristo na Terra(Apocalipse 20:4).

Como mudar esse quadro espiritual morno? Jesus quer que a pessoa, em primeiro lugar, arrependa-se, pois Ele é grandioso em perdoar e só deseja a salvação da criatura.

Ele aconselha que a pessoa ‘compre dEle’(busque nEle) ‘o ouro refinado no fogo’(a verdadeira salvação numa vida evangelicamente exemplar) para que se enriqueça na sua luz; ‘vestes brancas’(a purificação da alma) para que não nos causem vergonha as manchas dos pecados em nossa alma; e ‘colírio’(sabedoria), para que afastemos a cegueira do mundo que nos impede de agirmos como verdadeiros cristãos.

Ele alerta que já se encontra na porta do nosso coração. Se Ele bater(convidar-nos) e, ao ouvirmos e abrirmos a porta(se humildemente o reconhecermos como nosso salvador), Ele entrará na nossa casa(coração) e fará a ceia conosco(Ele mesmo nos guiará). E se vencermos, com a fé e a prática do bem, seremos verdadeiramente salvos.

Como perceberemos o bater da porta no nosso coração? Quando sentirmos a inspiração de vivermos uma vida moderada, de deixarmos de lado o orgulho e a honra mundana, de confiarmos em Deus, de andarmos na verdade e no trabalho honesto, de não nos queixarmos do mundo nem da nossa vida de aflição, de não julgarmos nem condenarmos o próximo e, sobretudo, de ajudarmos um irmão necessitado: tive sede e me deste de beber; estive preso e doente, e foste me visitar; estive nu e com fome, e me vestiste e me deste de comer. No próximo, encontramos Deus(Mateus 25:35-45).

No entanto, se continuarmos mornos, o mundo nos tragará e, nestes fins de tempo, em que a segunda besta se aproxima(Apocalipse 13:11), poderemos ficar excluídos de participar do Reino dos Mil Anos de Cristo na Terra(Apocalipse 20:4).

Por isso, não espere Ele bater; buscai-o enquanto pode achá-lo; invocai-o enquanto está por perto, na porta do nosso coração. Se Ele bater, abra logo e não o largue jamais.