INTRODUÇÃO

A inclusão é definida como um processo de educação que tem por objetivo geral estender ao máximo a capacidade do indivíduo portador de deficiência no ensino regular, desenvolvendo um trabalho pedagógico de qualidade, centrado no aluno e oferecer a oportunidade de aprendizagem a todos (SOUZA, 2007).
A partir da década de noventa teve início a formação de um movimento de inclusão educacional dos surdos e de todos os alunos considerados como portadores de necessidades educacionais especiais. O início da inclusão no Brasil teve influência de dois eventos educacionais: a Conferência Mundial de Educação para Todos, que ocorreu na Tailândia em 1990 e a Conferência de Salamanca que ocorreu em 1994, na Espanha (GUARINELLO, et al, 2006).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 1996, com base na Declaração de Salamanca, reconhece o direito de todas as crianças, normais ou com necessidades especiais, à educação de melhor qualidade (SILVA; PEREIRA, 2003).
A inclusão apresenta-se como uma proposta adequada para a comunidade escolar, que se mostra disposta ao contato com as diferenças, entretanto, experiências de inclusão de crianças surdas, nas quais a almejada integração social e acadêmica não ocorre efetivamente. O problema central, segundo estudos, é o acesso à comunicação, já que são necessárias intervenções diversas (boa amplificação sonora, tradução simultânea, apoio de intérprete, entre outros), que nem sempre tornam acessíveis os conteúdos tratados em classe (LACERDA, 2006).
A população brasileira que possui algum tipo de perda auditiva chega a 10% e várias pesquisas apontam os prejuízos que uma perda auditiva pode causar a essa população. Prejuízos não somente aos aspectos auditivos e de linguagem, mas também aos aspectos psicológicos, educacionais e sociais (GUARINELLO, et al, 2009).
Estudar em instituições de ensino superior para ouvintes é uma expectativa de muitos jovens surdos. Eles vislumbram viver novas experiências longe do ambiente familiar, mesmo sabendo que irão enfrentar situações difíceis, como fazer novas amizades, enfrentar preconceitos, conhecer seus próprios limites e, o maior deles, superar as dificuldades de comunicação. Muitos não conseguem chegar a uma universidade devido a essas dificuldades de comunicação (CARMO, 2001).
A maioria dos alunos surdos conclui o ensino fundamental e médio com muitas dificuldades, sendo estas caracterizadas por classes superlotadas, instalações físicas insuficientes e quadros docentes cuja formação deixa a desejar, e depois disso acabam procurando outros caminhos considerados mais práticos (LACERDA, 2006).
Cruz e Dias (2009) realizaram um estudo com sete alunos surdos com o objetivo de obter informações sobre as experiências vividas por estes alunos no ensino superior e constataram que dos sete alunos que participaram desse estudo, quatro eram graduados nas áreas tecnológicas, demonstrando que esses alunos apresentam maior aptidão para as áreas que não possuem conteúdo abstrato e vocabulário específico.
Para que a inclusão dos alunos com deficiência auditiva ocorra, faz-se necessária a adaptação de todo o ambiente escolar. Isto inclui desde a preparação dos funcionários como também a adequação da sala de aula (LINS, OLIVEIRA, 2001).
Cruz e Dias (2009) concordam que a má disposição dos móveis na sala de aula impede que o surdo visualize a face do professor e dos demais alunos, deixando assim de compreender o que está acontecendo.
Para que se obtenha sucesso efetivo no processo de aprendizagem dos alunos surdos é necessário que as instituições de ensino dêem condições de acesso a comunicabilidade e a interação desses alunos surdos com seus professores e colegas (MIRANDA et al, 2005).
Ao considerar que a maior parte das instruções e informações educativas são ministradas de forma oral deve-se dar mais atenção à importância da recepção sonora adequada para que o aluno portador de deficiência auditiva acompanhe o conteúdo curricular.
Alguns portadores de deficiência auditiva que desenvolveram a linguagem oral utilizam aparelhos de amplificação sonora individual (AASI). Esse tipo de aparelho amplifica o som que o usuário deseja ouvir, entretanto, também amplifica outros ruídos existentes na sala de aula, como o barulho de uma cadeira sendo arrastada, os colegas conversando, etc.
Os inúmeros sons amplificados junto com a voz do professor impedem que o aluno portador de deficiência auditiva consiga distinguir o que foi dito pelo professor com clareza impactando na sua aprendizagem, desenvolvimento em conteúdos acadêmicos, de linguagem e sociais (LACERDA, 2006).
Cruz e Dias (2009) constataram em seus estudos que os alunos surdos do ensino superior queixavam-se das aulas expositivas, onde os conteúdos são ministrados mais rápidos e os professores viravam-se de costas, e por esconderem os lábios do professor, não permitia a leitura labial, e essas situações pioravam quando o professor possuía bigode ou barba, mesmo que este professor falasse devagar e próximo do aluno.
Um dos recursos disponíveis para auxiliar o portador de deficiência auditiva no ensino superior é o Sistema de Freqüência Modulada (Sistema FM) que está inserido na categoria dos Sistemas Auxiliares sem fio. O Sistema FM é utilizado para conduzir padrões de vibração sonora por modulação de freqüência e tem sido a opção preferencial por fornecer melhor qualidade sonora e maior resistência a interferências (ALMEIDA, 2003).
O Sistema FM é composto por um transmissor, com microfone embutido, utilizado pelo professor e um receptor adaptado no próprio AASI, utilizado pelo aluno (KATZ, 1999).
Por meio de ondas de rádio, o transmissor envia a mensagem para o receptor do aluno e este, permitindo que a fala do professor seja mais claramente percebida. Consequentemente a percepção do ruído da sala de aula diminui, favorecendo uma melhor qualidade de som para o aluno.
Para ilustrar, imagina-se um sinal de fala emitido em 75 dB, e um ruído for quantificado em 65 dB, a relação sinal-ruído seria +10 dB (SMALDINO, CRANDELL, 2000). De uma maneira geral, a habilidade de percepção de fala estará prejudicada. Assim, os usuários de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI) demonstram maior dificuldade nessa habilidade, uma vez que a função do aparelho auditivo é amplificar o som, seja ele sinal de fala ou ruído.

