Táticas Maquiavélicas de Manutenção do Poder

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 09/10/2025 | Filosofia

A obtenção e manutenção do poder político requer o apuro das possibilidades moralmente lícitas, se se tratar de um postulante eticamente sóbrio. E a mesma obtenção e manutenção, por meio alguém fora do que os psicanalistas denominariam “limite da normalidade”, requer o uso de táticas inescrupulosas, com a utilização da mais extrema filosofia maquiavélica, vez que os escritos sobre ciência política de dita personagem refletem a natureza dominadora da espécie, pois, no seu âmago, escritas por conta de reais e intuitivas experiências quando de sua expulsão do governo florentino.

É óbvio que, para que haja um ditador, necessária se faz uma rede de apoio. Essa rede se dá por ofertas de participação financeira aos militares, que vigiam o entorno do tirano (a inteligência de um governante se mostra por meio das pessoas de que se cerca, já dizia o filósofo cá discutido) e comandam um exército sustentador, para quem a segurança despótica se confunde com a do próprio Estado (inicialmente, em táticas de controle de persuasão social, como o induzimento de que a algumas pessoas lhes dá asco a tirania somente porque não podem estabelecer a sua própria).

Assim, tenta-se seduzir, subornar, adular (afinal, os homens devem ser adulados, a fim de que o tirano vença). O déspota passa a ser amado pelos seduzidos, subornados e adulados, incluído todo o comando do exército. Se recusarem o sistema, que se abstenham. Mas, se a ele se contrapuserem, o ditador, em vez de ser apenas amado, por sua força militar será temido (eis que, não sendo possível revestir-se, simultaneamente, de amor e temor por parte dos cidadãos, a última hipótese é preferível), razão pela qual cumprirá o seu dever de manter a segurança do Estado (ou seja, a sua própria perpetuação no posto, ainda que, para tanto, tenha de derramar sangue, já que aos opositores, não lhes agradando vingarem-se das ofensas leves, a fariam em relação às graves, tendo, portanto, de ser eliminados).

Todas as táticas à segurança do Estado são permitidas, inclusive a imposição da morte por inanição (na expressão maquiavélica, mais eficiente que matar pelo ferro), denotandonu e cruamente, o realismo político de Maquiavel, o mesmo que nos revela se esquecer mais facilmente um homem do dia da morte do pai que da perda do patrimônio, no caso em discussão, político. Solução aos submetidos? “O silêncio é um amigo de nunca trai”, já dizia Confúcio.

Absolutismo e tirania: “o Estado sou eu”, viria a dizer Luiz XIV. E “O Estado sou eu” é uma combinação de sons que sempre reverberará da boca do “Príncipe”, de Maquiavel.