Tempo De Vida
Por Sérgio Lisboa | 06/04/2008 | CrônicasTem uma piada em que um médico diz para um paciente terminal, que ele tem só
três meses de vida, e o paciente, ao dizer que pretendia pagar o tratamento com
seis cheques mensais, o médico sai com essa:
- Tá bom! Seis meses de vida,
então!
O ser humano nasce e já começa a sua luta até o fim de seus dias
contra as várias doenças que o mundo disponibiliza. Até mesmo lá no útero, já
está em contato com doenças ou problemas que porventura tenham surgido na
concepção ou adquiridas da mãe.
Nascemos e vamos nos deteriorando aos poucos,
desde o primeiro dia de vida.
Um pessimista dirá que não temos a vida
inteira pela frente, e sim, a morte inteira nos esperando lá na frente. Então a
nossa vida, por mais saudável que a levemos, marcará um encontro no futuro, com
uma doença e, inevitavelmente, com um médico.
Sempre me chamou a atenção
os casos em que os médicos decretam, proferem um “veredicto”, determinando um
prazo máximo de vida aos seus pacientes. Eu sei que eles trabalham em cima da
complexidade das doenças, de sua experiência, baseados em seu conhecimento
acadêmico e científico e a mais forte das leis que é a lei das
probabilidades.
Eu soube de uma história em que um médico disse a uma
mulher que, com toda a certeza, não tinha mais do que seis meses de vida. Ela
aceitou resignada e, a partir daí, mudou completamente sua rotina, passando a
viver cada dia como se fosse o último, aproveitando cada minuto de seus últimos
seis meses nessa vida.
Fez tudo o que sempre teve vontade, sorriu mais,
brincou mais, viajou mais, se reconciliou e mudou radicalmente sua vida para
melhor.
Nós estamos sempre sob a mira de pessoas que querem dar rumos às
nossas vidas, com suas especialidades religiosas, políticas, científicas,
técnicas, experimentais, sentimentais, etc., redescobrindo a roda a cada pneu
furado.
Desde seu último encontro com o médico em que ouvira a pior coisa
que alguém pode ouvir, o vaticínio de sua morte, quando ele havia lhe dito
aquilo que todos, lá no fundo, mais tememos, que não viveria mais do que seis
meses, ela respondeu que já se passava doze anos daquele encontro fatídico com
seu médico. Doze anos! Onze anos e meio vivendo como se fosse morrer a qualquer
momento.
Indagada se ela nunca havia pensado em processar o tal médico,
ela olhou com o sorriso mais puro que já fora testemunhado e respondeu:
-
Processar? Eu queria muito é agradecer a ele. Ele positivamente, transformou a
minha vida.
Sérgio Lisboa.