Tanto medo

Tanta aflição, tanta angústia permeava seus dias...

O medo de ser mais um a estar disponível para o mercado de trabalho o apavorava. Fazia com que passasse noites insones, a imaginar o que poderia acontecer se suas contas não pudessem ser pagas, se alguém viesse bater à sua porta. O que seria em vão, pois não conseguia fazer sequer um pé de meia. Gastava o que ganhava em suas compras, sempre a imaginar que algo pudesse lhe faltar. E comprava... E comprava sem precisar, com esse medo irreal que não o abandonava um minuto sequer. Ele o tinha tatuado em sua vida. Mesmo estando empregado, esse medo o acompanhava e se deixava transparecer em seu semblante.

Seu currículo passeava de porta em porta, apresentando-o como alguém muito diferente do que ele era. Como alguém seguro, corajoso, criterioso, perseverante, integro. Como alguém que ele gostaria de ser e nunca foi.

Pobre coitado que sequer sabia estar munido de forças pessoais que poderiam impulsioná-lo  rumo a um futuro melhor.

Não se atinha a nada.  Não as conhecia e sequer percebia que elas a ele se apresentavam, preocupado que estava em vislumbrar seu futuro tenebroso, esquecendo-se de viver seu presente. Que poderia ser tão pleno de realizações.

A força que possuía em descobrir coisas novas usava erradamente, na vã tentativa de descobrir caminhos para uma vida melhor, bem a seu gosto, merecedor que se julgava do sucesso alheio. Como se possível fosse.

Sua mente aberta, o fazia pensar em tantas coisas... Mas pessimista que era, pensava sempre as mesmas coisas ruins de sempre, sempre as mesmas.

Não sabia trocar favores. Sempre se pensava merecedor do que vinha do outro.

Colocava suas limitações em ombros outros que não os seus. Julgava-se, em sua imodéstia, ser o humilde que sempre quis ser.

E nada era. Não se conhecia tão bem quanto os olhos que sempre estavam a espreita-lo.

Plantou tantos “ e se...” em seu caminho, que deles não conseguia se desvencilhar, pois os alimentava com seu medo infundado. Trocou seu instinto de luta pelo instinto de fuga. Tornou-se um fugitivo da vida, sem perceber que fugia para braços que mais o aterrorizavam do que o impulsionavam para o melhor. E esses braços eram os seus, responsável que era por sua vida e não sabia.

Pobre ser que poderia ter sido alguém... E nunca foi.