Os tipos e as possibilidades de um jogo de Tarot expandem-se a cada dia. É realmente curioso como cada cultura e doutrina místico-religiosa o absorvem, incluindo signos próprios e verticalizando as especialidades de jogo. O que pouco se sabe é que este oráculo, fortemente difundido pelo povo andarilho cigano, tem os pés, as mãos e a cabeça enfincados nas areias do Egito.

Segundo Antoine Court de Gérbelin em sua obra mais famosa, Le Monde primitif analyse et compare avec le monde moderne (O Mundo Primitivo Analisado e Comparado com o Mundo Moderno – publicados de 1773 à 1782), o Tarot advém dos ensinamentos contidos no lendário “Livro de Thoth”, Deus egípcio da sabedoria. Este livro, em harmonia com a mitologia egípcia, sintetiza todo o conhecimento de interligação entre o mundo espiritual, astral e físico. Diz a lenda que, durante os paulatinos ataques e invasões de bárbaros ao Egito, o livro foi então sintetizado em 78 lâminas, que poderiam ser encaradas como um mero jogo de passatempo, perdurando desapercebidas.

Dentro da visão Teosófica, todavia, foram os habitantes da extinta e misteriosa civilização Atlântida que transmitiram a inteligência divina aos egípcios. Conta-se que, como não havia ainda o conceito da escrita, – posto que os Atlates e todo seu legado ultra avançado foi extinto – os chamados hieróglifos despertavam a consciência crística latente dos seres, reativando nossas percepções adormecidas. Estes símbolos trazem à superfície nosso inconsciente coletivo dentro do que aprendemos cultural e estruturalmente, além do legado ancestral humano, exatamente como sugere o contemporâneo psicanalista Carl Jung.

Incluso na narrativa da criação das lâminas de Tarot, está a história da fuga dos Hebreus, liderados por Moisés. No Êxodo bíblico é descrito que pertences simbólicos foram levados junto ao povo judeu e os teósofos (estudiosos das ciências ocultas) indicam que o Tarot estava entre eles. A ligação do mundo ocidental com a simbologia e técnica simbólica egípcia se deu através da criação da Cabala. Este sistema filosófico-religioso e o Tarot possuem semelhanças simbólicas e numerológicas notáveis, provando que um se nutriu do outro.

Em tradução livre, tar (rei, real) e ro (estrada, rota), no antigo dialeto egípcio, poderia ser compreendido como  “caminho nobre”. É que o conhecimento era tão valoroso que apenas a pequena cúpula das famílias reais teria a oportunidade de vê-lo e estudá-lo.

Divididos em 22 arcanos (do grego “segredo”) maiores e 56 menores, as cartas demonstram visualmente a divisão dos três planos que avalia em suas leituras. São, de cima para baixo, o “Mundo das Causas” (espírito), “Mundo das causas em formação” (emoção) e o “Mundo das Causas Materializadas” (físico). Os arcanos maiores apresentam protagonismo nas tiragens, trazendo realidades objetivas, enquanto os menores são as influências que resultam ou interferem na questão, ligados à acontecimentos cotidianos ou vivências.

Todas as cartas apresentam fundamentos imagéticos das águas, astrologia, numerologia e cores. Apesar de elementos pertencentes às ciências ocultas, e mesmo com a tendência de creditar apenas as ciências exatas no século XXI, esses métodos de autoconhecimento mantêm-se frescos e reúnem adeptos e estudiosos em todo o mundo. Datam ao menos 6 mil anos de existência, perdurando por dinastias, impérios e reinados e tendo os clãs ciganos como principal veículo de divulgação.

Hoje o Tarot Egípcio, ou Tarot de Kier (nome da primeira editora que o publicou), é a principal referência de estudos para os iniciantes na arte divinatória das cartas, apesar de não ser a mais popular. Mas o pai de todos os tarots, que agrupa as chaves da natureza humana, perdura gentilmente, encaminhando jornadas de autodescoberta e comprometimento com nossos desejos mais íntimos e verdadeiros.