Tanto tempo perdido...

Encontraram-se por acaso, na cidade grande em que sempre moraram. Saíram de casa por motivos diferentes e por alguma razão se encontraram em uma livraria, folheando livros de uma mesma prateleira, em busca talvez, de algum que fizesse o fim de semana, um fim de semana agradável, já que a meteorologia prometia  chuva e frio. Suas mãos procuraram o mesmo livro e por acaso se tocaram. Olharam-se. A princípio com indignação, seguida por certa  curiosidade e finalmente  perplexidade ao se reconhecerem. Sem que  uma única palavra fosse dita, abraçaram-se, enquanto o coração batia mais forte... Muito.

Tudo tinha acontecido há tanto tempo, que o tempo, amigo que é, tudo foi apagando, fazendo com que as lembranças se esvaecessem e tomassem outros rumos. A força das palavras ditas foi enfraquecendo de tal forma,  que o significado que a elas tinha sido dado transformou-se, fazendo com que o ressentimento  gravado ao ouvi-las,  diluísse no tempo. As verdades sabidas misturaram-se às mentiras de forma tal, que se tornou impossível separá-las e saber qual o caminho  a ser tomado. Eram tantos...

O significado dado a essa realidade distante no tempo, não era o mesmo que outrora a ele tinha sido dado. Não mais lágrimas, tristezas, mágoas. Não mais noites insones  a pensar, a imaginar que se possível fosse...

A saudade sempre presente em cada detalhe de vida já vivido, tinha saído de mansinho rumo a outras paragens.

Tudo parecia tão distante...

Nada mais tinha a mesma importância e se tivessem percebido a tempo, o distanciamento não teria acontecido. 

E agora, ao se reencontrarem, falaram-se como se não tivesse havido tantos anos a separá-los. Caminharam então rumo ao futuro, deixando que o presente se encarregasse de indicar os caminhos...

Nada como o tempo para ensinar, para apagar tudo que não foi compreendido pela certeza de ser “dono da verdade”.

Tanto tempo perdido...