METODOLOGIA

Participou do estudo 1 aluno do curso de Administração de Empresas da Universidade FUMEC, 35 anos, deficiente auditivo, apresentando perda auditiva do tipo neurossensorial, de grau profundo bilateralmente, usuário de aparelho de amplificação sonora individual (AASI), modelo retroauricular, tecnologia digital.
O primeiro passo para a coleta de dados foi a identificação do sujeito para este estudo, feita a partir de observações e depoimentos dos professores.
Foi realizada uma entrevista com o aluno, com o objetivo de: a) apresentar uma carta explicativa do projeto; b) preenchimento de um questionário, contendo dados pessoais e informações clínicas; c) assinatura do Termo de Consentimento livre e esclarecido.
Os dados foram coletados por meio de outro questionário composto por:
a) dados de identificação do participante (nome, sexo, idade, grau de perda, uso do AASI);
b) questões relacionadas à vida diária do deficiente auditivo (percepção auditiva em vários ambientes)
Os procedimentos utilizados foram: "Escala de avaliação do benefício do sistema FM pré e pós período de experiência com o sistema FM, proposto pelo Grupo Phonak e adaptado a este estudo. Esta escala considera as dificuldades encontradas pelo deficiente auditivo, pontuando diferentes situações e ambientes. As respostas são selecionadas de acordo com o grau de dificuldade em relação à audição com as opções: sempre, com freqüência, às vezes e nunca. Foi realizada também a avaliação audiológica básica contendo: audiometria tonal, audiometria vocal (realizadas no Hospital Odilon Behrens) e audiometria de campo (realizada no Centro Auditivo Phonak). Após os exames o aluno testou do Sistema FM durante 3 semanas, em sala de aula e em reuniões. Ao final dos testes com o Sistema FM o aluno preencheu um questionário para avaliação dos benefícios alcançados.

RESULTADOS

Analisando as respostas do aluno, à "Escala de avaliação do benefício do Sistema FM", pode-se notar melhora do desempenho auditivo com o uso do Sistema FM.
Com o uso do Sistema FM o aluno não apresentou dificuldades nos quesitos citados acima, comprovando a eficácia do uso do equipamento. Possibilitou uma melhora na relação sinal-ruído com o aumento do índice de reconhecimento de fala.
Foram considerados os depoimentos dos professores diante dos resultados dessa experiência, relatando que suas aulas transcorrem normalmente e que percebem uma boa interação do aluno surdo durante a aula e um bom rendimento geral desse aluno.
A utilização do Sistema FM por alunos do ensino superior é pequena devido à falta de conhecimento dos seus benefícios. Novas pesquisas devem ser realizadas, com número maior de alunos e em ambientes escolares diferenciados a fim de comparar resultados encontrados, promovendo maior divulgação e comprovação dos benefícios oferecidos ao aluno com o uso do sistema FM.

CONCLUSÃO

O estudo pretendeu identificar os aspectos que poderiam facilitar a inserção do aluno portador de deficiência auditiva no ensino superior por meio do uso do Sistema FM.
Foram observadas vantagens considerando o uso do Sistema FM em ambiente escolar, de acordo com as respostas positivas apresentadas pelo aluno avaliado.
Neste caso, o Sistema FM proporcionou ao aluno a melhora na percepção da fala do professor e sensação de diminuição do ruído de fala competitivo.


REFERÊNCIAS

ALMEIDA, K.; IÓRIO, M. C. M. Próteses Auditivas: Fundamentos Teóricos e Aplicações Clínicas. 2ed. São Paulo, Editora Lovise, 2003.

CARMO, S. M. Período Escolar. In: FONSECA, V. R. J. R. M. (Org.) Surdez e Deficiência Auditiva: a trajetória da infância à idade adulta. São Paulo ? SP. Casa do Psicólogo Editora, 2001.

KATZ, J. Tratado de Audiologia Clínica - Sistemas Auxiliares para Deficientes Auditivos. 4ªed. São Paulo ? SP. Manole, 1999.

LINS, Fernanda, OLIVEIRA, Elizabeth. A tecnologia dos sistemas de freqüência modulada como recurso para a inclusão do portador de deficiência auditiva no ensino regular. São Paulo. 2001.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Saberes e práticas da inclusão. Desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos. Brasília. 2005.

SMALDINO, J. J.; CRANDELL C. C. Classroom Acoustics For Children With Normal Hearing And With Hearing Impairment. American Speech-Language-Hearing Association. Volume October 2000. Disponível em: http://www.phonicear.ca/resourcefiles/PhonicEar?ClassroomAcousticsForChildr enWithNormalHearingAndWithHearingImpairment.pdf. Acesso em: 29/07/2008.