TEMPO  É  DINHEIRO? 

Tenho me utilizado, e até com alguma freqüência, em artigos e textos de minha modesta autoria, os termos devidamente expressos na frase: “continuum tempo-evolução”; e, confesso não saber o seu autor, ou seja, se o mesmo fora cunhado e já divulgado por terceiros; o fato é que o compreendo e me utilizo do mesmo naturalmente, mas será compreendido por todos que porventura o lêem? O que estaria eu, com tais termos, pretendendo de fato expressar? 

Primeiramente, se diga que “continuum” quer dizer: algo que passa de alguma coisa para outra de modo contínuo, sem interrupção, como se a primeira coisa fosse a segunda, e esta, fosse aquela outra. Neste sentido, “tempo” se mostraria como sinônimo de “evolução”, e vice-versa, sendo tais coisas, fatores um tanto abstratos conquanto materializarem-se continuamente em nossa vida de relação, e, sobretudo interior, nos modificando para algo expressivamente melhor, tanto em nossa intelectualidade como em nossa vida comportamental, abrangendo aspectos afetivos e morais. 

Assim, nós, os humanos, como tudo o mais existente, “trafegam”, em seu existir mesmo, consoante regras determinísticas e previamente asseguradas pelo tempo-evolução, afirmando-se como lei da natureza e, da qual, nada, absolutamente nada, pode escapar. Assim, se para Descartes, o pensar se harmoniza com o existir, num complemento filosófico a tal, dir-se-ia que o existir se harmoniza com o evoluir, constituindo ou formalizando o método dinâmico do existir, que, no transcurso do tempo, o ser, forçosamente, e, conquanto lentamente, se transmuda e se modifica interiormente, cuja mudança irá refletir-se mais tarde na forma, na exterioridade física do ser não-físico, que nem sempre se dá conta de tal mudança, de sua evolução. 

Assim, o ser se transforma e muda o tempo todo, e, nem sempre por sua livre e espontânea vontade, seu querer, mas por determinismo contido nas leis mesmas da natureza, que assim se revela e se patenteia em todas as coisas, sendo mais claramente visível em nós mesmos, ou seja, seres humanos de individualidades psíquicas as mais diversas, de consciências mais ou menos esclarecidas, ou evoluídas, desta comunidade terrena e porque não: universal.

 

De maneira que aquela supracitada harmonização do pensar, do existir e do evoluir, poderia assim se explicitar:

 

   [(Pensar) = (Existir) = (Evoluir)]

 

Onde tais termos, mesmo não sendo exatamente iguais (=), o primeiro deles, filosoficamente, acaba por desembocar-se no segundo, pois que, pensando, ele só pensa porque existe, e existindo, se sujeita à lei da qual é filho, se transformando e evoluindo passo a passo de sua inevitável redenção.

 

Implicando que a sentença cartesiana do:

 

“Penso, Logo Existo”;

 

Diante das leis evolutivas, e, palingenésicas, bem mais tarde postas cientificamente a descoberto, se transmudaria sentenciando que:

 

“Penso, Logo Existo: na Forma Evolutiva do Ser”.

 

Evolução que, por sinal, se dá no conceito cíclico das muitas vidas, da reencarnação, consoante dados e informações dos mais respeitáveis pesquisadores da atualidade no mundo, tais como: Banerjee, Stevenson, H. Andrade, e muitos outros mais.

 

 

 

 

Conquanto este teorizador tenha a mais plena e lúcida compreensão de que ambos - tempo e evolução - na estrutura dimensional do referido conceito, só se patenteiam na relatividade evolutiva do Ser que, de futuro, haverão de se consumir e desaparecer no modo existencial da eternidade, tido como Imóvel na Perfeição, onde o Ser executaria movimentos de outro tipo, sem as correrias, as dores, decepções e canseiras da temporalidade evolutiva do mundo terreno. Movimentos de outro tipo que, se acredita, estariam estabilizados na posição correta e definitiva da obra realizada, obra então definitivamente perfeita, além das imposições do tempo e da evolução, relegados a um momento que se fora, e que, afinal, surgiram e surgem como formas e degraus de aperfeiçoamento do filho que, certamente, deveria e deverá espelhar-se na Divina e Infinita Perfeição.

 

Assim, tempo e evolução, paradoxalmente, são fatores dimensionais abstratos e também factuais; e, por outro lado: finitos, pois que se encerram e deixam de existir na Perfeição, num plano de Dimensão Absoluta, eterna por não comportar começo e tampouco fim. Coisas que nossas mentes infantis e encarceradas nas densas formas de cérebros animais, são incapazes de compreender por sua restrita condição psíquica, sua relatividade no tempo que se transmuda em evolução, para, um dia, asserenar-se na Eterna Quietude do Infinito, da Obra Perfeita de um Deus Absolutamente Perfeito.

