E ela continuava machucando quem gostava dela e se machucando por quem não estava nem aí. Por mais que isso fosse óbvio, por mais que ela soubesse o quanto o desprezo daqueles que ela amava fosse cruel, ela continuava se rebaixando e colhendo as migalhas desses amores não correspondidos.

A cada encontro, a cada fodida que durava o suficiente para o cara gozar, a cada vez que ela se olhava no espelho do motel, com os olhos vermelhos de tanto segurar o choro, a cada soco na parede que ela dava por sentir ódio de si mesma, a cada segundo ela morria um pouco. Não adiantava alguém falar para ela o quanto ela estava se iludindo, não adiantava ela mesma escrever com todas as palavras que aquelas relações faziam mal para ela, no dia seguinte ela estaria disposta a responder as mensagens de quem jamais a procurou voluntariamente.

Ontem ela pediu para que eles se vissem mais, ela abriu seu coração sobre o quanto estar com ele fazia bem para ela, ela só queria ser amada por alguém que lá no fundo só estava usando ela. O problema é que ele sabia perfeitamente como manipular seus sentimentos, os pedidos de desculpas constantes, as mensagens inesperadas, os olhares de canto se olho, falando apenas para ela ouvir o quanto estava linda e o quanto ele desejava seus lábios.

Ele realmente sabia fazer ela se sentir desejada, e não de um jeito pejorativo como os outros faziam, era de um jeito sedutor, de um jeito quase que inapropriado e erótico demais para ser real. Bastava saber que ele estava no mesmo ambiente que ela já começava a ficar ansiosa, os pensamentos rodeavam entre "não vale a pena se rebaixar por isso” e, “mas ele me faz tão bem quando estamos juntos".

Da última vez em que estiveram juntos não foi bem assim, como sempre ela que teve que chamá-lo para sair, se ela não chamasse ele para algo mais privativo, todas as fodas seriam no carro, na escada ou no banheiro. Enfim, depois de quase dois meses sem se verem, finalmente eles se encontraram no mesmo evento, talvez tenha sido planejado por ele, ou realmente um acaso do destino, de qualquer forma, lá estavam eles, algumas cadeiras de distância e os jogos começaram...olhares, risadas e brincadeiras, como ela adorava esse tipo de jogo, talvez fosse esse tipo de amor que ela realmente merecesse, nada além de jogos. No final, acabaram em um motel barato, a cama era horrível, redonda...eles discutiram quem teve a brilhante ideia de fazer uma cama redonda...transaram, ela fazia questão de falar o quanto gostava de estar com ele, o quanto queria poder estar mais vezes com ele...ela sempre se humilhou demais para tentar fazer ele gostar dela, tanto quanto ela gostava dele, isso nunca aconteceu.

 A vida dela terminou sem que ela conseguisse ser amada pela pessoa que ela amou por tanto tempo, que ela, a tal mulher empoderada e dona de si, se deixou enganar por um homem que sempre teve vergonha de assumir a relação que eles tinham, enquanto ela falava para as amigas que estava com o cara que ela gostava, ele falava para os amigos que estava com outros amigos no bar...na real, ele tinha vergonha de estar com ela, mas um sexo fácil assim, homem nenhum negaria.

 Talvez ela tenha morrido de tanta humilhação que passou, talvez foi o desgosto de não saber como é ter um amor correspondido... talvez ela só tenha se cansado da vida e fez um favor para todos enfiando uma bala na cabeça.