 

Mas estamos muito distantes ainda da Quietude Universal, e, por isto, prossigamos nossos estudos na Inquietude Evolutiva de todos nós. Portanto, que ampliemos nosso entendimento do “continuum tempo-evolução” e vejamos como as coisas se sucedem no campo do entendimento espírita. Kardec, apesar de sua brilhante e vasta inteligência, declara, humildemente, não saber as causas da dor, mais especificamente, do sofrimento do animal, explicitando, por exemplo, que:

 

 

 

“O sofrimento dos animais é constante. Mas é racional imputar esses sofrimentos à imprevidência de Deus ou a uma falta de bondade de sua parte pelo fato de a causa escapar à nossa inteligência, como a utilidade dos deveres e da disciplina escapa ao escolar?” (1).

 

E, logo adiante, Kardec é advertido por Erasto nos termos:

 

“Compreendei, se o puderdes, ou esperai a hora de uma exposição mais inteligível, isto é, mais ao alcance do vosso entendimento”. (1)

 

Só, por aí, constata-se que as luzes espiritistas vão se fazendo aos poucos, lentamente, oportunizando a vinda de muitos outros missionários divulgadores da verdade única, da verdade em Deus. E, com Léon Denis, o esclarecimento se amplia informando que a dor e o sofrimento são fatores evolucionais importantes na economia da vida, e temos isto de modo claro e evidente como, por exemplo, em tal passagem:

 

“O sofrimento, nos animais, é um trabalho de evolução para o princípio de vida neles existente, que adquirem por esse modo os primeiros rudimentos de consciência”. (2).

 

E outros esclarecimentos se fazem e se harmonizam, como, por exemplo, com o Espírito Manoel P. Miranda, dentre outros, e inclusive com Emmanuel que destaca:

 

“... a dor é sofrimento educativo de primeira ordem, sem o qual o mais rudimentar aperfeiçoamento das criaturas e das coisas seria claramente impossível”. (3).

 

E assim vai, de modo concordante e universal nas informações positivadas por notáveis e confiáveis espiritistas pós-Kardec, desenvolvendo-o e ampliando-o vastamente.

 

 

 

E onde se constata que o conceito do “continuum tempo-evolução” também se engrandece doutrinariamente, pois que a adversidade, cujo fulcro central é a dor, entra como um componente de magna importância na formulação de tal princípio, cuja técnica consiste em impelir o psiquismo de todos os seres às culminâncias celestiais do Espírito Puro da Eterna Serenidade, da Infinita Perfeição em Deus.

 

Assim, tal técnica, atuando como mola impulsionadora do Ser, reside na adversidade das coisas, nas forças ambientais contrárias, nos problemas e tribulações encontradiços em nosso meio que, em seu conjunto, ou síntese, significa e expressa dor, sendo que tal, isoladamente, ou conjuntamente, são excitantes de todas as formas de reação e de luta, de defesa e de atividade, tendo como resultado algum desenvolvimento psíquico, objetivo primacial da evolução.

 

Vê-se, pois, que o conceito do “continuum tempo-evolução” é um tanto mais complexo do que se imagina, bem como o será, de comportamento variavelmente elástico nos diversos planos da natureza, onde as passadas evolutivas são extremamente diferentes, ou seja: “nula” ou “quase nula” na forma mineral, e assaz dinâmica na forma hominal, no plano nosso das humanidades, dos progressos sociais, científicos e culturais. Assim, se “tempo é dinheiro” para os gananciosos, dir-se-ia em mais digna acepção filosófica que:

 

“Tempo é Evolução”!

 

Sua forma resumida, sintética, conquanto se saiba de sua mais profunda e mais dilatada função, a atuar não só nas formas biológicas, ou, biopsíquicas do mundo, mas, também, do universo em sua totalidade física e astronômica a desembocar na eterna Quietude e Suprema Serenidade, Plano de Deus Transcendente que se espraia na Imanência por Amor ao filho, alçando-o em sua interioridade psíquica imortal.

 

 

Finalizando, recordo o notável filósofo da úmbria nos termos de que:

 

“Se a dor faz a evolução, a evolução anula progressivamente a dor”. (4).

 

Que, da Matéria ao Espírito, ou, da Relatividade Evolutiva à Quietude e Serenidade em Deus, implicaria na seguinte expressão:

 

[(Dor)] -- > [(Evolução)] -- > [(Nulificação da Dor)] -- > [(Dor = 0)]

 

 

Obras Citadas:

 

(1)        – “Revista Espírita” – A. Kardec – Março de 1864 – Edicel;

(2)        – “Depois da Morte” – Léon Denis – Feb;

(3)        – “Janela Para a Vida” – F. Worm – Gráfica Metrópole;

(4)        – “A Grande Síntese” – Pietro Ubaldi – Fundapu.

 

 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocínio

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